spoiler visualizarVanderson.Souza 03/09/2016
Vito grandam: Uma história de crescimento
Quando peguei esse livro na mão, pensei “Poxa. Vou rir a beça”, quando terminei, disse “Não acredito que o Ziraldo fez isso comigo”. Fui enganado, pois na época não fazia ideia que Ziraldo escrevia outras coisas.
Não. Ziraldo não é só “menino maluquinho” (Não é uma crítica. Também gosto), mas creio que Vito Grandam seja uma de suas melhores obras. A história e o modo de contar são muito simples e de fácil entendimento, além de ser recomendada pra qualquer um que queira limpar a mente com algo mais leve.
Tudo começa com um garoto de 17 anos preso em um buraco no meio da mata em busca de um pouco de sentido para a vida. Pouco a pouco ele vai revelando sua história e o porquê de ter chego lá. Para isso, retorna a sua infância com seu tio “Vito”, poucos anos mais velho.
Sob o ponto de vista do narrador, Vito é visto como uma espécie de herói. É o tio, pouco mais velho, mas que continua a seu lado mesmo podendo estar junto aos adultos. Tal admiração é vista em como ele o descreve nas cenas em que estão na “casa da vó”, em que Vito durante o dia fica com as crianças e a noite joga poker com os adultos.
Ainda ali, Vito salva a vida do sobrinho, que sem saber nadar, tenta se equiparar a ele pulando em uma piscina natural de um local onde somente os “adultos” podiam. Essa cena é uma das mais importantes de toda a história, pois é nela que, no final, prova o quanto ambos eram ligados e o quanto um era importante para o outro, mesmo que não lembrassem.
O tio está presente em quase toda a infância do garoto, pois sua mãe estava sempre correndo com Vito devido aos seus problemas de saúde. Mesmo assim, estão sempre atrás de “altas confusões”, como se embrenhar na mata e um deles sair de maca para o hospital ou se meter em brigas por uma namoradinha do tio, e que, se não fosse o bom senso, teria matado alguém, entre outros.
Em idas e vindas da memória, o narrador nos explica também sua história de filho de pais separados, de como foi acabar morando com o pai na Amazônia e como se apaixonou por Glória, sua professora de inglês. Por fim, seu pai é transferido para o Iraque e se vê obrigado a ir junto pois não queria voltar a morar com a mãe que estava namorando um técnico de basquete, motivo pelo qual o obrigava a praticar o esporte.
Creio que Ziraldo foi grande ao entrar na mente infantil com o “menino maluquinho”, mas sua interpretação dos sentimentos na adolescência vão além. Ele consegue retratar muito bem toda a gama de sentimentos que conseguem passar ao mesmo tempo pela cabeça de seu personagem nas mais diversas situações.
Pra entrar nesse mundo adolescente, nada melhor que uma decepção amorosa, e é o que o autor faz, trazendo de volta seu personagem ao Brasil após descobrir que sua ex professora agora ia se casar com seu pai.
Buscando um pouco de paz para o drama que todo adolescente sabe como fazer, vai atrás do tio que sempre fora seu companheiro, quando acaba descobrindo que ele sofreu um acidente de asa delta e o que deveria ser o fim de um drama, passa a se tornar o início de outro.
É onde nós o encontramos. Caído em um buraco no meio da floresta após sair em busca do Vito. Obviamente acaba sendo encontrado por um bombeiro e ambos vão atrás do Ícaro caído, claro.
O restante da história se passa na busca, encontro e salvamento de Vito e muito mais é revelado sobre a ligação tão grande entre eles. Pode-se dizer que essa é principalmente uma história sobre amizade e todos os seus detalhes. Ao meu ver, vale muito a pena e é uma forma simples e muito gostosa de se pensar sobre o modo como nos conduzimos hoje. O final do livro traz uma memória do narrador que nos faz repensar como realmente nos comportamos com aqueles que são importantes, sobre como, mesmo longe, alguém pode continuar nos levando além, nos inspirando a vencer nossos próprios desafios e deficiências.
É uma leitura muito simples, mas de grande representatividade. Mais uma vez, vale muito a pena.