Augusto 23/05/2022
Judas Coyne, Jude para os íntimos, é um excêntrico astro do rock já aposentado. Ex-viciado em cocaína, Coyne vive recluso em sua fazenda (desde a morte de seus dois companheiros de banda), colhendo os frutos de sua carreira de sucesso, frutos esses que não se limitam à sua fortuna, mas incluem a legião de fãs ávidas por conhecer o músico da maneira mais íntima possível.
Judas coleciona objetos macabros. Parte presentes de fãs, parte garimpados por ele na internet. Um hobby inofensivo... já que ele próprio parece não acreditar em nada da "baboseira ocultista" que ajudou a construir sua reputação.
Pelo menos até receber de seu agente a notícia de uma mulher "vendendo um fantasma." Ou melhor, o terno de seu falecido padrasto que, segundo o anúncio, estava assombrado.
Obviamente o astro nem pestaneja e efetua a compra, sem saber que estava voluntariamente trazendo o inferno para própria vida.
Acho que muito do sucesso de uma obra depende da capacidade do autor de despertar em seus leitores identificação e empatia por seus personagens. Quase invariavelmente nossos livros favoritos ocupam o posto porque, em maior ou menor grau, de maneira consciente ou não, nós nos identificamos com os personagens, com suas dores, suas conquistas, anseios, suas histórias, seu passado... o que gera a ligação nem sempre está muito claro, mas... algo nos "linka" e passamos a compartilhar as alegrias e as tristezas.
Acho que é exatamente nesse ponto que A Estrada da Noite derrapa. Pareceu-me impossível sentir qualquer empatia por um personagem que se recusa a chamar seus casos amorosos pelo nome próprio e os rebatiza de acordo com o nome do estado onde elas nasceram. Geórgia, Flórida, Tennessee, etc. E esse nem é o único aspecto desprezível na personalidade do protagonista.
Sim... Joe Hill se esforça para, aos poucos, nos apresentar o passado traumático de Jude e o personagem cresce e amadurece à medida em que a história avança, mas... isso demora muito a acontecer, toma toda a primeira metade do livro.
A Estrada da Noite é bem escrito, melhora consideravelmente do meio para o fim. Tem seus momentos inspirados, boa premissa e personagens interessantes, mas ficou aquém do que eu esperava.
3 de 5 estrelas.