Yasmin675 15/01/2021
Um livro incrivelmente inteligente e fantástico.
Já começo essa resenha lamentando por esse livro ser tão curto. Há poucas coisas que posso falar sobre ele sem entregar o plot e dar de bandeja acontecimentos da narrativa, mas vou me esforçar.
A primeira coisa que deve ser destacada é a abordagem da questão indígena no país. A autora utiliza o plano de fundo distópico e dá razões plausíveis que explicam todos os motivos que o governo se utiliza para resgatar as residential schools (utilizadas anteriormente como recursos de evangelização de crianças nativas no país) como ferramentas do governo que deveriam supostamente contribuir para a restauração da sociedade de forma a voltar ao que era antes dos desastres naturais e das doenças. A autora faz um balanço detalhado de como o mundo chegou a tal ponto e como isso acaba afetando as comunidades indígenas, de modo que tenham que fugir e se esconder do governo canadense.
Outro ponto que merece destaque é a forte presença da tradição oral de transmissão dos conhecimento. Em muitos momentos da história, as crianças se juntam no acampamento para ouvir os mais velhos e conhecer as tradições e histórias de seus antepassados.
Os personagens do livro são carismáticos e você consegue sentir empatia por suas histórias de vida e suas decisões. O elenco principal é composto (de forma majoritária) por crianças, e como (quase) pedagoga foi muito interessante enxergar o mundo através dos olhos de Frenchie e entender seu processo de amadurecimento precoce por conta das dificuldades.
Outra coisa que preciso destacar é a presença de gatilhos. É um livro que trata tudo de forma muito inteligente sem banalizar e nem romantizar nenhuma das situações, porém algumas coisas podem ser pesadas, fica aqui o aviso.
Acho que o final aberto dá uma margem pra reflexões interessantes e até mesmo uma possível sequência (já estou implorando a Cherie Dimaline para que escreva mais). Recomendo a leitura.