Mãe

Mãe Hugo Gonçalves
Hugo Gonçalves




Resenhas - Filho da mãe


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Tamires 24/10/2021

Mãe, de Hugo Gonçalves
Ninguém me contou diretamente mas, naquela manhã, quando eu ouvi os gritos depois de o telefone tocar, soube que a minha mãe havia partido. Lembro que saí correndo descalça. Na época, cheguei a pensar que saí correndo para dar a notícia ao meu pai. Mas na verdade foi um disparo, uma reação automática. Eu queria sentir o meu coração apanhando. Queria parar a vertigem. Queria ficar sozinha. Parei na porta de casa e fiquei uns minutos ali, olhando o portão. Se eu pudesse, teria continuado a correr. Iria para qualquer lugar, desde que pudesse ser longe o suficiente daquela realidade. Eu sabia: minha vida jamais seria a mesma. Nunca mais.

Acho que eu nunca tinha pensado com tantos detalhes no momento em que eu soube da morte da minha mãe até ler o relato do instante crucial vivido pelo escritor e jornalista Hugo Gonçalves em seu livro Mãe, da Companhia das Letras (2021).

“Com a exceção do nome da mãe, todos os outros foram alterados. Mas este é um relato verdadeiro, ainda que, na tentativa de fazer sentido, a nossa memória seja tantas vezes imaginação.”

Mãe é um romance autobiográfico profundo e belo. No início pensei que as páginas transbordariam “apenas” luto, mas empreendemos aqui uma viagem não só ao passado do autor, mas também a lugares e outros temas que atravessam a família dele. Hugo Gonçalves fez uma narrativa muito honesta, que cativa sem pedir piedade. Um fato curioso é que o livro já havia sido publicado pela Companhia das Letras com o título Filho da mãe (2019).

E por pensar que as páginas transbordariam “apenas” luto, quase não leio este livro. É interessante essa coisa do luto, o incômodo que esse tema gera. Talvez seja assim porque geralmente a gente engole a perda ao invés de vivê-la. Porque a vida segue, e as pessoas têm pressa. Você precisa estar bem para não incomodar. Hoje você tira uma folga ou mata aula na escola. Amanhã a vida tem que continuar. E você, parar de chorar.

No começo fui lendo e traçando paralelos com a minha vida, foi inevitável: a mãe dele chamava-se Rosa Maria. A minha, Lilia Rosa. A dele partiu em 13 de março de 1985. A minha, em 18 de junho de 2006. Ele era um menino cursando a escola primária. Eu, uma jovem de 16 anos. Ele de Portugal, eu, daqui do Brasil. Ele empreendeu essa viagem de volta ao passado algumas décadas após a morte da mãe. Eu, fazendo terapia 15 anos depois (…)

“O que faz, afinal, um filho pela sua mãe? (…) Estar aqui é reconhecer o que não tem conserto. Os cemitérios só servem para nos recordar que os mortos estão mortos e a falta que nos fazem. (…) Quando penso na nossa ausência, nos milhares de dias em que ninguém esteve aqui, falando com a fotografia na campa, mudando as flores e limpando a pedra, percebo que esses são também os milhares de dias em que ela não esteve viva.” (p. 177, 178)

Mas Mãe é uma leitura que você pode e deve fazer apesar do tema principal, isso se você acha que o luto é um assunto desconfortável. Todos nós, tenhamos vivido este tipo de perda ou não, temos algo herdado do nosso passado. Somos o que somos hoje porque antes alguma coisa aconteceu e nos direcionou para onde estamos. E ainda que este livro não cumpra esse papel de autorreflexão, ou do exercício de olhar com mais empatia para o outro (porque não precisa, e a escolha é sempre do leitor), você terá um romance de prosa limpa e envolvente, uma ótima leitura. Valerá cada palavra.

site: https://www.literaturablog.com/resenha-mae-de-hugo-goncalves/
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@oikrystyan 30/06/2023

Talvez a leitura mais difícil da minha vida
Um filho perde sua mãe aos 8 anos de idade e volta 32 depois para tentar reconstituir a memória da mãe que se esvaiu com o tempo. Nunca antes foi tão difícil manter uma leitura pra mim.
A escrita de Hugo Gonçalves é fluida, rítmica e bem desenhada, certamente eu buscarei outros livros do autor, mas eu sangrei mais do que acreditava ser possível lendo esse livro, que provavelmente eu nunca teria comprado, nem lido, se não fosse obrigatório do meu curso!
Agradeço muito pela indicação da minha professora, às vezes, é importante fazermos aquilo que nossa vontade não quer: assim conheci um belo texto, um belo autor e revisitei partes do meu luto que eu não havia me permitido viver.
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Biblioteca Álvaro Guerra 27/06/2023

Trata-se de uma investigação pessoal, feita por meio da escrita, sobre os efeitos de tal perda na identidade e no caráter. É um relato biográfico tão nítido quanto universal, sobre afeto, as origens, a família e as dores de crescimento, quando já atravessamos o arco da existência em que deixamos de pensar apenas no futuro e nos vemos obrigados a enfrentar o passado.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786559210855
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Felipe770 09/11/2021

Razoável. Em algumas partes é bastante tocante, mas em outras divaga demais sobre a família mais distante. Porém, ao entrar a fundo no assunto da morte da mãe, mostra talento ao descrever sentimentos complexos (e falo como alguém que perdeu a mãe cedo). Bonito, mas achei menos cativante do que o assunto sugere.
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Ines53 05/03/2023

Impactante.

capaz de mexer com qualquer pessoa e de colocar tudo em perspetiva. impossível não chorar
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Agata.Cristina 08/03/2023

Arrebatador
Excelente texto do brilhante Hugo Gonçalves. Trata-se do romance de uma geração que está tentando revisitar memórias, eternizar lembranças, ressignificar vivências. Mais do que sobre a mãe, esta é uma história sobre autoconhecimento.
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