César Augusto 25/03/2023
Trágico
Em fevereiro de 1974, o edifício Joelma, na capital paulista, foi atingido por um incêndio que deixou quase 200 mortos e centenas de pessoas feridas. A tragédia foi cercada de várias histórias sobrenaturais, que são exploradas nos quatro contos desse livro, criados por escritores brasileiros do gênero terror. O primeiro, "Os mortos não perdoam", de Marcos DeBrito, trata de um triplo homicidio em 1948 no local onde o Joelma seria erguido anos depois (na realidade, o predio foi construído nas proximidades), quando Pablo Camargo mata a própria mãe e duas irmãs opressoras, escondendo os cadáveres em um poço e tentando encobrir o crime. A trama do segundo conto, "Nos deixem queimar", de Rodrigo de Oliveira, acontece durante o incêndio do edifício e envolve Samara, mulher que denuncia o colega de trabalho por pedofilia, iniciando uma série de acontecimentos sinistros que acabam por provocar a tragédia. O seguinte, "Os treze", de Marcus Barcelos, o meu preferido, traz a triste história de Amilton, que trabalha como coveiro no cemitério São Pedro, para onde são levados os restos de 13 vítimas do incêndio no Joelma que nunca foram identificadas, testemunhando diversos fatos sobrenaturais. O último, "O homem na escada", de Victor Bonini, se passa nos dias atuais, onde o Joelma é um prédio invadido por famílias sem teto e onde Solange vive com a filha Eugênia, grávida do companheiro violento, fato que desencadeia uma série de acontecimentos macabros em que uma entidade passa a perseguir a idosa, provocando uma catástrofe. A criatividade dos autores mostra o quanto a tragédia do Joelma gera tantas especulações de natureza sobrenatural até os dias de hoje. Um livro muito gostoso (e assustador) de ler.