A festa do Bode

A festa do Bode Mario Vargas Llosa




Resenhas - A Festa do Bode


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Matheus Redig 03/04/2024

Romance histórico com múltiplos pontos de vista
?A Festa do Bode? narra em linhas temporais distintas os acontecimentos em torno do assassinato de Rafael Trujillo, ditador da República Dominicana que governou o país de 1930 a 1961.

Para além da evocação histórica e do libelo político, destaco nesta obra o multiperspectivismo, técnica ficcional que Llosa domina feito poucos. Cada capítulo é governado pelo ponto de vista de um personagem (a filha de um político trujillista, um dos assassinos, o próprio Trujillo, o capanga torturador de Trujillo etc), e às vezes de dois ou três.

Arte é a forma conjugada ao conteúdo, é o estilo que se liga ao tema, de modo que pareçam indissociáveis, ?nascidos um para o outro?, substâncias da mesma carne. Dessa maneira, a vigilância e a violência nos tempos de Trujillo são magistralmente revelados por esse entrelaçamento de olhares que Llosa desenvolve com uma objetividade plástica, ao modo flaubertiano.

Lanço mão do clichê: é preciso ?ter estômago? para as cenas de torturas bastante gráficas. Todavia, longe de ser apelativo ou gratuito, o terror que a obra nos traz deriva da ilusão de autonomia e de necessidade que as grandes criações ficcionais proporcionam ao leitor maduro. (Cf. Poética do velho Aristóteles, mestre de todos nós).

Talvez alguns se incomodem com a falta de fidelidade histórica em certas caracterizações ou com a violência inescrupulosa em certas cenas. Enganam-se, no entanto, por focar em elementos que são apenas instrumentais. Pois o coração do livro é a genuinidade do mundo que Llosa criou, um mundo cheio de medo, sangue e esperança.
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Guilherme Amin 15/02/2024

O equivalente literário de uma sinfonia
?A festa do Bode?, um dos romances mais sofisticados de Mario Vargas Llosa, entrelaça três histórias em tempos e lugares diferentes, umas reais e outras fictícias, para recriar a República Dominicana do turbulento ano de 1961, quando o assassinato do tirânico, bestial ditador Rafael Trujillo mudou para sempre a história do país caribenho.

O autor, vencedor do Nobel de literatura, sabe que o êxito de seu romance, como o de qualquer outro, depende da densidade de seus personagens, e a isso se dedica à perfeição, mas vai além: aprimora a narrativa com dinamismo, entremeando-a com algumas passagens espetaculares. A reconstituição do atentado ao ditador, com ares cinematográficos, foi um dos feitos mais extraordinários que já li.

Conhecido amante de música clássica, Vargas Llosa segue aqui o mesmo princípio do compositor Gustav Mahler (1860-1911), para quem uma sinfonia ?deve ser como o mundo, deve conter tudo.? ?A festa do Bode? é um equivalente literário dessa ideia, um livro em que o refinamento da prosa e a vasta pesquisa histórica do escritor culminam num complexo trabalho civilizatório, que em mim despertou gratidão por viver num país democrático.
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Thali 01/01/2024

Uma viagem pela ditadura na República Dominicana. Trata-se da história de um período da ditadura de Trujillo. É muito bom, muito bem narrado, nem um pouco cansativo. Há passagens extremamente pesadas.
O monte de nomes me cansou um pouco e eu demorei pra firmar nesse livro, mas gostei muito.
Para quem gosta de livros que misturam ficção e fatos históricos, super recomendo.
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Literathatha 15/10/2023

Impactante
Da metade pro final do livro, não queria parar. Aquela história, que você sabe que é real, que aconteceu de fato, apesar da crueldade e do terror, não te deixa. Mesmo quando parava de ler, eu ainda ficava pensando. O livro passa a te acompanhar na sua rotina. Importante dizer que parte da narração é feita por Urania, uma personagem fictícia. Mas a ditadura, Trujillo, os assassinatos e torturas, além dos demais personagens fora do núcleo da Urania, existiram. Para ser honesta, no entanto, não posso dizer que o livro me prendeu desde o início. Fiquei angustiada com a descrição mega detalhada de alguns fatos, porque queria saber o que vinha pela frente. Mas estamos falando de uma obra prima. Recomendadíssimo com a ressalva de que, pra mim, não foi uma leitura sempre fluida. Por vezes me arrastei um pouco. Ainda assim, recomendo!
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Valéria Cristina 27/09/2023

Um dos melhores do ano
Em um de seus livros mais importantes, Vargas Llosa retrata os últimos meses da Era Trujillo, ditadura imposta durante 31 anos à República Dominicana.

Quando Urania, depois de 35 anos, retorna ao país para revê-lo e acertar as contas com o passado, começamos a adentrar em mundo de violência, crimes, privilégios, medo e terror.

Alternando o tempo, o autor, demonstrando uma minuciosa pesquisa histórica e mesclando elementos de ficção, nos conduz para o centro dos acontecimentos que marcaram esse período da história da América Latina. Os meandros do poder nessa ditadura que não poupou amigos e inimigos, os jogos psicológicos, as articulações políticas internas e externas, os embargos econômicos, os principais colaboradores, tudo nos é revelado.

A personalidade de Rafael Trujillo, seus usos e abusos, como ele manteve o país sob a ação de sua vontade pessoal por três décadas, a mescla indiscriminada entre o público e o privado e, finalmente, os meandros do golpe que culminou com sua queda, tudo nos é mostrado nesse livro que reputo um dos melhores que li nesse ano.

A Festa do Bode também reconta acontecimentos marcantes: a morte das irmãs Mirabel, o massacre de haitianos em 1937 são dois deles. No fim, o destino dos responsáveis pela ação que depôs Trujillo também faz parte desse relato histórico e emocionante.

Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, 1º Marquês de Vargas Llosa (Arequipa, 28 de março de 1936) é um escritor, político, jornalista, ensaísta e professor universitário peruano. Vargas Llosa é um dos romancistas e ensaístas mais importantes da América Latina e um dos principais escritores de sua geração. Alguns críticos consideram que ele teve um impacto internacional e uma audiência mundial maior do que qualquer outro escritor do boom latino-americano.
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Marcos606 23/09/2023

O romance realista recria os últimos dias do ditador dominicano Rafael Leonidas Trujillo, que teve poder absoluto em seu país entre 1930 e 1961.

A construção do texto é sustentada por três planos narrativos simultâneos. A primeira corresponde à história de Urania, filha do senador Agustín Cabral, que após 35 anos retorna à República Dominicana para se reencontrar com seu pai paraplégico e seu tempestuoso passado adolescente.

A história de Urânia começa e termina a obra, no mesmo espaço, o Hotel Jaraguá. Esta personagem é, sem dúvida, o eixo principal da narrativa que nos dá uma perspectiva histórica do passado da República Dominicana e também da sua história contemporânea. Esta voz feminina também nos é revelada como um símbolo do que eram as mulheres durante a ditadura de Trujillo. É um personagem que resiste à submissão do machismo caribenho, levado ao extremo por “Chivo”, apelido de Trujillo. Para o ditador, o sexo era um símbolo de poder, de sua virilidade; então a mulher era um objeto disponível. Os pais entregavam as filhas ao Benfeitor da Pátria, que também humilhava os seus colaboradores dormindo com as suas esposas. Urânia foi vítima deste abuso de poder.

A segunda linha de desenvolvimento do romance é a reconstrução da longa espera dos conspiradores em uma estrada nos arredores de Ciudad Trujillo, nome imposto pelo ditador à antiga Santo Domingo. Os capítulos desta linha da história descrevem as circunstâncias fortuitas do encontro e os vínculos que os conspiradores estabelecem para chegar à conclusão de que o assassinato de Trujillo é a única saída para resgatar o país do estado de medo e corrupção em que se encontra.

A terceira narrativa instala-se na própria voz e consciência do ditador dominicano e na relação ambígua que estabelece com os seus colaboradores mais próximos, entre eles, o chefe do temido Serviço de Inteligência Militar (SIM) Johnny Abbes; o senador Henry Chirinos, o presidente “fantoche” Joaquín Balaguer, entre outros.

A obra questiona sobre o poder, sobre os limites até onde um homem que acumula forças incontroláveis ​​e uma sociedade que o permitiu pode alcançá-lo. Isso, entrelaçando ficção, política e memória.
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Regina 26/03/2023

Muito bom
Um livro muito bom. Baseado na história. Eu escrita densa e leitura também. Para ser lido aos poucos. Recomendo muito a leitura
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Lucas 30/01/2023

Jornalístico, ficcional, histórico e visceral: a República Dominicana como síntese de toda a América Latina
Como um país com área equivalente a cerca de metade do Estado de Santa Catarina, menos de dez milhões de habitantes, incrustada na ilha de Hispaniola junto com o Haiti no Caribe pode servir como pano de fundo de um dos melhores livros de um vencedor do Prêmio Nobel de literatura? Tirando o fato de ter sido escrito pelo peruano Mario Vargas Llosa (1936-), o leitor mais desavisado poderia inicialmente desconfiar de um livro com essa proposta.

Mas essa desconfiança virará pó rapidamente. Basta que o leitor leia algumas dezenas de páginas de A Festa do Bode (2000), ambientado na República Dominicana e tendo como escopo a ditadura de Rafael Leónidas Trujillo Molina (1891-1961). Usando sua origem jornalística e misturando isso a uma inigualável capacidade narrativa, Llosa (vencedor do Prêmio Nobel de literatura em 2010, um dos seis latino-americanos laureados com o prêmio e o único ainda vivo) constrói um livro que descreve uma história real com pontuais elementos ficcionais.

A ficção recai sobre Urania Cabral, protagonista feminina da obra e filha de Agustín Cabral, ex-senador e ex-ministro de Trujillo. Urania, que abarca consigo o primeiro dos três núcleos narrativos do livro, está voltando à República Dominicana por volta do ano de 1996, trinta e cinco anos depois da queda do ditador. Agora uma mulher de 49 anos, dona de uma carreira profissional de sucesso, ela regressa ao seu país carregada de amargura e ressentimento. Ao visitar seu pai, inválido e acamado, ela destila um ódio incomum, mas que aos poucos vai se mostrando justificável.

Obviamente que tais justificativas são derivadas da ditadura de Trujillo e é para lá que Mario Vargas Llosa nos leva nos núcleos seguintes. Primeiramente, o narrador "acompanha" o ditador em mais um dia de trabalho: na verdade, o derradeiro dia de sua vida, o histórico 30 de maio de 1961. Neste sentido, Trujillo encontra-se com vários personagens reais, como o chefe do Sistema de Informações Militares, coronel Johnny Abbes García (1924-1966 ou 1967), sádico comandante do sistema de repressão do regime; o "presidente fantoche" Joaquín Balaguer (1906-2002), discreto e manipulado por Trujillo; e o senador Henry Chirinos, conhecido como "Imundície Humana" ou "Constitucionalista Bêbado", caricato e grande orador. Através de diálogos com estes e outros personagens, o leitor conhece a personalidade do "Chefe" ou "Benfeitor" ou "Generalíssimo" Rafael Trujillo, sua animosidade e comportamento selvagem e inescrupuloso. Até então um aliado de primeira hora dos Estados Unidos na região do Caribe (especialmente em função do seu ódio aos comunistas, diga-se aos cubanos, que tinham acabado de instaurar um regime de esquerda), a força e amparo político de Trujillo no livro já são coisas do passado. Naquele momento, ele enfrentava sérias crises de apoio em função de várias temeridades por ele cometidas, como o brutal e oficialmente inexplicável assassinato das três irmãs Mirabal em 1960, as quais eram oposicionistas do regime. Estes e muitos outros eventos anteriores são comentados nos desdobramentos desse núcleo do ditador: a República Dominicana é um país com uma história brutal.

Em contraposição a Trujillo, há o terceiro núcleo narrativo: o dos revoltosos, que arquitetaram o assassinato do algoz ditador na supracitada data. Neste contexto, o autor nos leva para dentro de um dos carros que serviriam para eles assassinarem Trujillo numa emboscada. Basicamente são quatro os personagens principais: Amado "Amadito" García Guerrero, Salvador "Turco" Estrella Sandhalá, Antonio Imbert e Antonio De La Maza, todos eles descritos isoladamente, inclusive no que tange aos motivos individuais para aderirem a este movimento. Aqui, vale um adendo que se mostrou útil a quem não sabia muita coisa dos desdobramentos dessa execução, como este que escreve: é sensato que o leitor não procure saber o que houve após o assassinato, pois isso pode afetar o encanto que a descrição de Llosa causa.

Até mais ou menos o capítulo 12 (o livro possui 24 capítulos), a divisão é muito clara entre eles, seguindo a sequência Urania – Trujillo – revoltosos. Depois, essa simetria se perde e o livro fica (ainda) mais cinematográfico. Não é segredo para ninguém a morte do ditador, mas a República Dominicana entra em ebulição: intrigas políticas, sevícias, desdobramentos, etc., é tudo construído a partir de um narrador intenso, capaz de misturar crueza e poesia num simples parágrafo. É lúdico, incrível e fragmentado (este um dos traços característicos de Llosa), sem ser confuso ou abalar o ritmo.

Este núcleo dos revoltosos, apesar de não receber o foco de protagonismo do livro (este cabe à Urania Cabral e seus conflitos não resolvidos), é o mais significativo d'A Festa do Bode, pois deslinda praticamente todos os predicados de uma ditadura. Historicamente falando, há uma tendência quase generalizada de se tratar o regime de Rafael Trujillo na República Dominicana como um compêndio preciso das muitas experiências similares implantadas na América Central e América do Sul ao longo de todo o século XX. As torturas, as perseguições, as censuras, os processos judiciais capengas, as prisões políticas, a influência da comunidade internacional (diga-se dos Estados Unidos e sua volatilidade em relação ao regime totalitário de acordo com interesses próprios), eleições fraudadas, um canhestro culto à personalidade de algum herói supremo... Tudo isso e muito mais ocorreu na República Dominicana, mas também se viu em pelo menos uma dúzia de latino-americanos praticamente no mesmo período. A diferença é que os dominicanos vivenciaram isso tudo num outro patamar: até mesmo o mais informado leitor sobre ditaduras e seus modus operandi ficará chocado com o nível de radicalização do trujillismo.

Além dessa questão histórica, o livro frisa a política como ciência fascinante, apesar dos inegáveis fins difusos pelas quais ela se sustenta. Uma faceta em especial é a relação de indivíduos com oportunidades: a ocasião não necessariamente faz o ladrão, mas é a alavanca capaz de impulsionar tipos então comuns a posições de destaque dentro de uma nova hierarquia. Ser político é dominar a arte da espera, mas em A Festa do Bode, se reforça a capacidade de ação quando a hora chega. Nestes momentos, a inteligência fina, a discrição, a capacidade argumentativa podem ser armas mais poderosas que tanques ou dedos em riste. É intelectualmente admirável, mas moralmente execrável, como nós brasileiros bem sabemos.

Na esfera histórica e social, a leitura torna nítida ao leitor não só os aspectos "presentes" de um regime ditatorial, marcados pela opressão e corrupção generalizada, mas também o "depois": os reflexos de um regime autoritário, e no caso dos dominicanos isso é ainda mais acentuado dada a influência que Trujillo tinha, são capazes de reverberar por muitos e muitos anos depois da sua queda. Seres humanos destruídos e traumatizados normalmente são o maior legado das ditaduras sangrentas. Cobertas pelo véu de um discurso nacionalista e de defesa de interesses pátrios, atrocidades inomináveis são e foram cometidas. Defender a democracia, nesse caso e apesar de todos os seus problemas, não é simplesmente concordar com o direito a voto, mas sim proteger a sociedade destes danos, garantindo com que o futuro seja mais harmonioso e inclusivo.

Tais atrocidades aqui podem ser vistas na ficção, que se restringe à Urania Cabral e familiares, onde Vargas Llosa tampouco deixa a desejar. Por mais que certos detalhes não possam ser ditos, é angustiante acompanhar a história desta personagem, através de monólogos e diálogos que misturam passado e presente. Seus traumas aparentemente se mostram originários de facetas imaturas de sua personalidade, esnobismos de uma pessoa que venceu na vida e renega sua origem. Mas aos poucos sua figura vai sendo avaliada mais de perto e com a lupa narrativa do autor vemos que as cicatrizes de Urania são extremamente profundas... Tão profundas que o leitor poderá sentir-se com remorso por ter lhe ocorrido percepções tão primárias acerca de tanto dano. Urania Cabral, apesar de ser construída com o claro propósito de protagonizar A Festa do Bode, não é uma mulher inesquecível, uma heroína com ideais populares, capaz de aglutinar outros personagens em função do seu encanto. Mas ela é o maior símbolo do que Llosa parece ter desejado com a obra: mostrar os efeitos óbvios, individuais e ocultos de um regime ditatorial, que não se cansa de agir como numa distopia para operar e influenciar quem quer que seja.

Tudo isso está contido na "festa" do "bode" do título: ficção, história real, jornalismo e até traços distópicos. Sob qualquer uma destas vertentes, a história de Trujillo e seu domínio nefasto na República Dominicana concebeu, através das mãos de um gênio chamado Mario Vargas Llosa um livro notável, com uma grande capacidade de reflexão, entretenimento e informação histórica: sem o encantamento mágico e fantástico que tão bem caracteriza essa literatura, A Festa do Bode é uma das melhores obras latino-americanas do século XXI.
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Eric 06/01/2023

História de horror da vida real
Durante 31 anos, a República Dominicana foi marcada por uma violenta ditadura que dizimou milhares de pessoas. O tirânico, Rafael Leônidas Trujillo, protagonizou um governo sanguinário de muita celebração a sua imagem, nacionalismo extremo, xenofobia, política anticomunista que foram responsáveis por inúmeros desaparecimentos, assassinatos, torturas, estupros e chacinas.

Neste romance histórico, Mario Varga Llosa reconstrói esse cenário da República Dominicana, misturando ficção e realidade, para nos contar os momentos finais da vida do ditador, o qual morreu assassinado em uma estrada por militantes do Movimento 14 Junho. Em paralelo, também conhecemos a história dos homens que planejaram o atentado e todos os motivos e dores que os levaram ao tiranicídio e também a história de Urania, filha de um importante senador trujillista, a qual possui uma relação de ódio muito forte com pai e seu país.

Em capítulos alternados, ambas as histórias vão mostrando momentos diferentes do regime, mas no final elas se entrelaçam primorosamente e revelam as mais inimagináveis dores e violências que uma ditadura pode causar a um país.

O trabalho de Llosa nesse livro é espetacular, apesar de ter suas doses de ficção, o autor preservou muito da realidade nesse texto, trouxe momentos importantes como a brutal chacina à população haitiana em 1937, o qual dizimou 30.000 pessoas, o assassinato das irmãs Mirabal e também o sequestro do opositor ao regime Jesus Galindez nos Estados Unidos

O EUA foi fundamental para promoção do trujillismo, já que o ditador era um anticomunista e não deixaria o comunismo assolasse seu país. Mas, a violência no regime ficou tão intensa que era impossível continuar financiando aquele governo, o rompimento com seu maior aliado e as sanções internacionais impostas permitiram que as rédeas do regime fossem soltas e os assassinatos e torturas de opositores ganharam escalas homéricas.

Johnny Abbes, um psicopata da pior espécie, chefe da inteligência, possui uma mente maquiavélica para orquestrar assassinatos e manchar a reputação de qualquer um. Além de promover diversas mortes nos famosos centros de torturas, La Cuarenta e La Victoria, Abbes também controlava uma vasta rede de espionagem no exterior, os quais localizavam exilados e sequestravam para desaparecerem na República Dominicana

A recriação do atentado a Trujillo é um dos maiores feitos que já li, Llosa não só recria a cena de forma cinematográfica, mas também revela as dores dos envolvidos diante a tanta barbaridade, alguns por vingança, outros por revolta. Após o atentado, uma caçada aos envolvidos, liderada por Ramfis Trujillo, filho do ditador, proporcionou um banho de sangue em da República Dominicana e cenas de torturas tenebrosas registram essa triste passagem na obra.

Esse é o tipo de livro que nos fazem agradecer imensamente por viver numa democracia. Não só é um registro da história ou resgate de memórias, mas sim livro que revela toda a dor e sofrimento que regime tirânico traz para uma sociedade.
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Marcos 13/11/2022

Trujillo: um homem com o ego maior que o seu país
O livro de Llosa conta a história da República Dominicana durante a era ditatorial de Roberto Trujillio, que durou 31 anos (1930-1961). A escrita segue três linhas diferentes que vão se alternando a cada capítulo, e acabam por revelar absurdos ocorridos durante a ditadura, e também nos mostra como ocorreu a derrocada de Trujillo.
A primeira linha é a de Urania Cabral, filha de Agustín Cabral (um dos integrantes da ditatura) e se passa no inicio dos anos 90, mais de 30 anos depois do fim da ditadura. Urania vive nos Estados Unidos e, como era criança durante o período ditatorial, tem o costume de ler todos os livros e arquivos que contam sobre essa época, buscando entender melhor esse período. Urania resolve visitar a República Dominicana, pois sentia que tinha assuntos inacabados com seu pai e também com as irmãs de seu pai. A partir dos relatos que Urania conta tanto ao seu pai como às suas tias, ficamos sabendo as barbáries cometidas e, inclusive, o motivo do titulo do livro.
A segunda narrativa é do próprio ditador Trujillo. Nela estamos dentro da cabeça do ditador e descobrimos a forma como ele pensa, e os motivos (que na verdade não são nada justificáveis) pelo qual ele toma suas decisões. O seu ego tem um peso fortíssimo na tomada das decisões, em sua grande maioria das vezes. Tudo é feito para que ele tenha a certeza de que sua "masculinidade", sua soberania, e sua grandiosidade sejam reafirmadas. Na verdade me parece que ele tem uma necessidade recorrente de autoafirmação.
O terceiro e último arco fala sobre os conspiradores e os motivos pelo qual armaram a emboscada para que Trujillo caísse. Os conspiradores eram, em sua maioria, pessoas que colaboravam com Trujillo, e que, por conta de alguma punição de Trujillo com algum de seus conhecidos, se rebelaram e justificaram sua conspiração.

Nunca havia lido nada parecido, e se tornou o melhor livro que li no ano. Parece que descobri um novo gênero.
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Danielle.Oliveira 05/09/2022

Surpreendente e intenso
Um livro surpreendente e intenso. No começo, não imaginamos como as histórias se interligam, depois as peças do quebra cabeça vão sendo conectadas.

A quantidade de personagens confunde às vezes, mas com a leitura vamos pegando os detalhes que unem os conspiradores. Os detalhes, cenas, histórias dos tempos do governo autoritário de Trujillo estão presentes do primeiro ao último capítulo.

O Trujillo... Cruzes. A gente vai lendo e o
estômago revira de imaginar alguém como ele, assim como seus aliados sanguinários. Uma história de dor na República Dominicana. O livro gera curiosidade e uma vontade de conhecer as histórias daquele país, até porque o livro envolve ficção.

A história da Urania é uma história extremamente triste e enquanto ela relata sua experiência com o bode senti cada cena descrita por ela.

A forma como o autor desenvolve o enredo, mostrando a versão de cada personagem, foi incrível!!! Leria novamente e indico de olhos fechados!!!
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Mário 15/08/2022

Envolvente
Uma vez que o leitor tem a satisfação de ler Llosa o grau de exigência literária automaticamente passa para um nível superior tamanha a capacidade descritiva, erudita e envolvente de sua prosa.
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Vinder 30/07/2022

Excelente. Romance histórico fenomenal sobre a ditadura de Trujillo, na República Dominicana. Vargas Llosa mistura ficção e fatos históricos de forma brilhante.
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