Izabella.BaldoAno 26/03/2024
"fiquei querendo que livros fossem igual sanfona. que tudo que eu escrevesse ficasse sanfonando na calçada pras pessoas ouvirem, em vez de lerem, já que ninguém sai lendo muito por aí. daí as páginas abriam e fechavam no meu braço e as palavras iam saindo e se eu escrevesse muito muito bem igual o Leonardo toca, as pessoas acabariam dançando."
ler as histórias de Mariana Carrara parece ser sempre uma experiência de lidar com a surpresa: você pode estar entrando na perspectiva de uma mulher idosa que perdeu a memória ou, num caso como o de Se deus me chamar não vou, acompanhando uma menina de 11 anos escrever um livro. uma das habilidades dela reside em te convencer de que você está de fato entrando na perspectiva de uma mulher idosa que perdeu a memória ou acompanhando uma menina de 11 anos escrever um livro.
aqui, acompanhamos Maria Carmem que, querendo um dia se tornar escritora, resolve dar início à carreira escrevendo um livro sobre o ano mais movimentado, até então, de sua vida. com muita honestidade, ela relata no livro em construção diversos dos dilemas que vive, neste limbo entre a infância e a adolescência, bem como suas descobertas, o bullying que sofre na escola, a relação com seus pais que, muito jovens, também enfrentam eles mesmos muitas questões e, no centro da história, nos conta tudo que é possível sobre a "loja de velhos" herdada pelos seus pais de sua falecida avó e as mais inesperadas situações que nascem atrás do balcão dessa loja.
as sacadas da autora são fantásticas: a história, por exemplo, começa com uma carta de Maria Carmem ao Homem Aranha, na qual reflete sobre qual animal gostaria que a atacasse para se tornar ela mesma uma heroína. o arco é surpreendente e as saídas de Maria Carmem pra lidar com as situações são trágicas e cômicas, criativas e fantásticas.
que livro gostoso de ler. que personagem maravilhosa. que escrita maravilhosa.
"será que eu vaga-lume pisca de dor? se eu pudesse brilhar de dor eu seria um escândalo."