Dudu Menezes 04/01/2021
Vai mexer com os teus sentimentos, mas requer paciência
Pesado! Não só no número de páginas (mais de quinhentas), mas nas "confissões, sonhadas, da inutilidade de sonhar". A narrativa é diferente de tudo que eu já tinha lido. O livro é escrito pelo empregado do comércio, Bernardo Soares, semi-heterônimo de Fernando Pessoa, que, segundo o próprio Pessoa, em muitos aspectos se parece com Álvaro de Campos.
Esse é um livro para realmente causar desassossego. O desassossego das palavras, que me fez buscar o significado de dezenas delas, em seus devidos contextos, já que foi escrito em um intervalo de 20 anos, perpassando diversas transformações políticas e literárias em Portugal. O desassossego das opiniões sociais, muitas das quais discordei e me indignei em relação ao individualismo, à prepotência e à arrogância de Soares; outras que me fizeram repensar as minhas próprias opiniões e atitudes, e ainda, uma imensa maioria de reflexões necessárias sobre a vida e a morte.
É um livro que mexe com todo tipo de sentimento. Leva ao choro, ao riso, ao cansaço, à indignação, à concordância, à discordância, à empatia, à consternação... Esse vai ficar aqui, ao lado, na minha mesa, para que seja aberto ao acaso, frequentemente, permitindo que eu retome o maior desassossego que ele me causou: a sensação de que eu estava diante do narrador e que ele conversava comigo, olho no olho, dando a real do que ele pensa do mundo em que ele viveu - um mundo assustadoramente parecido com o nosso, tanto o interior quanto o exterior. Se vale mais uma dica: leiam!