Luiza Helena (@balaiodebabados) 19/04/2021Originalmente postada em https://www.balaiodebabados.com.br/Finalizado Despertar, logo iniciei Ritos de Passagem. Nessa sequência, os humanos e Oankali estão de volta ao planeta Terra a fim de reabilitar o planeta. O protagonista dessa continuação é Akin, um dos filhos de Lilith e o primeiro constructo (nome dado aos nascidos com genes humanos e Oankali) do sexo masculino. Ao ser sequestrado por rebeldes (humanos que se recusam a se associar e procriar com os Oankali), ele vivencia um outro lado da vida na Terra e que mudará por completo sua opinião pelos seus povos.
Por mais que Despertar continue sendo meu favorito até agora (Imago corre grandes chances de tomar esse posto pelo que li da sinopse), Ritos de Passagem também tem seu destaque. Se no primeiro livro se destaca a falta de empatia e frieza da raça alienígena, nesse livro Octavia destaca os limites da moralidade do ser humano.
Desde o livro anterior já sabemos que as mulheres humanas só podem engravidar se estiverem relacionadas aos ooloi (gênero neutro dos Oankali que são responsáveis pela procriação). Os rebeldes se recusaram a isso e assim eles formaram comunidades entre os seus, mas sem poder ter filhos. E por isso eles são conhecidos por roubarem e comprarem (!!!) crianças e mulheres humanas sequestradas de comunidades híbridas. Além da questão de tráfico de pessoas e escravização, Octavia também aborda a questão da xenofobia e preconceito, visto que as crianças que remotamente lembram os Oankali são vítimas de várias ameaças e maus tratos.
Por ser híbrido de humano e Oankali, Akin é um personagem empático às duas raças assim como conflituoso justamente por pertencer aos dois povos. A partir de sua vivência com os rebeldes, ele verá um outro lado da humanidade; um lado que se ressente dos seus "salvadores" e sua autoridade em pensar que sabem o que é melhor para a humanidade. Desde o primeiro livro fica claro que essa interferência tira o livre arbítrio dos humanos.
É bem revoltante ver os humanos de novo se voltando à violência (fato que fez foi a causa da destruição da Terra em primeiro lugar), mas também descobrimos que essa violência é fruto da frustração, medo, desilusão e desesperança desses rebeldes. Afinal, pra que despertarem e voltarem a Terra se serão impedidos de procriar por vontade própria? De que adianta construir uma nova vida se você não vai ter ninguém para poder se preocupar em fazer um bom futuro?
Essa trilogia me fez ver o quanto Octavia era uma mulher visionária e já discutia assuntos importantes. A primeira edição desse livro foi lançada em 1988 e já se discutia sobre identidade de gênero. Já sabemos que ooloi são de um gênero neutro (nem masculino nem feminino) desde o livro anterior. Aqui temos um personagem em destaque que, devido as suas condições de nascimento (não entrarei em mais detalhes por motivos de spoiler) terá de escolher qual será seu sexo após sua metamorfose (uma espécie de puberdade).
Em Ritos de Passagem, temos algumas respostas também sobre os planos que os Oankali tem para os humanos. Muito claramente que eles não iriam salvar toda uma raça para apenas ficarem de volta na Terra. Na reta final do livro temos uma esperança de uma nova ambientação e espero que isso aconteça em Imago.
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