Carol 09/01/2024Impressões da CarolLivro: Uma casa de bonecas {1879}
Autor: Henrik Ibsen {Noruega, 1828-1906}
Tradução: Leonardo Pinto Silva
Editora: Moinhos
120p.
Já havia lido "Espectros", "Hedda Gabler", "Solness, o construtor" e "Um inimigo do povo" - creio que a mais conhecida das peças de Henrik Ibsen. Como costumo fazer com autores de que gosto muito, vinha adiando a leitura de "Uma casa de bonecas", com pena de não ter mais um inédito dele pra ler. Manias de uma leitora pinel. Mas a Luciana Lachance propôs uma leitura conjunta e eu topei :)
Gosto de imaginar um espectador norueguês, em fins do século XIX, indo ao teatro e assistindo a não só uma peça, mas a um experimento social. Pois "Uma casa de bonecas" foi uma ruptura, um escândalo.
E por quê? Porque a tônica das peças, antes de Ibsen - ou de Tchékhov, antes dos autores modernos, enfim - era moralizante. E a moral aqui é a moral patriarcal, em que ao homem cabe a esfera pública e à mulher, a esfera doméstica. No geral, eram peças simples, não muito densas, que não desagradassem às expectativas desse público, que o divertissem.
Então chega Ibsen e subverte tudo. "Uma casa de bonecas" é baseada num acontecimento real. A escritora norueguesa, Laura Kieler, foi acusada de falsificar uma letra de câmbio - por ignorância da lei - acreditando ser esta uma conduta legítima, já que almejava a cura do marido. Laura é a inspiração para a personagem Nora Helmer. E que grande personagem!
Ibsen transpassa o acontecimento real para escrever uma peça atemporal. Família. Ética. Moral. Justiça. Papéis de gênero. O público. O privado. Direitos. Sensacional! Uma delícia de leitura e excelente para debates. Um dos finais mais apoteóticos que já li.
"HELMER: Oh, querida, tenho experiência suficiente no ramo da advocacia. Quase todos cedo que na vida degeneraram são filhos de mães mentirosas.
NORA: Por que apenas...mães?
HELMER: Porque a influência maior vem das mães, embora os pais naturalmente apontem para a mesma direção. Qualquer advogado sabe-o muito bem." p. 46
Obs.: A pedido da primeira atriz que interpretou Nora, Ibsen escreveu um final alternativo. A Moinhos o traz como posfácio e a tradução é direta do norueguês.