Aisha Andris @AishandoBooks 26/08/2019
Uma montanha-russa de emoções
Cara, este livro veio para me tirar completamente da minha zona de conforto, tanto que acabei demorando mais do que o normal para terminá-lo. Mas ainda acredito que a qualidade da leitura é mais importante do que a velocidade com que a fazemos, por isso tomei meu tempo para seguir com ela.
Acho que poucas vezes fiquei tão perdida e tão desconfortável enquanto acompanhava uma história. Acredito que, em pelo menos 60% do tempo, o sentimento que prevaleceu foi a raiva, por tudo o que estava acontecendo ali, era tão inacreditável que eu queria entrar e chacoalhar alguns personagens, sobretudo a protagonista, Mai. Ela é do tipo que nos desperta empatia, afinal é visível o quanto está sofrendo, o quão difícil é a situação pela qual está passando, mas também nos faz odiá-la com a mesma facilidade.
Mai tem a tendência a se colocar no papel de vítima o tempo todo, tudo está acontecendo sempre por culpa dos outros e ela é uma coitada, sem qualquer poder para mudar seu destino. Nossa, como isso irrita! Sério. Não quero dizer que Mai não sente remorso pelos erros que comete, porque, sim, ela sente, mas apesar disso, na maioria das vezes, ela fica com aquele sentimento de autopiedade e aponta o dedo na cara dos outros, sendo que também tem sua culpa, por exemplo, por trair o namorado com outro cara, ainda que, ao longo da leitura, descubramos que existem muitas coisas acontecendo em volta e que, de certa forma, dão um empurrãozinho para que isso aconteça. E falando em empurrãozinho, Mai é daquele tipo de pessoa que é facilmente manipulável e, por acompanharmos toda a narrativa sob o ponto de vista dela, acabamos sendo manipulados também. O tanto de tapas na cara que tomamos enquanto lemos não é brincadeira. Todavia, quanto a isso, preciso dizer que gostei. As reviravoltas são surpreendentes, e eu amei cada uma delas.
Se alguém está esperando por aquela história super amorzinho de colégio, cheia de clichês, esqueça! Isso não acontece aqui. Estamos falando de uma trama que se passa num ambiente altamente tóxico, regido por dinheiro e por um jogo de interesses que desperta o pior nas pessoas. Às vezes, é até difícil acreditar que estamos falando de adolescentes, de tão cruéis que eles são capazes de ser. Bullying, violência – física e emocional –, falsidade e abusos de todos os tipos estão acontecendo o tempo inteiro. Neste livro, ninguém é totalmente bom e vamos nos decepcionar MUITO com certos personagens, ao passo que outros nos conquistarão para sempre (Madson, meu amor). Acredito que isso tenha sido proposital e que a autora tenha desejado passar uma mensagem aqui, coisa que ela conseguiu com maestria. Parabéns por isso!
Eu confesso que demorei a engatar na leitura, porque o começo é muito confuso, ou melhor, brusco (ao menos o foi para mim) e eu fiquei tipo “Oi? Alguém me explica o que está acontecendo pelo amor de Deus!”. As coisas vão sendo jogadas na nossa cara sem muita explicação e somos obrigados a ir assimilando-as e tentando nos encontrar em meio a elas. Porém, a escrita da Pia Prattes é sensacional e, ainda que o desenrolar das cenas bagunce nossa cabeça, igualmente desperta nossa curiosidade e torna impossível que larguemos o livro sem saber o que vem pela frente e onde tudo vai acabar.
Logo no primeiro capítulo, vemos a Mai fugindo do seu dormitório durante a noite e buscando solidão num quarto (?) desocupado. Ela sente muita culpa pelo acidente que deixou o irmão em coma, porque permitiu que dirigisse seu carro quando estava proibido de fazê-lo. Isso já havia se tornado rotina, mas algo acontece neste dia em especial, que é a “invasão” do seu refúgio por Connor Westcott, um garoto a quem Mai claramente despreza, por seu jeito fútil e narcisista. Ainda assim, não pode negar que ele exerce certo fascínio com sua aparência de intocável e de quem acredita que é o dono do mundo. Em sua carência e vulnerabilidade, Mai acaba se entregando a ele, e isso dá início a uma avalanche de acontecimentos que mudarão completamente a vida dela e a de todos ao seu redor.
Mai é namorada de Jasper e melhor amiga de Lily, que é também sua cunhada, e de Tyler, namorado dela. No entanto, seu relacionamento está sendo levado em banho-maria e há muito que seus sentimentos por Jasper não são os mesmos. Isso certamente é uma das razões pelas quais ela é capaz de trai-lo com tanta facilidade. Essa traição provocará mudanças em seu envolvimento com os amigos também, e Mai não tardará a descobrir quão diferentes eles são do que ela imaginava. E enquanto a relação com aqueles que sempre lhe foram tão próximos se desgasta, ela acabará de aproximando de novas pessoas que lhe mostrarão o verdadeiro significado de cumplicidade e companheirismo. Eu adorei esses novos amigos, especialmente Amy, que é desbocada e fala tudo o que pensa na cara, e Madson, talvez a única pessoa verdadeiramente boa neste colégio.
Connor Westcott é absolutamente odiável, um lixo de pessoa, mas ainda consegue nos provocar pena conforme vamos conhecendo-o melhor e descobrindo todas as coisas terríveis que aconteceram em sua vida. Contudo nada, NADA MESMO, justifica a forma como ele trata a Mai. É um relacionamento tão abusivo que deixa um nó na garganta e leva a gente a se questionar por que ela aceita se submeter àquilo. Sentimos compaixão e, ao mesmo tempo, muita raiva da Mai. Isso é errado, eu sei, afinal ela é a vítima da situação, e SEMPRE é errado julgar a vítima, mas é difícil acompanhar todas as “passadas de pano” nos erros dele. E aqui mais uma lição nos é ensinada.
O desfecho de Jogo de Máscaras é ESPETACULAR. Toda a montanha-russa de emoções que somos obrigados a sentir vale a pena apenas por essas duas últimas páginas. Sofremos bastante antes de chegarmos a elas, mas garanto que, quem suportar a jornada, sentir-se-á vingado. Nosso queixo cai, as pontas são amarradas e todos têm o fim que merecem. Leiam, com certeza não irão se arrepender. Eu prometo!
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