Retipatia 05/04/2020
CUIDADO, LEITURA COM ALTO RISCO DE CONTÁGIO!
Em 1973 a Skylab foi lançada ao espaço pelos Estados Unidos. A estação espacial destruiu-se poucos anos depois, em 1979, ao reentrar na atmosfera terrestre. Seus destroços caíram no Oceano Índico.
Bom, quase todos. Algumas partes foram parar em terras da Austrália Ocidental. Partes que continham coisas que reles humanos não sabiam da existência. Algo que ficou adormecido durante anos dentro de um tanque, guardado numa das casas de Kiwirrkurra até 1987.
O que o Major Roberto Diaz e a Tenente-coronel Trini Romano sabem é que alguma coisa saiu do tanque e que uma pessoa está muito doente. A coisa, imaginam, pode ser um fungo levado para o espaço para estudos. E, já que a certeza é necessária em um caso desses, eles estão a caminho de Kiwirrkurra.
Ao chegarem no local, um completo deserto. O tanque está jogado na pequena e única estrada de terra que liga as casas. A flora do fungo está visível a olho nu, uma profusão de verde cobrindo o equipamento e se espalhando.
Eventos catastróficos estão por vir, mas as habilidades (e um pouco de sorte) de Trini e Roberto garantem que a situação seja contida. Uma única amostra do fungo é levada para os EUA, para estudos e guarda numa base de armazenagem militar.
2019, mais de trinta anos depois. Teacup está no seu turno habitual de guarda na Atchinson Storage, uma empresa de armazenagem. O local que costumava ser a base militar fora reformada e vendida. Mudanças de gestão, de governos, essas coisas.
A noite monótona de Teacup está para se alterar quando percebe que é também o turno de Naomi Williams, a mulher bonita que aparece só para cobrir alguns turnos e que ele ainda não teve coragem de procurar. Os dois acabam numa missão de busca quando ouvem um bipe constante soando pelas paredes. Mas o que estão prestes a descobrir é altamente contagioso.
Enquanto se desenrola a ação dentro da Atchinson Storage, os militares chamam Roberto Diaz. Agora, já quase nos seus sessenta anos, para dar uma conferida no local, e vamos acompanhar sua batalha para chegar a tempo de uma catástrofe enquanto Teacup e Naomi enfrentam as coisas mais estranhas já vistas.
Koepp sabe das coisas. Além de conseguir uma ficção científica digna de um filme daqueles, sua narrativa prende e o suspense e a tensão da história são perfeitamente balanceadas com humor. A história, apesar das mortes e do risco de infecção e morte de toda a raça humana, segue leve, e garantiu algumas horas de leitura descontraídas e perfeitas para fazer curar a ressaca literária a qual me encontrava.
Um dos pontos interessantes é como o autor conseguiu mesclar pontos históricos marcantes, como a Sylab e dados científicos sobre fungos (é, vamos ver bastante deles) deixando a trama mais interessante e crível. Além disso, o raciocínio das etapas de evolução do fungo e outros pontos são explicados com um tom bem-humorado e descontraído e é impossível não se pegar rindo e achando graça até mesmo dos momentos mais caóticos.
Um dos pontos chaves do humor está no fato de que o ex-Major Roberto Diaz já está em uma idade em que as aventuras são um pouco mais complicadas. As penas não são mais tão fortes, a coluna não anda lá essas coisas e o tom de realidade desse fato garante detalhes para o desenrolar da história tanto quanto para seu desfecho.
Outro ponto interessante é a dinâmica complexa e cheia de surpresas que irá ocorrer na antiga base de armazenagem. Os vinte anos de abandono surtiram efeitos positivos para o fungo, que, como todo ser vivo, continua em sua jornada de alimentar-se e multiplicar-se. Alguns detalhes nojentos, outros aterradores, animais voltando à vida, corpos inchados e explodindo. O caos se instaura no local. E a melhor chance de Naomi e Teacup está no velho Major que está lutando para conseguir chegar. Se ele não travar a coluna antes disso, é claro.
Uma leitura que talvez seja um pouco tensa para alguns, dados os acontecimentos mundiais com o covid-19, mas que, para aqueles que não terão esse problema e que gostam de ler temas assim nessa época (ou em qualquer outra), a leitura é mais que recomendada. Koepp mostra que entende não apenas de roteiros, mas também de literatura.
Evite o contágio! Lave bem as mãos depois da leitura!
site: http://retipatia.com/2020/03/28/contagio-david-koepp/