Zé - #lerateondepuder 09/02/2020
Alice no País das Maravilhas
A maravilhosa versão Limited Edition da Editora DarkSide Books começa com uma introdução bem esclarecedora feita pela tradutora, onde descreve o autor, a menina em que a obra foi baseada e o contexto da época. Charles Lutwidge Dodgson, autor que assume o codinome de Lewis Carroll, era um prodígio da matemática desde jovem, o que lhe rendeu a carreira de professor no renomado instituto Christ Church em Oxford, Inglaterra. Lá conhece e se aproxima da família Liddell, cuja menina do meio, Alice Liddell, será aquela a quem o também diácono Dodgson irá criar uma versão oral de uma história contada durante um passeio de barco.
Amigo de toda essa nobre família durante um certo tempo, o jovem diácono protestante passava tardes de convívio entre conversas, histórias e fotografias, principalmente com as crianças. Ele entrega a Alice uma versão manuscrita conhecida por Alice no Mundo Subterrâneo. Essa versão foi publicada por Dodgson em 1865, substituindo o nome por Alice no País das Maravilhas, quando a protagonista já tinha treze anos e sua família havia rompido o relacionamento com o autor. O livro caiu na graça de adultos e crianças instantaneamente. A verdadeira Alice viveu até os 82 anos, conservando consigo a versão manuscrita por anos a fio, até quando a vendeu por conta de dificuldades financeiras. Dodgson morreu aos 65 anos de forma austera, mesmo tendo ganho dinheiro com a obra.
Sobre a famigerada história, certa vez, uma menina entediada viu um coelho correndo parar, tirar seu relógio do colete e anunciar “Tô atrasado”, e sair em direção a uma toca. Da curiosidade em descobrir aonde foi o coelho, começa uma das tramas mais conhecidas do mundo, cuja protagonista Alice, depois de uma queda quase sem fim, chegará ilesa ao país das maravilhas. Lá, se depara com um cômodo cheio de portas, mas com uma chave bem pequenina que somente cabia em uma escondida portinha, conduzindo a um esplendoroso jardim. Alice teve de encolher bebendo um líquido, para depois comer um bolinho e crescer novamente, finalmente acessando o jardim, só que escorregando e caindo em um lago de lágrimas.
No lago encontra e conversa com vários bichos, com destaque para um rato e seu medo de gatos. Aposta corrida com eles e conversa com o coelho que havia perseguido. Depois, corre de um cãozinho gigante, até que encontra uma imensa lagarta fumando narguilé. Com esta lagarta, recebe aconselhamento em meio a um recital de versos, questionando quem é, tendo como resposta que ela não se reconhece, principalmente por ter encolhido e crescido algumas vezes. A menina argumenta que está cansada dos diversos tamanhos que assume. Algumas vezes chora rapidamente com saudade de seu mundo.
Vai, então, até a casa de uma duquesa, onde é recebida por um peixe lacaio e percebe que ela embala um bebê e várias coisas lhe são arremessadas, quase os atingindo. Depois, descobre que o bebê era, na verdade, uma porca. Continua com diálogos sem sentido com outros bichos, dentre eles o Gato de Cheshire, aquele que tinha um sorriso grande, com muitos dentes, que sumia e de repente aparecia novamente. Alice pergunta, por vezes, onde deve ir e tal qual nas conversas anteriores, sempre obtém respostas ambíguas.
Chega ao famigerado encontro com o Chapeleiro Maluco, estando presente a Lebre de Março e um Arganaz (rato do campo) para um chá. Lá conversam sobre a relação com o tempo e Alice acaba os abandonando para ir até a floresta, não sem antes comer um pedaço de cogumelo e mudar novamente de tamanho. Seguindo, Alice se depara com uma louca Rainha e reencontra o coelho branco, todos indo jogar o mais estranho dos jogos, o croqué. Neste jogo, por qualquer motivo, a monarca determina a decapitação das pessoas, até que surge o gato de Cheshire, o único que não pode ser decapitado, porque só aparece sua cabeça, quando não some.
Conhece uma tartaruga de mentira e um Grifo, e depois joga com lagostas, até que chega a um julgamento, onde Alice cresce tanto que derruba todos os jurados. Daí, começa a desdenhar de todas as loucuras daquelas pessoas e bichos, até que a rainha determina que sua cabeça seja cortada. Ela diz que não dá a mínima, pois todos são apenas um baralho de cartas, fazendo com que topas as cartas lhe atacassem. E, assim, Alice acorda no colo de sua irmã, percebendo que tinha tirado uma soneca demorada e tido um sonho muito esquisito, mas maravilhoso. A irmã de Alice permanece naquele lugar e, cochilando, sonha, da mesma forma, com todos os personagens do país das maravilhas. Fica, então, de olhos fechados, ciente de que retomaria a realidade se os abrisse. Por fim, a irmã imagina Alice adulta, desejando que pudesse ser compreensiva com as crianças e, sempre que possível, relembrar sua infância feliz.
Embora o título contemple país das maravilhas, Alice passa, em sua maioria, por situações desagradáveis. Ou alguém está lhe contradizendo ou, até mesmo, passa por situações de risco de vida. Talvez, seria mais compatível o nome original do manuscrito, Alice no Mundo Subterrâneo, uma vez que não são tantas maravilhas, mas muitas bizarrices. Quanto ao aumentar e diminuir, pode ser interpretado como um receio subconsciente das crianças crescerem.
É uma leitura rápida, bem agradável, sem contar a formosura da edição resenhada. Trata-se de uma edição limitada de 2019, produzida pela DarkSide Books, traduzida por Márcia Heloisa. Além da história, o livro tem uma parte reservada à tradução de poemas de Lewis Carroll, conhecida por fantasmagoria, onde há oito cantos sobre o inexistente e sobre o espanto. Depois, apresenta um conjunto de fotos originais de Alice e suas irmãs, inclusive da protagonista crescida, bem como um excelente relato sobre as atividades de Dodgson como fotógrafo. Finaliza com os originais do manuscrito Alice no Reino Subterrâneo, em inglês.
Por fim, há incomensuráveis interpretações para este livro, como por exemplo, que Alice é uma heroína, símbolo das feministas, por passar por situações tão extremas e a tudo superado com tanta desenvoltura, sem demonstrar vacilo ou medo. Há, também, análises que dizem ser o livro não para crianças e que tem mensagens sublinhares diversas. Particularmente, procurando entender o contexto da época em que foi escrito, consigo interpretar mais uma autêntica e bela história sem pé nem cabeça, criada mesmo para as crianças.
Há outras 85 edições publicadas nestes mais de 150 anos em que foi escrito, sem contar das mais de vintes adaptações para o cinema, sendo a primeira de 1903 e a última de 2010. É realmente uma história muito contada ao longo de séculos, cujos personagens principais se destacam no imaginário mundial. Vela a pena ler como adulto. Paz e Bem!
José Maria Pascoal Júnior – 09/02/20
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