Mari 14/12/2021
Os dias são úteis pra quem?
"O cotidiano que nos atormenta na sua rotineira mesmice". Talvez esse seja o tema comum a todos os pequenos contos que formam este livro de Patrícia Portela. "Comum", aliás, parece ser a palavra adequada para definir a temática destas pílulas literárias. Em um passeio pelos dias úteis, cada capitulo-conto apresenta uma profunda reflexão sobre o banal e o rotineiro em toda a sua complexidade, sempre antecipada por uma epígrafe literária certeira, que contribui para a atmosfera lírica do livro.
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Na minha experiência de leitura, separei uma semana para ler cada conto em seu respectivo dia, lendo devagar, sem pressa, como o acordo firmado entre mim e a narradora, naquela didascália poética que antecede os dias úteis.
A semana começa pelo doloroso embate entre o conformismo e o inconformismo. Na terça, a consciência do "sempre quis, mas nunca fiz". Na quarta, o confronto sofrido com uma porta trancada que insiste em permanecer no caminho; na quinta, a busca urgente pelo nosso próprio tempo, lugar e anseios. Os dias úteis encerram-se na sexta-feira, com a evocação do silêncio ensurdecedor que existe em nós e grita com consciência da nossa pequenez. O sábado é um arremesso na saudade, que leva o leitor à conclusão da semana com seu domingo-epitáfio, absolutamente aberto e totalmente particular.
A utilidade dos dias nos serve ou nos consome? Como fica a autorreflexão final, depois desse mergulho dentro de si? A minha, acabou em lágrimas.