Joao.Paulo 02/06/2020
mal resenhado
A Louca do Sagrado Coração (1996), Moebius & Jodorowsky, parte de uma sátira filosófica e religiosa, que, de certa forma, tenta aproximar essas duas coisas em um plano cômico e que brinca com essa relação entre o real e o místico, sagrado e profano. Religião e filosofia são apresentadas como forma de alienação e são ironizadas o tempo todo, ambas são objetos de seita e acabam se tornando, no contexto do quadrinho, extremamente efêmeras e patéticas.
Os personagens saem em busca de um futuro profético que promete ser a segunda vinda de Jesus, o protagonista, professor de filosofia, acaba sendo manipulado em meio as suas desgraças pessoais para colaborar com o grupo religioso. Aqui, a sexualidade, é utilizada de forma funcional para o prosseguimento dos acontecimentos, que são tomados de forma extremamente arbitrária, o que, no futuro, dará a fluidez que o quadrinho consegue, transitando do plano ''concreto'' para o místico.
Essa busca profética leva a uma mensagem de união universal, que, no entanto, é bem pessoal, não se tem a alteração do mundo em si, mas da visão do personagem. No final se tem uma imagem mais do começo de algo do que a conquista dos objetivos, apesar das metamorfoses sofridas pelos personagens.
Esse tipo de universalismo vai quase contra o de seu antecessor, Garras de Anjo (1994), aqui o caminho também é pessoal, mas acaba voltando-se para um plano quase exterior, se tem uma abertura de espaço para o pensando (linguagem) enquanto que N'a Louca os personagens continuam presos em seus corpos. Esse universalismo vem da libertação dos ideais dos personagens em ambos os livros, mas enquanto a abdicação em Garras de Anjo leva a um plano totalmente etéreo, sem corpo nem uma linguagem inteligível, um plano totalmente fluído, N'a Louca se tem uma abdicação dos ideais alienantes mas que continua deixando-os ignorantes ao mundo em sua volta, dando mais a ideia de um ciclo incompleto em contraste ao ciclo completo das Garras.
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