Jeff.Rodrigues 16/02/2020Resenha publicada no Leitor CompulsivoSerá fácil seguir adiante na vida após um trauma abalar sua infância ou os fantasmas cedo ou tarde voltarão para assombrar? Após o estrondoso sucesso de Confissões, um excelente livro, diga-se de passagem, Kanae Minato retorna com uma obra que vai fundo nos incômodos da consciência humana. Penitência é a típica história para ser lida em um ou dois dias e que ao mesmo tempo em que se aprofunda de forma exemplar em questões peculiares de seus personagens, naufraga em uma narrativa rasa e pouco atraente.
Quatro garotas testemunharam um assassinato, mas nenhuma delas conseguiu se lembrar do rosto do culpado. Inconformada, a mãe da vítima rogou uma espécie de praga para que a consciência delas pesasse. E a vida seguiu seu curso com cada uma crescendo e tomando seu rumo. Assim, cada capítulo é narrado por uma dessas garotas, já adultas, contando a sua versão para o dia fatídico, e fazendo uma confissão de como sua vida se desenrolou após os acontecimentos. Todas elas acabaram cometendo algum ato que consideraram como o acerto de contas com o passado. Seria a tal penitência que a mãe da vítima sentenciou.
A premissa interessante da trama se perde em uma história que, sendo bem sincero, é um tanto quanto imatura. A narrativa, mesmo levando-se em conta o estilo oriental bem diferente do nosso, é fraca e cheia de situações convenientes demais. Somos levados a crer que as garotas tiveram seu futuro, e consequentemente seus atos, definidos necessariamente pela ameaça da mãe da vítima. Mas em momento nenhum isso me soou crível. Aliás, os principais acontecimentos e suas justificativas protagonizados por cada uma delas forçam demais a barra para servir ao propósito do enredo. Em linhas gerais, é um livro bom para passar o tempo, mas longe de carregar qualquer qualidade que o faça se destacar.
Minato mostra um bom domínio em explorar histórias que envolvem crianças sob o jugo de adultos. Confissões trabalhava exatamente um tema cujas entrelinhas são parecidas com Penitência. Temos um adulto (no primeiro, uma professora e neste, a mãe da vítima) que através de atos ou ameaças busca causar um desequilíbrio psicológico nas crianças ao seu redor. A diferença é que Confissões tinha uma trama muito bem estruturada com um desenvolvimento convincente e bastante assustador. Já aqui em Penitência, faltou algo mais e tudo se perdeu em uma narração rasa que não me convenceu. É como se fosse um livro experimental cujo acabamento e retoques finais não foram feitos.
O desfecho, protagonizado pela mãe em uma longa narrativa com passagens interessantes e outras totalmente desnecessárias, foi tão linear que não pareceu uma conclusão. No fim, Penitência se resume a capítulos avulsos com depoimentos de vida de personagens em que a linha que faz a conexão entre cada um é frágil e difícil de engolir. Passa longe da minha lista de recomendações.
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