@apilhadathay 30/07/2021
Delicioso lê-lo em inglês
Pela primeira vez, li também o original em comparação com a edição da Biblioteca Azul e fiquei muito satisfeita. Tenho apenas elogios à obra e também ao plano de tradução lindamente executado por Lino Vallandro e Vidal Serrano.
"E esse... é o segredo da felicidade e da virtude: amarmos o que somos obrigados a fazer" (p. 36)
Neste universo distópico, o tempo é contado pela vida do Henry Ford - sua nova divindade.
O livro se inicia com um professor possivelmente universitário levando seu alunos ao laboratório pra mostrar como são geradas as crianças: todas de proveta, não há mais o conceito de família, pai e mãe são palavras consideradas obscenas! As pessoas nascem e morrem sozinhas. Existe uma ligação forte feita pela sexualidade entre as pessoas. Não existe mais a ideia de monogamia, então você é tão normal quanto mais promíscuo você for.
"Quanto maior é o talento de um homem, mais poder ele tem para desviar os outros. É preferível o sacrifício de um à corrupção de muitos" (p. 181)
Os moradores são divididos em Castas: Alfas até os Ípsilons, dos Administradores gerais à casta mais baixa. Essas condições são decididas na geração do feto, no laboratório e cada pessoa já cresce predisposta a aceitar a sua realidade sem questionamentos. Existe um panorama forte de condicionamento psicológico.
"Cada um pertence a todos" (p. 62)
Bernard Marx é um Alfa que decidiu não tomar mais o soma, a droga que mantém todos tranquilões e felizes o tempo todo - um medicamento entregue pelo governo e que deve ser tomado diariamente, em doses especiais que induzem a pessoa a seguir sem questionar a vida. Acabou sendo rechaçado, por destoar do grupo. Clássico herói banido.
Há uma cena icônica do "Selvagem" sendo acuado pela civilização; endeusamento do Ford, experimentos com crianças, uma normalização da felicidade artificial e uma proibição do direito de ser infeliz; a ideia da morte é suavizada e normalizada, com o condicionamento das pessoas para aceitarem-na sem questionar; o soma é comparado a um "Cristianismo sem lágrimas"; até mesmo um debate sobre deus se manifestar apenas na ausência. Muitas referências são feitas a obras de Shakespeare, sobretudo por parte do "Selvagem", o John, uma figura.
Há referência a Wells; encontramos elementos que nos ligam a NÓS, de Zamiátin, como a ideia da padronização humana, o fordismo como lei e até rito quase religioso, os milhares de relógios de Bloomsbury, a ideia de ser socialmente útil; a busca de uma perfeição social que só parece se concretizar quando se elimina a liberdade das pessoas em geral. QUE OBRA! S2
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