Coisas de Mineira 08/10/2020
Lançado em 2019, Um caminho para liberdade é o último livro da escritora Jojo Moyes lançado pela editora Intrínseca, e veio na caixa de número 12 do clube Intrínsecos.
O enredo se passar na década de 1930, quando os EUA se recuperavam da Grande Depressão. Como forma de acelerar e melhorar a economia, o Presidente Franklin Roosevelt lançou um pacote de programas denominado New Deal. Um dos projetos mais conhecidos foi o “Works Projects Administration”, visando a criação de empregos, como a Biblioteca a cavalo no Kentucy, defendida amplamente pela primeira dama Eleanor Roosevelt.
É nesse cenário histórico que as personagens fictícias serão inseridas. Em uma reunião da comunidade de Baileyville, a proposta da biblioteca é lançada – mulheres saindo a cavalo levando livros para famílias nas montanhas, que não tinham acesso fácil à cidade.
E assim quatro bibliotecárias – Alice, Margery, Beth e Izzy, assumem a tarefa, tendo a ajuda de Sofia que, por ser negra, seria a responsável por cuidar da administração – existiam bibliotecas separadas para negros..
Cada uma das cinco mulheres tinha vivências e expectativas bem diferentes quando aderem à ideia da biblioteca. Temos Alice, uma inglesa que vem para os Estados Unidos após um rápido romance com Bennett, que estava visitando a Inglaterra a negócios junto com seu pai, e vai com a esposa para morar com o viúvo, um homem controlador, machista, dono de uma mina local que vê o casamento como um relacionamento para gerar filhos, e que vive em uma casa que preserva a memória da esposa em todos os cantos!
“Não há nada mais perigoso que uma mulher armada de conhecimento. Mesmo que ela tenha apenas 12 anos”
Também temos Margery, quem organiza a biblioteca e que tem um histórico familiar complicado, daqueles de rixas seculares com outra família, e como teve um pai que abusava da esposa, decide não se casar, apesar de ser apaixonada por Sven, que trabalha nas minhas do pai de Bennett; Sophia, uma mulher forte, que sabe viver em meio a intolerância a sua cor, e que cuida do irmão, um mineiro que perdeu a perna e foi dispensando sem nenhum direito; Beth e Izzy, as mais jovens, mas que também contribuem para a biblioteca.
Essas mulheres têm o desafio de conquistar as pessoas ao longo das rotas que são traçadas para cada uma, que encontram famílias completamente afastadas da cidade, que vêm com desconfiança a entrega de publicações, que vão desde livros infantis, literatura, e revistas com receitas. Com o jeito carinhoso, elas vão conseguindo cativar até os mais cascudos dos homens ao longo das montanhas.
Mas, por conta de pessoas que vêm os livros como um caminho para a liberdade, e querem manter o status quo, teremos muitos desafios para as bibliotecárias a cavalo. Um crime é cometido e, para tirar o foco na briga de sindicatos com os mineradores, e um rompimento de barragem, alguns poderosos irão com tudo para cima das bibliotecárias.
“Mas existem livros bons e existem livros que plantam ideias erradas, que espalham mentiras e pensamentos impuros. Livros que podem, se não forem bem controlados, causarem divisões na sociedade. E temo que talvez tenhamos sido indulgentes ao deixarmos tais livros correrem por nossa comunidade sem execer vigilância suficiente para proteger as mentes mais jovens e vulneráveis.”
Um caminho para a liberdade é, como a própria autora descreveu, a obra mais política dela. E foi meu primeiro contato com a escrita da Jojo Moyes, então estava com expectativas baixas, o que foi fantástico, porque me surpreendi muito.
Mesmo que a história se passe na década de 1930, muitos dos temas abordados ainda são muito atuais. Mulheres buscando por seu espaço em um mundo machista, mulheres pretas com seu trabalho digno buscando apenas seu lugar ao sol. Trabalhadores sem direitos, barragens que se rompem e atingidos que perdem tudo e são ignorados.
Eu gostei bastante da ambientação, e de como vamos sendo aos poucos inseridos na vida dessa comunidade. A primeira que conhecemos é Alice, que sofre muito com o casamento, e um marido que não sai de baixo das asas de um pai controlador. Ela tinha muitos sonhos românticos, que vão sendo destruídos, até que a biblioteca lhe dá um objetivo para seus dias.
Margery é uma mulher incrível… ela quem carrega a biblioteca, é o elo de união entre as desconhecidas que resolvem se juntar, e que leva a vida sem se preocupar com a opinião mesquinha de parte da cidade. Mas ela terá de aprender a confiar, e esse é um passo difícil para quem cresceu praticamente sozinha.
“Nós, mulheres, enfrentamos desafios surpreendentes quando escolhemos sair do que são considerados os nossos limites ocasionais.”
Um caminho para a liberdade vai tratar de romance também – afinal, a autora é conhecida por seus romances, saiba que teremos dois aqui que são muito lindos… mesmo não sendo foco, dois casais que se formam são incríveis!
“Essa crença, profundamente arraigada nela, de que toda história de amor tinha, em sua essência, o potencial para um final feliz.”
Um livro sobre SORORIDADE… como essas mulheres ficam fragilizadas sozinhas, como enfrentam o mundo quando estão de braços dados. É lindo ver como elas são fortes, como confiam, como são solidárias…
E, com uma história forte dessa, não demoraria a vir uma adaptação! Sim, os direitos de Um caminho para a liberdade foram comprados pela Universal, mas ainda sem previsão para o início das gravações.
Jojo Moyes é uma jornalista britânica e, desde 2002, romancista, que tem entre outros sucessos a trilogia Como eu era antes de você, adaptada para o cinema. É uma das poucas autoras que já ganharam duas vezes o Prémio Romance do Ano atribuído pela Associação de Romancistas e foi traduzida para vinte e oito idiomas diferentes.
Por: Maisa Gonçalves
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