Leo.Klaus 12/09/2024
Sorria, você está sendo filmado!
"A liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro. Se isso é garantido, tudo decorre daí"
1984 é uma obra distópica que parte da premissa de que o mundo se dividiu em 3 grandes Estados, os quais vivem em situação de guerra constante com o objetivo, a princípio, de neutralizar as forças inimigas e exercer o poder de maneira integral e isolada. A história é narrada sob a perspectiva de Winston Smith, cidadão da Oceania que trabalha para o governo em um setor responsável por adulterar registros históricos e, com isso, controlar a narrativa política, de modo a atender aos interesses do Partido, personificado na figura do Grande Irmão.
As lembranças de Winston e da população em geral são bastante fragmentadas, já que quase não se tem registros ou lembranças de como era o mundo antes de se instaurar a ordem política atual. É interessante observar como, embora trabalhasse diretamente para o Partido (e, portanto, gozasse de certos privilégios), Winston começa, aos poucos, a se insurgir contra o Grande Irmão e busca compreender como o mundo havia sido em outra época.
Porém, a grande sacada de Orwell, pra mim, foi mostrar que Winston se revelou um mero rebelde contra o sistema vigente, não um revolucionário disposto a de fato subvertê-lo. Os atos de resistência por ele praticados se esgotavam no campo individual, sem a menor chance de ressoar na sociedade como um chamamento à derrubada do Partido. Winston constatou relativamente cedo que "se há esperança, ela está nos proletas"; no entanto, nada fez para sequer tentar aflorar tal esperança. Seus atos de desobediência para com o Partido (comer um chocolate proveniente de contrabando, escrever um diário, ter um relacionamento amoroso etc.) se destinavam mais a satisfazer suas vontades pessoais do que a desencadear um movimento em massa, até porque ninguém além dele, de Julia e do próprio Grande Irmão tomaram conhecimento de tais atos.
Outra questão que gostei muito no livro foi a discussão sobre a influência da linguagem na formação da consciência do indivíduo e sobre como a redução do vocabulário implica diretamente a redução da capacidade de pensar. É algo que poucas vezes parei pra pensar antes de ler 1984, mas que faz total sentido. O governo instituiu um novo idioma oficial, chamado de novilíngua, que é pautado sobretudo na supressão de sinônimos e de palavras antagônicas ou que carregam algum caráter político intrínseco. O objetivo dessa medida era estimular cada vez menos o pensamento crítico, já que a articulação de uma ideia é praticamente indissociável da capacidade de se organizá-la por meio de palavras. Um povo sem vocabulário é um povo incapaz de pensar. Essa obra é atemporal.