spoiler visualizarJaguadarte0 20/04/2024
1984 ou 2050?
Assim como em A Revolução dos Bichos, 1984 tem uma grande carga de crítica política a respeito da época em que o livro foi escrito. Portanto, é de se lastimar que eu não pude compreender com totalidade o enredo e o objetivo da narrativa. Apesar de tudo, ainda me disponho a escrever uma resenha a cerca do que pude tirar da obra.
Bom, 1984 narra a história de Winston Smith, homem de meia idade que vive em um "futuro" distópico, de forma que seu país, a Ocêania, governe a população em um regime totalitário. O livro é muito preciso em listar as formas de censura com as quais os líderes lidam com a nação.
A forma mais recorrente de censura ocorre por meio das telas. Em todo lugar há telas que vigiam as pessoas 24h por dia, e é por meio delas que os cidadãos se mantem "informados" e controlados. Fazendo uma clara alusão à mídia, as chamadas teletelas, mentem, enganam e manipulam a população com suas falsas taxas e indíces, de forma que as pessoas vivem uma realidade e é lhes passada outra totalmente diferente.
Há, por sinal, a alteração e falsificação de documentos e registros. Se o líder erra algo em sua fala, prontamente os jornais são recolhidos e alterados; se alguém desaperece, logo seus documentos e qualquer vestígio de que ela pudesse ter existido, é apagado, até mesmo da mente das pessoas.
Podemos igualmente ver que no livro há a chamada novafala e velhafala, coisa frequentemente citada. Ocorre que a antiga língua falada passa por reformas, de modo que as palavras, e principalmente os adjetivos, são cada vez mais reduzidos, fazendo com que no futuro as pessoas sequer consigam expressar suas indignações para com o Estado.
É dado destaque também a questão do sexo. Os casamentos são analisados para serem validados, de modo que os parceiros não devam se sentirem sexualmente atraídos. O sexo aqui tem como objetivo servir como mero meio de aumentar a população, mais que isso passa a ser tratado quase como pecado, assim como qualquer outra forma de promíscuidade. Desse modo, toda excitação e empolgação refere-se somente a adoração de seu líder e ao despejar ódio contra seus inimigos. Ainda mais, os filhos, são meras ferramentas criadas pelo governo para monitorarem seus pais, de modo que futuramente vínculos afetivos de nada sirvam.
Por último, há o chamado "pensamento-crime". Pensar ou demonstrar desaprovação para com o Estado é intolerável. Se as notícias e os líderes dizem que algo é e sempre foi verdade, não cabe há mais ninguém questionar. Dessa e de outras formas, o governo controla o passado, o presente e o futuro.
De forma geral, tudo na Ocêania é controlado e administrado pelo "Grande Irmão" figura que pode de fato ser uma pessoa, ou somente um avatar para todos aqueles que manipulam a sociedade como marionetes, sociedade essa que se deixa ser manipulada. Quanto as periferias, há o dilema de que embora sejam "livres" de boa parte da manipulação, são justamente e consequentemente os que mais sofrem.
Tirando toda essa crítica ao regime totalitarista, que por sinal é a alma do livro, só nos resta falar um pouco da parte mais narrativa e fictícia da obra. Aqui, pouco se tem o que comentar. A relação de Winston com Julia é completamente forçada, além de ser praticamente e unicamente sexual. Em contrapartida é interessantíssimo observar que, embora Winston sinta medo e pavor de O'brien, ele também lhe serve como figura de admiração e acolhimento, tal qual o Estado.
É um livro espetacular, embora massante em muitos capítulos. Ainda assim, é uma forte recomendação.