Queria Estar Lendo 22/01/2016
Resenha: Uma chama entre as cinzas
Uma chama entre as cinzas, primeiro livro da quadrilogia da Sabaa Tahir, conta a história sobre a busca da liberdade em suas mais diversas aparências. Liberdade da alma, liberdade do medo, liberdade de uma vida inteira dedicada à crueldade. Laia é uma escrava, Elias é um imperial e nenhum dos dois é livre.
Com uma história intrincada por dramas pesados, escravidão, um império cruel e inescrupuloso, uma rebelião severa e fria, e personagens sofridos pela vida, Sabaa descreve uma obra épica de tirar o fôlego, construindo cenários desérticos fascinantes e o começo de uma guerra sangrenta.
"O campo de batalha é o meu templo. A lâmina da espada é a minha sacerdotisa. A morte é a minha oração. O morte é a minha libertação."
Laia é uma escrava; filha de dois rebeldes há muito mortos que só quer viver em paz com os avós e com o irmão mais velho, a quem ela muito admira. Quando soldados mascarados do Império invadem sua casa, matam seus avós e levam o seu irmão, acusando-o de conspirar contra o governo, Laia percebe, amedrontada, que ela é a única esperança de salvação que ele tem.
A menina aventura-se até os túneis onde pretende encontrar a rebelião e explicar o mal entendido, e acaba se envolvendo com eles a níveis estratosféricos; para salvar seu irmão, ela é enviada até a academia Blackcliff, onde os Máscaras são treinados para o exército. Como escrava da Comandante, a mais temida e perigosa mulher do Império, Laia precisa sobreviver e encontrar informações para ajudar a rebelião. Para sobreviver, ela precisa ser a garota corajosa que nunca foi.
Do outro lado da história, numa realidade diferente, mas não menos perturbadora, está Elias. Ele é filho da Comandante - um órfão de mãe, praticamente, uma vez que a Comandante o largou para morrer - e um dos aspirantes a imperial mais bem treinado da academia. Elias, no entanto, detesta o Império; ele quer voltar a ser livre.
Quer desertar e, com isso, deixar toda aquela história sangrenta para trás; quando ele é convocado para um torneio; quatro desafios que determinarão o próximo Imperador, sua deserção cai pelo abismo. Ao lado da melhor amiga Helene, Elias precisará confrontar seus maiores medos e horrores para tentar sobreviver aos desafios. Depois deles, quem sabe, existe a liberdade.
Através de uma narrativa fluida e emocionante, Sabaa constrói personagens vivos e ricos e extremamente estilhaçados. Não existe um personagem com quem você não se emocione; mesmo a Comandante, com toda a sua crueldade monstruosa, é humana, no fim das contas. Sabaa destrincha cada personalidade de tal maneira que desenvolve os personagens sem que você sequer note; a sensação que se tem é que eles sempre estiveram na sua vida.
Laia é uma menina contida em suas fraquezas, ciente delas e totalmente ok com a sua existência. Não há nada de heroico ou potencialmente badass em Laia; ela é uma garota querendo salvar o irmão, só isso. Não existe na Laia uma promessa de líder rebelde, de um símbolo para um levante.
Ela é frágil e indecisa, muitas vezes temerosa demais para a própria sorte, mas existe coragem no seu medo. Ela é forte porque ela é filha da leoa - como chamavam a sua mãe na rebelião - e ela é forte porque seu irmão precisa que ela seja. Ela é forte porque ela é Laia e ela é uma chama entre as cinzas, tal como Elias.
"Há dois tipos de culpa: o tipo que te afoga até te inutilizar completamente, e o tipo que dispara sua alma para algum propósito."
O filho da Comandante é tudo, menos fraco. E é por esse motivo que eu considero Elias ainda mais frágil e quebrado do que a Laia; o fato de ele ter sido criado desde pequeno a duras penas, de ter vivido situações extenuantes e de ter visto tanto horror no mundo, de ter matado e ter lutado em tantas batalhas que não eram suas construiu marcas que só o tempo pode apagar - se puder.
Ele quer a liberdade porque ela é o escape para tudo o que Elias viveu; ele quer deixar a academia para trás, mas isso significa abandonar tudo o que conhece e tudo o que ele é - isso significa que precisará abandonar Helene.
Helene é outra aspirante a Máscara, uma guerreira de corpo e alma, totalmente focada no seu dever e na honra que ele carrega - mas uma menina, acima de tudo, com problemas e traumas e medos arrebatadores. Os dois se entendem, se amam e se afastam por causa desse amor; Elias, principalmente, porque ele tem medo de perder a sua Helene uma vez que entenda o que se passa em seus corações.
Durante o torneio, ambos vivenciam situações que certamente voltarão para assombrá-los no livro 2. A linha que os liga está se quebrando, mas ainda existe e eu ainda acredito nela! A Helene é tão forte e impressionante.
A coisa que eu mais adorei neste livro foi o fato de não haver completos mocinhos. Todos têm um que de anti-heroísmo, seja pelo egoísmo, pela necessidade da fuga, seja pelo coração cruel ou simplesmente o fato de não prestar atenção em quem está confiando.
Outros personagens, além dos protagonistas, roubam as cenas sempre que aparecem; Keenan é o guerreiro contido e enigmático que se aproxima de Laia para ajudá-la a ajudar a rebelião. É um curandeiro cuja vida se dedica à luta pela queda do Império, mas cujo coração está na lealdade às pessoas, acima da causa.
Izzi é a menina da cozinha, uma escrava que se torna amiga da Laia e que a ajuda a manter-se à sombra da Comandante. Ela sofreu terrivelmente nas mãos da imperial quando era pequena e carrega essas memórias assombrosas na própria pele; tanto ela quanto a cozinheira, uma ex-rebelde misteriosa cujo passado ainda não foi revelado.
A Comandante é um show à parte. QUE VILÃ! Que coração sombrio, que motivações mais vis! Ela é um monstro, pura e simplesmente, que demonstra pequenos momentos de fraqueza humana em determinados momentos do livro - sempre na presença do filho, Elias, o que me faz acreditar ainda mais na parte do seu coração que ainda pode ser salva.
Acho que o único ponto falho para mim, pelo menos na releitura, foi o romance. Todos os casais soaram artificiais demais, especialmente o que envolve os protagonistas; instalove demais, sabe? Não me convenceu e mais me encheu as paciências atrapalhando as motivações deles do que serviu pra causar alguma emoção.
Em parte fantasia, Uma chama entre as cinzas também constrói uma nova mitologia a respeito do misticismo e das coisas mágicas e das criaturas que se escondem nas sombras.
Lentamente, descobrimos junto a Elias e Laia que as trevas estão acordando, e que o Império pode estar por trás dessa ressurreição; monstros de histórias fantasiosas habitam o seu mundo, e eles estão atrás das pessoas. Um deles, o Portador da Noite, um rei cujo povo foi massacrado por humanos e que agora busca vingança, conspira junto a um personagem importante da trama.
A história da Sabaa fala sobre os seus personagens, grita sobre as suas histórias, e abre espaço para uma série que com certeza vai carregar grandes mensagens de superação em seus próximos volumes.
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