Thaís Inocêncio | @thais_inocencio 21/07/2020Enrolado, mas ok!Aos 29 anos, Claire é deixada pelo marido no dia do nascimento da filha deles. É sério! James, o canalha, chega ao hospital onde a mulher acabou de dar à luz e diz: Oi, então, estou tendo um caso com a vizinha há seis meses e vamos ficar juntos agora, beijo e tchau.
Diante dessa situação inesperada, Claire decide buscar amparo em sua família, que vive na Irlanda. Assim, ela parte de Londres para lá levando sua filha recém-nascida e sua profunda tristeza. E, enquanto luta para reconstruir o grande quebra-cabeça que é a sua vida, ela vai perceber que algumas peças já não se encaixam mais.
Confesso que, à primeira vista, Claire é quase intragável. Ela passa mais de 100 páginas alternando entre raiva, ciúmes e autopiedade, se afogando no álcool e sem tomar banho! E a família dela não ajuda em nada: das duas irmãs que ainda moram com os pais, uma é drogada e alheia aos problemas da família, e a outra é a criatura mais grosseira e chata que já vi/li.
Porém, com o passar dos capítulos, você se compadece dessa mulher. Poxa vida, ela foi largada no dia que pariu! É de se esperar que ela sofra um bocado. A autora não nos conta isso (o que eu considero uma falha), mas a protagonista certamente enfrentou uma depressão pós-parto, porque ela teve todos os sintomas: insônia, perda de apetite, irritabilidade intensa e dificuldade de criar vínculo com o bebê.
Quando Claire finalmente levanta da cama e toma banho, ela passa a te contar uns detalhes da vida dela que explicam muita coisa. Você compreende, enfim, que ela vivia um relacionamento abusivo e estava afundada nele até o pescoço, incapaz de enxergar outra realidade. E, como toda a história é contada pela ótica dela, você também demora a perceber isso. Achei interessante a leitura desse ponto de vista, sem ninguém de fora pra te mostrar a verdade. Você só entende quando Claire começa a entender.
No fim das contas, apesar dos inúmeros problemas com a narrativa de Marian Keys – sendo a linguagem prolixa o principal deles –, eu gostei de Melancia. Me apeguei à Claire e torci pela felicidade dela com ela mesma, sem depender de ninguém, seja homem ou sua família maluca.