Naty__ 13/03/2020Eu devo estar numa tremenda ressaca literária, só pode. Porque até agora li uns 3 livros seguidos que não prenderam a minha atenção como eu esperava. Ou talvez seja o fato de ler muito o gênero e não ser enganada por qualquer conversinha e desfecho propostos.
Thomas Harris é o cara! E digo isso sem precisar ter lido “O silêncio dos inocentes”, considerado um clássico contemporâneo, ou até mesmo outra obra de sua autoria. Eu não conhecia a escrita do autor, mas percebemos o quanto um escritor é bom quando é adorado, elogiado pelos leitores, quando é um gênero bastante batido e mesmo assim ele tem a façanha de surpreender. Obviamente, há pessoas que não gostaram, como também há aqueles que não concordem comigo. Viva a democracia! Viva a liberdade de expressão!
O fato é que, mais uma vez, eu fui com muita sede ao pote. E digo isso com tanta propriedade que eu estava desejando esse livro mais do que qualquer outra obra. E então eu caio naquela mesma história das altas expectativas. Nunca imaginei, tão fortemente, que isso teria alguma influência na minha vida literária. Tinha, eu sei, mas não com tanta intensidade quanto nessa.
Cari Mora seria o livro perfeito pra mim, pois adoro suspense e não é novidade para vocês. Porém, há elementos que acabam atropelando as coisas e não há tanto mistério quanto previ. A história se desenvolve de forma simples, mas já começa intrigante. Da metade para o final ficamos cansados, mas esperançosos que haja o jump of the cat. Mas não. Nem sequer temos gato, não temos pulo e nada que nos convença, ao final, a um plot twist. Pelo menos, não para mim. Mas vamos à história…
Vinte cinco milhões de dólares em ouro estão escondidos em uma mansão em Miami Beach, e seu dono está morto. Há anos homens implacáveis têm tentado encontrar essa fortuna, e agora é a vez de Hans-Peter Schneider. Motivado pela ganância, ele ganha a vida com atividades ilícitas, e a principal delas é realizar as fantasias mais doentias de homens ricos em busca de mulheres peculiares.
Cari Mora, a caseira da mansão, é uma imigrante que fugiu da violência em seu país de origem. Ela vive em Miami, sempre com medo da sua situação com o Serviço de Imigração e Controle Alfandegário. Como seu visto para os Estados Unidos não é permanente, Cari não pode prosseguir com os estudos, por isso é obrigada a ter vários empregos para se sustentar.
Cari é considerada uma bela mulher, marcada por cicatrizes da guerra. A jovem atrai o olhar de Hans-Peter quando ele se aproxima do tão desejado tesouro. Mas ela tem habilidades surpreendentes, e essa não é a primeira vez que seu instinto de sobrevivência é posto à prova. Monstros vivem à espreita na fissura que existe entre o desejo dos homens e a sobrevivência das mulheres.
É ou não é um resumo digno para chamar a atenção? Principalmente quem é fã do gênero. O que gostei na história foi a capacidade de o autor criar uma personagem tão autêntica, tão forte e destemida. O passado dela é tão terrível, mas mesmo assim ela criou forças de onde não tinha para enfrentar o mundo com apenas 25 anos de idade, mas que carrega marcas que a deixam mais velha, mais experiente e mais forte. Cari passou por situações que jamais aguentaríamos e viveu coisas que crianças nunca deveriam passar.
O ponto fraco é que o autor não nos trouxe fortes elementos à história. Tudo é jogado de uma vez, sem maiores surpresas, sem grandes revelações. É isso aqui e acabou. Isso acabou me decepcionando um pouco, mas não é nada que possa ser tenebroso para quem não tem o hábito de ler o gênero. E ainda que você tenha, pode ser que ainda goste, já que muitos livros nós lemos sem esperar um plot twist, uma reviravolta mirabolante. Apenas o mistério em si já basta. Nesse, em especial, eu esperava. Porém, não é uma regra.
Sobre a edição:
A capa está tão linda que dá vontade de deixar na estante com a capa virada para frente, mostrando os relevos e os brilhos que ela proporciona quando manuseamos. As folhas são amareladas e o tamanho da fonte contribui para uma leitura agradável.
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2019/12/resenha-cari-mora.html