Izanio Martins 11/07/2021
A COR QUE CAIU DO CÉU I HP LOVECRAFT I Clássico do terror cósmico I Resenha + opinião.
INTRODUÇÃO
A COR QUE CAIU DO CÉU, do autor americano Howard Phillips Lovecraft, o HP Lovecraft, publicado originalmente em 1927, em minhas mãos, a edição brasileira com tradução de Bárbara Lima, Fatima Pinho e Marsely de Marco, pela editora Pandorga, sob o selo Chronos.
Este livro consiste em uma coletânea com três contos, A COR QUE CAIU DO CÉU, ELE e O HORROR EM RED HOOK, contos independentes entre si que fazem parte do eixo, do grupo das histórias dos “MITOS DE CTHULHU”, terror cósmico, do qual nós lemos e comentamos, recentemente aqui no canal, o livro Sussurros na escuridão. #sussurrosnaescuridao
A COR QUE CAIU DO CÉU
O primeiro conto, que dá o título a coletânea, A COR QUE CAIU DO CÉU, é uma história narrada em primeira pessoa por um homem que visita as terras de Arkham, Massachusetts, a trabalho. E durante a sua visita, encontra uma região povoada por histórias assombradas. A princípio, ele imagina que eram as típicas historias sussurradas nos ouvidos dos netos ao longo dos séculos pelas avós, porém, se depara com a desesperança e terror no olhar dos habitantes, de forma mais particular, de Ammi Pierce, através do qual toma conhecimento da história da Charneca queimada e dos dias estranhos, após os quais, nada naquela região voltou a ser como antes, mas como que persiste no ar, na agua e na terra, algo que se alimenta e consome a vida da região, fincando raízes de medo no coração dos habitantes e demais seres.
O ser, força ou entidade que causa este medo, é descrito como a cor, algo disforme, que não sabem descrever muito bem, embora reconheçam a sua origem extraterrestre pois teria chegado à Terra via meteorito e, assim, infectado, sim, como uma doença, uma grande faixa daquelas terras.
Dizem que a cor "envenenou" o solo ao redor de onde havia pousado. Parecia ter "infectado" a vida vegetal local e os resultados foram grandes descolorações nas flores, na grama e nas árvores, no primeiro momento, as frutas cresciam grandes e vistosas, porém, de sabores intragáveis. E estágios posteriores, as plantas tornaram-se cinzas e desenvolveram "uma qualidade altamente singular de fragilidade".
Junto com a descoloração veio a ruína de frutas e legumes cultivados junto com o comportamento anormal das plantas durante a noite. As flores brilhavam na escuridão e as árvores pareciam alcançar o céu e se mover sem o vento.
Os dias estranhos se apresentavam e além da destruição e alteração da vida vegetal, o gado da fazenda Gardner, que estava próximo, sofreu estranhas e grotescas mutações. Os animais apresentavam um estado de decadência, um acinzentamento antes de morrer, deixando uma carcaça grotesca, com carne não comestível.
Naqueles dias estranhos, após a queda do meteorito nas proximidades do poço da fazenda, a família Gardner, proprietária daquelas terras, aos poucos sucumbe à loucura, tem sua saúde deteriorada e, por fim, encaram a morte, com o último membro sobrevivente sendo Nahum Gardner, que descreveu a entidade como uma "coisa sugando, queimando, consumindo, algo que, com certeza não era do trabalho de Deus".
Por fim, sem citar detalhes maiores do conto, a entidade parte da Terra para retornar de onde veio, entretanto, deixa nos moradores do vale a crença de que uma outra parte menor não tenha conseguido escapar e que ainda esteja na fazenda do antigo Gardner, consumindo, alimentando-se da vida local, e assim, o vale, a região continua a decair lentamente ano após ano.
ELE
O segundo conto é também muito interessante e nos trás como protagonista um escritor/um poeta que busca nas ruas de Nova Iorque por inspiração para a sua arte. Este protagonista em particular nos mostra um traço de personalidade xenófoba e racista que é comum a muitos personagens do Lovecraft. E é interessante que é justamente este nefasto descontentamento que o leva a conhecer um senhor idoso e super misterioso que é o flerte com o grande perigo nesta narrativa.
É um conto curtinho, mas com uma riqueza descritiva impressionante. Lovecraft nos descreve becos, vielas, ruas estranhas que levam a lugares estranhos. Um submundo existente na margem de uma cidade grande em crescimento na primeira metade do século passado. Se destacam aqui os contrastes entre a empolgação pelo novo desenvolvimento e o amargo saudosismo daquilo que se perdia diante do mesmo desenvolvimento.
Este submundo que existe a margem da realidade que nossos olhos alcançam, preciso falar aqui, é também um tema recorrente, um cenário multipotencial, nos livros do Lovecraft.
O HORROR EM RED HOOK
Tanto que o próximo conto, o horror em Red Hook, começa com uma epígrafe que nos fala justamente sobre isso, sobre como vivemos e nos movemos no desconhecido, enquanto a nossa inteligência, como mecanismo de autoproteção, negligência realidades que nos roubariam a sanidade caso tivéssemos acesso a elas.
Neste conto, iremos acompanhar a história de um policial em recuperação de um trauma psicológico após eventos catastróficos que envolvem raptos de pessoas e imigrantes de terras distantes com seus cultos secretos que sobrevivem na escuridão das ruinas das cidades grandes.
Das três histórias deste livro, esta é a mais sangrenta e a mais assustadora para mim, porque embora existam muitos elementos fantásticos e sobrenaturais, que tudo bem, são desconfortantes, existem também elementos da sombria realidade. Sequestros, raptos de pessoas para o mercado negro de órgãos e de escravos é algo real. Foi inclusive tema da campanha da fraternidade em 2014. É algo que já existia naquele início de século e que persiste em assustadora proporção nos nossos dias.
CONCLUSÃO
Bom, o objetivo dos contos é distrair ao leitor, enriquecer seu vocabulário, mas também trazer reflexões sobre a realidade que nos cerca. Um dos trunfos do Lovecraft é conseguir misturar elementos fantásticos e aterrorizantes aos elementos da realidade. E certamente por fazer esta costura tão bem, ele tem sido referência a tantos e tantos escritores do gênero.
Eu sei que muitas pessoas sentem medo justamente destes elementos fantásticos. Mas sabe, uma coisa dos contos dele que mais me assusta, e que não se limitam a histórias fantasiosas, são os desdobramentos psíquicos que aquelas pessoas em seus traumas, enfrentam, como a perda da sanidade. Quão grandes são os terrores que não nos deixam mais ter paz em nossas mentes e em nossos corações e que assim, minam as nossas percepções do mundo e do nosso próprio ser, nos roubando de sermos quem nós verdadeiramente somos.
site: https://youtu.be/Ual2Hh4A7Wk