Isabella.Wenderros 22/10/2020“Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso.”A Igreja Católica é ambígua: ao mesmo tempo em que valoriza a caridade e o amor ao próximo, está repleta de intolerância e crueldade. Uma de suas figuras mais importantes é Maria Madalena, a pecadora que ao conhecer Jesus se arrependeu e foi redimida, então que melhor nome para os asilos onde "mulheres perdidas" poderiam se afastar de sua depravação? Assim surgiram as Lavanderias Madalena.
Em "As Garotas Madalenas", V. S. Alexander decide dar destaque à essas meninas que ao longo de décadas sofreram abusos físicos e psicológicos nas mãos das freiras que estavam ali no papel de guardiãs – mas acabaram se tornando carrascas e carcereiras. Existiam alguns motivos que poderiam levar as jovens para esses conventos, entre eles, ser prostituta, mãe solteira ou até mesmo possuir uma beleza que chamasse muita atenção.
Aos 16 anos, Teagan Tiernan é enviada pelo pai alcóolatra para um desses locais depois de um escândalo envolvendo um belo jovem padre. Lá, conhece Nora Craven, uma jovem rebelde que desejava mais do que a vida doméstica. Quando a Madre Superiora apresenta a vida de uma penitente – cheia de trabalho duro – para suas novas "pupilas", um laço de amizade e uma necessidade urgente de escapar surgem.
Conforme as personagens vão vivenciando a rotina exaustiva de trabalho e oração - sem contar os castigos - eu fui ficando cada vez mais incomodada. A tarefa que, teoricamente, deveria elevar o espírito da pecadora em direção à Deus, não passava de servidão e um jeito de a Igreja ganhar dinheiro sem precisar pagar nenhum tipo de remuneração. Ao longo das páginas também pude sentir junto com as meninas a sensação de impotência, afinal, eram elas não apenas contra a Igreja, mas também contra o estado e uma sociedade conservadora. Lentamente iam perdendo sua força de vontade, até que restava apenas resignação. Suas vidas eram destruídas e até os próprios nomes perdiam, sendo renomeadas com nomes de Santas Católicas – se juntar tudo isso, é como olhar uma rosa ir lentamente murchando, até não restar nenhuma centelha de vida em algo que um dia fora tão belo.
Outra personagem importante para a história é Lea, que via no convento seu verdadeiro lar. Confesso que eu não entendi muito sua personalidade sonhadora e quase devocional, mas sua fé e sacrifício em prol daquelas que amava foram emocionantes. A perda de Nora foi devastadora e me tirou algumas lágrimas, principalmente pelo fato de que a própria jovem foi "responsável" pela desgraça que caiu sobre sua vida - e quando digo responsável, quero dizer com muitas aspas. Nada daquilo teria acontecido se a Igreja não fosse tão punitiva.
Esse livro me despertou curiosidade e também questionamentos. Parece que existem alguns filmes que falam sobre essas lavanderias e pretendo assistir. O final do livro me decepcionou um pouco, queria ter visto uma Teagan cumprindo a promessa feita à uma amiga e saber o destino daquelas que ficaram presas no convento. Também fiquei chocada ao saber que o último Asilo para Madalenas foi fechado em 1996, sem que o governo irlandês ou a Igreja se preocupassem com as internas idosas que habitavam a construção, despejando essas mulheres que não tinham famílias, amigos ou dinheiro. A nota do autor foi um ótimo extra do qual gostei bastante. Terminei a leitura com o pensamento de que se um dia fosse escrever qualquer livro de não-ficção, essas lavanderias seriam o tema.