O beijo

O beijo Anton Tchekhov




Resenhas - O Beijo e Outras Histórias


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Carolina 17/05/2020

É um autor que trata a escrita com delicadeza, apesar de não me conectado muito com um dos contos do livro.
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Diego Rodrigues 04/07/2023

A profundidade de um Dostoiévski com a beleza de um Turguêniev
Se em "A Dama do Cachorrinho e Outros Contos" o foco foram as narrativas curtas de Tchekhov, "O Beijo e Outras Histórias" traz alguns de seus contos de maior fôlego. Organizado e traduzido por Boris Schnaiderman, o volume reúne seis noveletas do exímio contista russo publicadas entre 1887 e 1892. São histórias que passeiam por temas que vão desde o amor e a efemeridade das relações até morte e a psicologia humana, todas elas ornamentadas pela sutileza, sensibilidade e zelo estético que eram tão caros ao escritor.

"O beijo" e "Viérotchka" tratam do amor. No primeiro, um oficial de artilharia é beijado por engano e o breve gesto, apesar de não durar mais que um piscar de olhos, é o suficiente para despertá-lo para uma vida de miséria e solidão. No segundo, um escritor se vê imobilizado diante de uma declaração de amor inesperada que não faz mais que o mergulhar em um conflito interno. Destoando dos demais, "Kaschtanka" traz uma atmosfera mais lúdica ao narrar as aventuras de uma cadelinha que se perde do dono e acaba indo parar numa espécie de circo. O conto é recheado de humor (destaque para o gato que despreza a tudo e a todos), embora este acabe sendo um pouco ofuscado pela crueldade escancarada com os animais.

Chegamos a minha parte favorita! A tríade psicológica do livro abre com "Uma crise", conto no qual iremos acompanhar um grupo de jovens estudantes que sai para uma noite de farra, mas, ao frequentar as "casas de tolerância" e entrar em contato com o lado mais sórdido da vida, um deles sucumbe a uma crise moral que pode lhe custar a vida. Em seguida, temos "Uma história enfadonha". Narrada em forma de manuscrito, a obra nos apresenta em primeira mão os tormentos de um renomado professor que, ao tomar consciência da própria finitude, se vê acometido da mais profunda crise existencial. A certa altura ele questiona: "Teria o mundo se tornado pior, e eu melhor, ou antes eu era cego e indiferente?" A narrativa traz muito do pessimismo russo e ecoa traços da típica crise de identidade machadiana.

Por fim, temos o clássico "Enfermaria nº 6", conto perturbador que nos coloca dentro de um hospital psiquiátrico e narra o declínio do médico-chefe à condição de paciente. É uma história amarga e desesperançosa, que traz à tona temas como a loucura e a condição humana. Os diálogos entre médico e paciente, embebidos de embates filosóficos, são irretocáveis e constituem, sem dúvida, um dos grandes momentos da literatura russa. A conclusão que o médico chega é a de que "A vida é uma triste armadilha. Quando um homem de pensamento alcança a idade viril e atinge uma consciência lúcida, ele se sente involuntariamente como que apanhado numa armadilha, da qual não há saída." Espécie de "O Alienista" russo, a obra tem como marca o mergulho às profundezas mais obscuras da alma, à la Dostoiévski, com o cuidado estético de um Turguêniev. A novela ganhou uma fidedigna adaptação homônima em 2009 (parece que há uma mais antiga também), a qual eu assisti e recomendo fortemente para aqueles que têm interesse pelo tema.

Tchekhov era médico e isso sem dúvida deu a esses contos psicológicos uma profundidade mais acurada, não por acaso eles roubaram completamente a cena neste volume. Mestre da narrativa curta, o autor sempre dizia ser desafiante escrever histórias mais longas. É no "pouco espaço" que sua sutileza se sobressai. Mas, vemos aqui que, mesmo em um espaço mais abrangente, sua genialidade perdura. É isso, o homem simplesmente escreve bonito! Os belos retratos da natureza que ele pinta, sua sensibilidade ímpar na hora de descrever emoções e o tom poético que ele dota mesmo as personagens mais atormentadas, tudo isso resulta em uma leitura prazerosa, mesmo quando o tema se mostra sombrio. É fato que Dostoiévski escrevia muitas vezes sob condições penosas (em luto, em cárcere, perseguido por credores ou atormentado pela epilepsia), mas sempre me perguntei como seriam seus temas psicológicos se tratados com maior cuidado estético. Os contos de Tchekhov permitem ao leitor um pequeno vislumbre.

site: https://discolivro.blogspot.com/
@quixotandocomadani 04/07/2023minha estante
Bela resenha! Tchekhov está na minha lista, mas tá dificil! Não li nenhum russo esse ano ainda, mas olha... esse "Enfermaria nº 6" fiquei mto na vontade heim!


Diego Rodrigues 04/07/2023minha estante
Esse conto é perfeito na mesma medida em que é desolador!
Assisti a adaptação naquele canal de cinema russo, o CPC-UMES Filmes, sabe? Se tiver difícil encaixar a leitura, tenta assistir.. Vale a pena!




Camila_Andrade 07/06/2010

Pobre Riabovitch!

Pobres de nós todos, aliás - Tchekhov nos expôs.
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MK 12/09/2009

Perto de Machado de Assis
Todos os contos desse livro são fantásticos, mas o último (A Enfermaria número 6) foi o que mais me impactou. Há nele uma certa proximidade com o Alienista, de Machado. A linguagem é despida de adereços dispensáveis e a sensação de estarmos ao lado do personagem que se vai distanciando da vida dita lúcida é tão marcante que mesmo o frio e os cheiros descritos se fazem presentes.
Vale a pena ler e reler.
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Jéssica 07/08/2020

Russos tristinhos
Esse livro me lembra muito A Morte de Ivan Ilitch. Existe uma angústia e deterioração dos personagens - seja física ou psicológica - que é bem assustadora pra mim (e isso passa por todos os contos). O passar dos anos sempre se relacionando a uma perda e reencontro de si mesmo, embora nem sempre o reencontro seja bom. Tchekhov consegue provocar uma melancolia em poucas páginas e talvez por isso assuste tanto. Recomendo bastante a leitura e meus contos favoritos foram Enfermaria N°6 e A Crise. Essa edição da editora 34 é muito boa porque tem comentários sobre a repercussão e criação dos contos na época :)
Olivia 07/08/2020minha estante
Resenhas perfeitas! Já quero ler.


Jéssica 11/08/2020minha estante
Obrigada, amigaaaa! Recomendo demais!


Wander Luis 18/08/2020minha estante
Tks! Agora tá na lista agora...


Jéssica 27/08/2020minha estante
Haha é muito bom, espero que vv goste




Samy 25/12/2022

O Beijo e Outras Histórias é uma coletânea de quatro contos e duas novelas escritos por Tchekhov. 

Os textos foram selecionados e traduzidos por Boris Schnaiderman, um dos principais tradutores de russo para o português. Os relatos foram publicados pela primeira vez na década de 1960, sendo que esta é uma reelaboração das traduções feitas por Schnaiderman. 

Os textos têm temas variados, sendo prazeroso notar a qualidade que Tchekhov aborda tanto situações cômicas como no caso de O Beijo, como faz críticas sociais como as apresentadas em Uma Crise e Enfermaria N.6. 
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Karen 12/12/2022

Contos e fábulas
O conto que leva o título do livro (O BEIJO), não foi o meu preferido nesse compilado, me divido entre UMA HISTÓRIA EFADONHA e ENFERMARIA N. 6 dentre os melhores reunidos aqui.
Pequeneza perto da grandeza de cada um deles, cada qual o a sua sutil lição de moral, como fazem as fábulas infantis - no caso de contos adultos, muito a refletir sobre nossas "verdades".
"Em primeiro lugar, dizem que os sofrimentos conduzem o homem à perfeição e, em segundo, se a humanidade aprender realmente a aliviar os seus sofrimentos por meio de gotas e pílulas, há de abandonar completamente a religião e a filosofia, nas quais até agora encontrou não só uma defesa contra todas as desgraças, mas até felicidade."
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Elineuza.Crescenci 13/08/2021

Refletindo a vida
Tema: Leituras de Agosto 2021 (2)
Título: O beijo e Outras Histórias
Autor: Anton Tcheckov
País: Rússia
Páginas: 233
Avaliação: 4/5
Término da leitura: 13/08/2021
Círculo do Livro – SP - 1984

O Autor
Médico, dramaturgo, escritor.
Um dos maiores contistas dos últimos tempos.
Nasceu em uma cidade ao sul da Rússia em 1860.
Morre em maio de 1904 vitimado pela tuberculose, ao lado de Olga sua esposa.

A Obra
Um conjunto de contos que revelam uma realidade existente na Rússia de 1800.
As artes, a formação profissional, o amor, a guerra... ingredientes de cada um dos contos.
O beijo: O inusitado de um amor às escuras e de um beijo de uma desconhecida.
Castanha : O amor pelos animais e o amor dos animais pelo homens que mais parecem animais.
Vierotchka – Um profissional da contabilidade e sua relação com os clientes e seus registros.
Uma crise – Os caminhos que os profissionais tem que seguir ou a se adaptar. Os intelectuais e os populares. O que os distingue?
Uma história enfadonha – No fim da vida... O que fizemos? O que faremos antes do fim?
Enfermaria nº 6 – Os abandonados pela sociedade. Que humanidade haverá em cada um deles?



Considerações
1. Os contos traduzem uma sensibilidade e uma realidade que nos remetem a um passado e a uma cultura desconhecidas.
2. No final gostei dos contos.

Citações
1. Para começar, Kátia queixou-se dos seus colegas: é o primeiro sintoma, o mais sinistro; se um jovem cientista ou literato inicia a sua atividade queixando-se amargamente de outros cientistas ou literatos isso quer dizer que ele já se extenuou e não serve par o trabalho. Página 104
2. Tudo o que há de bom no mundo não pode existir sem o ruim, e há sempre mais coisas rins que boas. Página 125
3. Dizem que os filósofos e sábios autênticos são indiferentes. Não é verdade, a indiferença constitui uma paralisia da alma, a morte prematura. Página 141
4. E para que impedir os homens de morrer, se a morte constitui o final normal e legítimo de cada um? Página 160
5. ... Neste mundo tudo é sem importância e desinteressante, a não ser as manifestações espirituais superiores da razão humana. A inteligência traça uma fronteira nítida entre o animal e o homem, lembra a natureza divina do segundo e, de certa maneira, substitui para ele a imortalidade, que não existe. Página 164
6. Pois bem, assim como na prisão os homens ligados pelo infortúnio comum sentem-se aliviados quando se reúnem , assim também na vida não se percebe a armadilha, quando as pessoas que tendem para a análise e as generalizações reúnem-se e passam o tempo na troca de ideias livres, altivas. Página 165
7. A verdadeira felicidade é impossível sem a solidão. Página 189
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Alvaro.Diogo 26/05/2021

Meu primeiro contato com a literatura Russa
Sempre ouvi falar da "Arma de Tchekhov", mas nunca tinha lido nada dele ou de literatura russa.

Esse primeiro contato foi tímido, não me envolveu muito, mas gostei. Pretendo ler mais dele assim que possível, quem sabe a próxima leitura já conhecendo o estilo do autor e as constantes citações da cultura russa faça a leitura mais fluida.

Dessa coletânea de contos o que mais me agradou foi "Kaschtanka".
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Luciana.Lourenco 31/05/2021

Sensacional! Contos com uma mestria de narrativa e análise da complexidade humana, com finais surpreendentes. Amei conhecê-lo.
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Ronnie K. 18/11/2009

A alma russa!
Ao lado de "O assassinato e outras Histórias", lançado pela Cosac&Naify, essa é a melhor coletânea de Tchekhov lançada no Brasil. São seis contos; 5, no mínimo, formidáveis. Pra começar tem o conto que dá título ao livro. "O beijo" é um dos mais românticos e atmosféricos contos escritos. É um conto noturno. Percebe-se com nitidez quase papável a brisa da noite, a música do ssalão de festas, o frenesi dos convidados, o múrmúrio; depois a silenciosa vibração noturna, o aroma da vegetação, a solidão, o devaneio. Lindo! Tchekhov escreve como se compusesse uma bela sonata noturna ao piano. O mesmo clima desse conto se encontra igualmente no inesquecível "Viérotchka", estória de um amor intenso não declarado e por isso frustrado. Talvez esse seja o mais melancólico dos contos tchekhovianos, e um dos mais belos! "Uma crise" e "Enfermaria nº 6" seguem uma linha diversa, mas são igualmente sedutores. O primeiro é o retrato da ingenuidade contra a crueza e o realismo, outra marca do grande contista russo. É quando um estudante, na companhia de dois colegas, visitam uma zona de prostituição e fica abalado; tenta então salvar ao menos uma dessas prostitutas como se fosse uma missão que se impõe. Guardadas as devidas proporções lembra Travis Bickle, o personagem de De Niro em Taxi Driver! Já Enfermaria n° 6 é cruel, engraçado, triste, impressionante. É um grande representante daquele estilo conturbado dos grandes escritores russos. Conto perturbado, enfático, tragicômico e exageradamente discursivo, como só os russos sabem ser quando querem! Quem lê dificilmente esquece. Infelizmente foi incluído na coletânea um conto fraco, onde não se percebe nem a sombra da pegada dos outros aqui reunidos. É o ironicamente intitulado "Uma história enfadonha", e na verdadde trata-se disso mesmo, até porque é o mais longo do livro. Entretanto, é um fato a se relevar diante de um conjunto tão brilhante representado pelo restante do volume!

TRECHO do conto "O beijo"

"Riabovitch deteve-se pensativo... Nesse ínterim, inesperadamente para ele, ouviram-se passos apressados e um frufru de vestido, uma ofegante voz feminina murmurou: "Até que enfim!" e dois braços macios, cheirosos, indiscutivelmente femininos, envolveram-lhe o pescoço; uma face tépida apertou-se contra a sua e, ao mesmo tempo, ressoou um beijo. Mas, imediatamente, aquela que o beijara soltou um pequeno grito e, foi a impressão de Riabovitch, afastou-se dele com repugnância, num movimento brusco. Ele também por pouco não gritou, e correu para a fenda fortemente iluminada da porta..."
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Matheus Penafiel 09/03/2017

Qualidades de narrador
No ensaio O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov, o filósofo Walter Benjamin faz considerações sobre aquilo que compete ao narrador analisando a obra do escritor russo Nikolai Leskov. Começa por caracterizar a narrativa como uma faculdade que nos parece segura e inalienável por se tratar de um intercâmbio de experiências. Ele precisa ainda mais o que compreende ao dizer que “o senso prático é uma das características de muitos narradores natos”. Fala sobre Gotthelf que dá conselhos de agronomia através de sua narrativa, e sobre Nodier que versa sobre os perigos da iluminação a gás.

Porém, Benjamin não pretende compreender a atividade narrativa desde essa perspectiva limitada. Ele observa que “Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma de vida – de qualquer maneira, o narrador é um homem que sabe dar conselhos”. O narrador de Walter Benjamin parece, no entanto, muito ligado às fábulas, nas quais, ao final, se apresenta uma moral da história.
Outro escritor russo Anton Tchekhov, porém, parece se dirigir na contramão dessa concepção de narrador, e O beijo e outras histórias é exemplo disso. O livro é constituído por seis contos, sendo eles O beijo, Kaschtanka, Viérotchka, Uma crise, Uma história enfadonha e Enfermaria nº6. Comecemos, portanto, pelo primeiro dos contos.

O beijo
O título por si só nos é convidativo. “O beijo”, dito assim, parece único e derradeiro. E desde logo começamos a nos perguntar qual a história por trás desse beijo. Já o enredamos nos ares do mistério. O conto começa por narrar a chegada de seis baterias de artilharia na aldeia de Miestietchko, onde montariam acampamento. Lá chega um cavaleiro que os convida, a mando do Tentente-General Von Rabbek, a irem à sua casa tomar chá. É quando já estão na casa que somos apresentados ao herói do conto, Riabóvitch. Dentro da casa do general, Riabóvitch, já entediado para jogar bilhar com outros oficiais e tímido demais para cortejar alguma moça, percorre algumas salas em busca do salão em que estava. Se perde e, na tentativa de encontrar o caminho de volta, entrou num escritório escuro, onde ouviu passos apressados e o frufru de vestido. Então uma moça o beijou, sem que Riabóvitch pudesse saber quem era.

Kaschtanka
Nesse conto relata-se um período da vida de Kaschtanka, uma cadela mestiça, mistura de basset e vira-lata, em que ela se perde de seus donos, Luká Aleksândritch. Ele é um marceneiro que odeia a cadela. Chega a lhe dizer que deseja que morra, que é um inseto. Mas a leva consigo durante um longo percurso, que vai desde a taverna, a casa da irmã, a casa do compadre e até o retorno à taverna, já de noite. Um regimento de soldados passa por perto da taverna tocando música, o que deixa a cadela assustada e começa a uivar. Agitada como estava, corre para o outro lado da rua. Quando passa o regimento, ela retorna à calçada onde estava seu dono, mas já não o encontra, ficando desesperada a sua procura.

Viérotchka
“Acostumei-me a vocês que nem um cachorro perdigueiro”, é o que diz Ivan Aleksiéitch Ognióv ao se despedir do hospitaleiro Kuznietzóv, na casa de quem dormiu muitas vezes, conforme nos diz em seguida. Era grato também a sua filha, Viera Gavrínovna, ou carinhosamente Viérotchka, quem não encontrara para se despedir. No entanto, a moça o esperava fora da casa, e se oferece para acompanha-lo até a pontezinha. Durante a caminhada, o homem confessa que, em vinte e nove anos de vida, jamais tivera um romance.

Uma crise
Os jovens Meyer e Ríbnikov, ambos estudantes, o primeiro de Medicina e o segundo de Belas-Artes, convidam um amigo, o estudante de Direito Vassíliev, ao Beco de S…, lugar para se aventurar com as “mulheres decaídas”. Vassíliev é resistente ao convite, mas cede aos amigos. Ainda que na primeira casa tenham sido recebidos com hospitalidade por três moças, Vassíliev permanece incomodado com o ambiente, pensando que é tudo comum e desinteressante, podre e estúpido.

Uma história enfadonha
Esse conto, curiosamente, não possui nada de enfadonho. Mas não posso negar certa proximidade com o tema. O personagem que narra a história é o professor Nicolai Stiepanovitch, possuidor de inúmeras condecorações e conhecido por toda pessoa alfabetizada. O narrador descreve os diferentes aspectos de sua vida, o que se torna interessante desde a perspectiva de primeira pessoa, pois compartilha seus juízos com seus leitores. Seu dia começa com a rotineira visita de sua mulher em seu quarto, após toma chá, veste-se e se dirige para ministrar aula na universidade, atividade que já duram trinta anos. É recebido pelo porteiro e seu xará Nicolai, por quem o notório professor guarda grande estima.

Enfermaria nº6
A enfermaria nº6 nos oferece duas perspectivas. Nos permite o contato e a discriminação entre os loucos e os sãos. Possui dois personagens centrais, Ivan Dmítritch e o Dr. Andréi Iefímitch Ráguin, a partir dos quais o narrador explora essa duplicidade, que nos faz questionar quem deveria estar isolado na clausura.

As narrativas de Tchekhov
Se, por um lado, Walter Benjamin sugeria que o narrador deve oferecer respostas, um aprendizado, um intercâmbio de experiências, por outro lado Anton Tchekhov acredita ser função da narrativa a interrogação. Chegou a dizer é certo “exigir que o artista tome uma atitude inteligente em seu trabalho, mas você confunde duas coisas: resolver um problema e enunciar um problema corretamente. Apenas o segundo é obrigatório para o artista”.

O autor não nos fornece resposta, mas desenvolve a narrativa de modo à sempre explorar lacunas, transmitindo ao leitor algum questionamento. Alguns deles são apenas sobre o enredo, como é o caso de O beijo, no qual ficamos intrigados com a identidade de quem beijara Riabóvitch. Tchekhov falha, porém, ao nos dispor o acervo de pretendentes: pouco fala das possíveis mulheres, o que não permite intimidade com alguma delas, tampouco eleger alguma favorita. Mas mantêm, apesar disso, as dúvidas sobre como deve agir o oficial.

Kaschtanka e Viérotchka são melhor exemplo desse esforço do narrador. Seus finais certamente nos deixa desgostosos, inquietos, intrigados e com a suspeita de que agiríamos diferente do que as personagens. No entanto, se nos permitirmos a mesma introspecção dos personagens dos contos, poderíamos nos questionar com louvável honestidade: será que faríamos diferente?

Os três últimos contos, Uma crise, Uma história enfadonha e Enfermaria nº6, proporcionam outro tipo de questionamento, mais profundo se bem analisados. Tchekhov constrói um olhar sobre duas facetas da sociedade. Em Uma crise é a dos estudantes com a das “mulheres decaídas”, em Uma história enfadonha é a do porteiro em contraposição a um colega cientista, ou ainda da família de Nicolai Stiepanovitch em contraste com a de sua protegida Kátia, e em Enfermaria nº6 o questionamento sobre quem deveria ocupar as celas do manicômio. Sem nenhuma surpresa, os questionamentos desses três contos permanecem atuais.

site: www.matheuspenafiel.wordpress.com
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@vilmar_martins 12/03/2020

Tchekhov, está diferente...
Uma coletânea distinta, acostumados com os relatos breves e com algumas doses de humor do mestre russo, nessa obra somos apresentados a duas longas e angustiantes narrativas, recomendo começar a leitura por essas duas narrativas "Enfermaria 6" e "Uma história enfadonha". Ler esses dois contos (ou seriam crônicas?) é ser transportado para um universo russo na sua melhor concepção.
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Gláucia 05/07/2011

O Beijo e Outras Histórias - Anton Tchekhov
O autor é mestre no gênero conto e esse volume reúne um de meus preferidos, Enfermaria número 6, onde podemos observar sua vivência como médico. Contém outros cinco contos, todos primorosos.
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