alinenotalien 29/08/2019
Sugar Daddy, Mai Passos G. | Resenha com spoilers, leia por sua conta e risco! #2bjos
Pensem em um bait, mas um bait bom! Sabe aqueles livros que você pega e nem se dá ao trabalho de ler a sinopse, mas acaba adorando a leitura? Sugar Daddy foi um desses raros casos pra mim e eu tive uma grande surpresa, além de ter levado alguns tapas na cara ao passar dos capítulos. Por que? Bom, pelo nome do livro, achei que teríamos um romance entre o sugar daddy e sua sugar baby e eu não esperava ser levantado temas tão importantes ao longo do livro, que me fizessem parar pra pensar e refletir.
Ariel é uma jovem sonhadora, saiu do interior do estado para a capital em busca de uma vida melhor e de conquistar seu maior sonho: se formar em jornalismo! Mas como nem tudo são flores, Ariel acabou em uma empresa de call center. E pra desgraçar de vez, Ariel perde seu emprego. Porém, Ariel tem uma alternativa, dada pela sua melhor amiga, Carol: inscrever-se em um site para ser “sugar baby” de um ricaço.
Ciro é um grande empresário do ramo têxtil, cansado de mulheres que só querem engravidar a todo o custo para garantir uma boa pensão. Mais do que isso: Ciro possui um segredo e precisa manter as aparências. E em Ariel, ele encontra tudo o que precisa para manter seu segredo a salvo: beleza e, o mais importante honestidade. No meio disso tudo, ainda temos Enrico, filho de Ciro, determinado a desmascarar o pai e fazê-lo sofrer tanto quanto sua mãe sofreu ao lado do ex-marido.
Ao contrário do que o nome do livro indica, aqui não temos uma relação entre sugar daddyxsugar baby porque (pasmem, ou não), o Ciro é gay! Ele proporciona e banca os luxos da Ariel apenas para manter a aparência. O verdadeiro romance acontece entre Enrico e Ariel, e foi um dos melhores casais que já vi ao longo desses anos como leitora. “Por que?”, você deve estar se perguntando. Simples: Ariel não é como aquelas mocinhas frágeis, inseguras e que se deixam dominar pelos machos, muito pelo contrário. Apesar de todas as dificuldades que ela enfrenta, seja financeira ou até mesmo as crises morais em relação a ser sugar baby, ela é segura, determinada e não se deixa dominar. E Enrico não é o típico machão possessivo, o que já é algo ótimo também. Amém, Mai Passos G., por esses personagens maravilhosos!
Entretanto, o ponto mais importante desse livro, com certeza foram as temáticas extremamente importantes e necessárias serem expostas e discutidas, fazendo o leitor parar para pensar sobre o assunto. Esses temas são a aceitação da homossexualidade, os questionamentos sobre a moralidade em ser uma sugar baby e se a prática seria “a nova prostituição do século XXI”.
“— (...) Não há problema em ser homo afetivo, Ariel. (...)”
“— Seu pai foi criado em outra época, Enrico. Ele sabe o que sente, mas a opressão daquele tempo o faz sentir medo. Nunca pensou em conversar com ele? Entender? Vocês homens são a vida toda criados para serem os homens da casa, dos negócios, os machões que não podem chorar e nem demonstrar emoções… Vivem dentro desse tabu que os consomem, que mata vocês.”
Esse diálogo entre Enrico e Ariel é uma das melhores coisa nesse livro. O fato de Enrico aceitar que seu pai é homossexual é tocante, enquanto em muitos outros livros seria tratado como algo “anormal”. Ariel ajudando Enrico a compreender que Ciro tem seu próprio tempo para assumir publicamente que é gay é simplesmente fantástico!
“Homens eram criados para esconderem os sentimentos, ensinam a eles desde pequenos que demonstrar o que sentem é vergonhoso e nada masculino, que é coisa de “mulherzinha”, de “viado”, e que expressar as emoções os deixa menos homens. Quando eles precisam lidar com a própria sexualidade isso os afeta de maneira devastadora, atingindo tudo em volta.”
A questão de como os homens são criados, sendo obrigados a esconder seus sentimentos, suas emoções por conta de uma cultura machista, é outro ponto super importante, que deve ser exposto para revertermos essa situação na sociedade. Já disse que amo a autora por abordar esse tema no livro?
“O que ninguém via nas pessoas que estavam à margem da sociedade é que a grande maioria não fazia aquilo só por prazer, existiam milhões de motivos para tal. E não cabia a mim e nem a ninguém julgar ou apontar dedos.”
Por último, mas não menos importante, sobre o que leva uma mulher a entrar no mundo sugar daddy e se a prática pode ser relacionada com a prostituição. E foi aqui que eu levei um tapa na cara. Ver que muitas mulheres se sujeitam a entrar nesse mundo simplesmente porque não tem mais alternativa, seja porque perdeu o emprego e querer entrar em uma faculdade, como o caso da protagonista, ou outro motivo qualquer, faz você parar um pouco pra refletir se é realmente algo errado, sujo, imoral e se isso é apenas “se aproveitar”, “ser gananciosa”. E é ainda mais interessante dividirmos esses conflitos juntamente com Ariel.
Sugar Daddy é um livro que eu recomendo, e recomendo muito. Não é um livro vazio de conteúdo, tem tudo na medida certa: romance, cenas picantes, conflitos entre os personagens, tabus. Há erros ortográficos que passaram batidos na revisão e que podem incomodar e quebrar um pouco a imersão da leitura. Esse foi o motivo pela avaliação ficar em 4 estrelas (sou chata com essas coisas, sorry!).