Nessa Gagliardi 22/09/2010Já conheceia Gregório Duvivier, o humorista. Me deliciei com sua peça "Z.É.", mas não conhecia esse outro lado artístico do ator. Gregório utiliza de sua veia humorística para dar vida também aos seus poemas. O soneto "Receita para um dálmata" é divertidíssimo e arrancou gargalhadas da plateia durante sua declamação no SESI. Porém, nem só de humor é feito "A Partir de Amanhã Eu Juro que a Vida Vai Ser Agora". Algumas de suas poesias são românticas, delicadas, como "Soneto prático para a despedida".
É livro fino, fluido, de gostos leitura.
Parafraseando Paulo Henriques Britto na orelha:
"Em todas as peças do livro, evidenciam-se uma inteligência viva e um bom domínio da técnica do verso, que fazem de 'A Partir de Amanhã Eu Juro que a Vida Vai Ser Agora' uma bela estreia."
Receita para um dálmata
(ou Soneto branco com bolinhas Pretas)
Pegue um papel, ou uma parede, ou algo
que seja quase branco e bem vazio.
Amasse-o até que tome forma
de um animal: focinho, corpo, patas.
Em cada pata ponha muitas unhas
e em sua boca muitos dentes. (Caso
queira, pinte o focinho de qualquer
cor que pareça rosa). Atrás, na bunda,
ponha um fiapo nervoso: será seu
rabo. Pronto. Ou quase: deixe-o lá
fora e espere chover nanquim. Agora
dê grama ao bicho. Se ele rejeitar,
é dálmata. Se comer (e mugir),
é uma vaca que tens. Tente outra vez.