Linguagem

Linguagem Daniel L. Everett




Resenhas - Linguagem


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Refugios das Letras 08/07/2020

Prosseguindo em minhas leituras sobre a linguagem, chegou a vez de ler atentamente a visão do antropólogo Daniel Everett. Reconheço que inicialmente me senti mais atraído pelo livro que relata suas experiências e descobertas entre as tribos amazônicas, mas depois de assistir o vídeo de uma incrível demonstração do seu método de trabalho resolvi que daria mais atenção ao que ele tem a dizer.
Desde o início do livro é perceptível a preocupação em posicionar sua teoria da linguagem com um viés não fatalista e indicar todos os passos de sua evolução dentro de um gradiente temporal. Por ser uma visão à época discordante do paradigma da linguagem, coube ao autor ser muito incisivo e persistente em seus pontos, sabendo que está comprando uma briga. Meu momento favorito é exatamente o início, em que contradiz a bíblia. A palavra "invenção" não está no título a toa, e apesar de não totalmente registrada, o que temos é mais do que suficiente para demonstrar cada um dos argumentos de que, afinal, a linguagem foi sendo criada e aperfeiçoada aos poucos pelos humanos a partir do ferramentário biológico disponível.
Com a exceção de pequenos trechos mais técnicos, o livro é facilmente entendível para um leigo, e desconfio que foi escrito visando mesmo o grande público. As quatro partes, focando no histórico evolutivo, nas adaptações biológicas, avanços das formas linguísticas e seu desenvolvimento cultural, são claramente resumos dos resumos simplificados de muitas pesquisas, mas cumprem o papel de informar o básico de forma leve e bem escrita.
Muito embora seja uma obra para puxar a sardinha para um lado, é inegável a honestidade científica do autor, que não deixa de citar as vertentes opostas sem demonstrar desprezo ou passar um ar de superioridade. Assuntos fora do escopo do livro, mas com alguma importância, são referenciados para o leitor mais curioso se virar depois. E, o que mais me impressionou, considerando a experiência biografia do autor, é que em momento algum ele se coloca no alto de um merecido pedestal durante as argumentações, se atendo apenas ao conhecimento acadêmico.
Recomendado para qualquer curioso no assunto, e um contraponto interessantíssimo à outros autores mais populares.
Me convenceu? Em grande parte sim, em grande parte não. A jornada continua e em breve chega outro livro sobre linguagem.

site: https://refugiosdasletras.blogspot.com/2020/07/linguagem-historia-da-maior-invencao-da.html
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Itin | @merasliteratices 25/04/2023

Qual foi o momento exato em que dotamos os símbolos de significados e passamos a usá-los na troca de informações do dia a dia, nos permitindo tramar e planejar ações que mudariam para sempre a história da vida na Terra? Há quem acredite que a linguagem surgiu de uma mutação em algum momento específico do passado e é inata à nós Homo sapiens, porém é instigante pensar que ela pode ter surgido bem antes disso e ter sido compartilhada conosco por antigos ancestrais hominídeos.

É o que acredita Daniel L. Everett, linguista e pesquisador que defende que a linguagem surgiu com o Homo erectus e foi sendo desenvolvida pouco a pouco com o desenvolvimento cerebral. ‘Linguagem’ é um livro denso, onde Everett “debate” sua hipótese enquanto tenta refutar o paradigma corrente, a obra percorre a paleontologia, arqueologia, antropologia e linguística onde Everett vai passo a passo descrevendo suas ideias. Enquanto a teoria corrente, do renomado Noam Chomsky, postula a existência de uma “Gramática Universal” codificada geneticamente e inata à todos os seres humanos, Everett acredita que a linguagem surge com o desenvolvimento gradual do cérebro dos hominídeos e o aumento da cognição e depende completamente de um contexto social e cultural para acontecer, podendo ser consequentemente muito mais antiga e ter sido compartilhada por outras espécies.

O livro segue os moldes de um clássico debate científico, ao mesmo tempo que Everett explica a história da linguagem, ele vai defendendo seus pontos e atacando outros e por isso é uma obra densa. Os leigos vão se perder fácil em alguns capítulos (principalmente nos que dizem respeito a estrutura da linguagem) e é difícil acompanhar o debate sem entender os paradigmas que estão sendo discutidos. ‘Linguagem’ se “perde” justamente por tentar ser uma espécie de livro de introdução, ao mesmo tempo em que é um elo entre outros livros do pesquisador, levando o leitor que não tem afinidade com o assunto a se perder nas várias ponderações.

No todo, vale o debate (acompanhar debates científicos e ver paradigmas confrontados é algo instigante) e o contexto histórico: se o livro não consegue incutir no leitor que se interessou pelo assunto as noções básicas da linguística, pelo menos o leva para uma viagem ao nosso passado e nos leva a pensar como nossos antepassados começaram as primeiras interações que nos definem hoje em dia.
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Nilo 07/03/2023

Uma obra muito boa!! Traz uma perspectiva bastante atual na interpretação da transmissão de informações entre indivíduos. Discute também, de forma bastante abrangente, a importância da Cultura para a produção de conhecimento humano, sendo a Linguagem intimamente ligada ao processo de articulação dos indivíduos e grupos em torno de valores e suas hierarquias. Rica em referências teóricas importantes, mas elaborando raciocínios próprios, a obra une conhecimento consagrado, informações, pesquisas e interpretações mais recentes numa teoria interessantíssima!
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