Érica | @aquelacomlivros 14/09/2019
SENSACIONAL!!
Na bienal desse ano, tive o prazer de conhecer novos autores nacionais e um deles foi o André Schuck. Além de escritor, o cara é diretor artístico, já escreveu e dirigiu curta-metragens finalistas internacionais, tais como NYC Horror Film Festival e Shriekfest Film Festival, eleito o festival de Horror e suspense mais importante de Los Angeles pela revista LA Weekly. Ou seja, para uma amante de thriller e suspense como eu, a expectativa com este livro estava nas alturas e não me decepcionei.
Por fora, o livro já ganhou a minha atenção, não só pelo título que é bem sugestivo, mas porque na capa e contra capa tem um homem e uma mulher ensanguentados com aquele olhar doentio e atrás vem escrito:
"-Quem é você?
-Demônio.
-O que você quer?
-Mais.
Porém foi quando vi o interior do livro que eu tive certeza de que ele já seria meu. Para a minha surpresa, o livro todo é em formato de um diário, o diário de um serial killer!!!! Gente, fiquei MARAVILHADA com a criatividade do autor e todo seu capricho na montagem do tal diário. A narração em primeira pessoa possui fonte num estilo de escrita à mão, para parecer mesmo que foi o personagem quem escreveu, a narração também tem fonte estilo colagem de revista para dar voz aos demônios com quem o personagem conversa. Não possui marcação de páginas, todo o registro é datado e ilustrado, com desenhos e FOTOS, sim, eu disse fotos! O André contratou atores para encenar alguns dos relatos do psicopata. Então, vemos pessoas ensanguentadas, amordaçadas, mortas, além de imagens dos personagens principais, seja posando para a câmera armados e sujos com o sangue das vítimas, ou em situações mais "comuns" se é que posso chamar assim.
Tudo o que eu mais queria agora era que o Skoob permitisse colocar fotos nas resenhas para eu mostrar para vocês essa belezinha!
Tudo sobre psicopatas me interessa muito, mas estou acostumada a ler sob a perspectiva do detetive, da vítima, ou terceiros, mas nunca estive na cabeça do serial killer e isso é o que acontece neste livro. O personagem principal (não diz o seu nome) é um homem mentalmente perturbado que, logo na primeira página, já nos apresenta sua personalidade doentia, nos contando sobre uma mulher que ele encontrou na saída da faculdade, iludiu com uma conversa mole e a levou para sua casa, mas não para o que ela esperava.
"Agora posso ouvi-la chorando baixinho no canto da sala. Percebeu o terrível erro que cometeu. Gostaria de saber se ela lamenta por si ou pela família, que irá sofrer até o dia de suas mortes, sem nunca saber o que aconteceu com ela."
(E dá-lhe fotos da pobre coitada!)
Ele nos conta um pouco sobre sua infância, com pais drogados e alcoólatras, que o negligenciaram diversas vezes, até mesmo com tentativas de assassinatos pelo pai. Ele já era uma criança "diferente", mal compreendido e sem qualquer ajuda psicológica. Desde cedo começou a dar lugar a essa personalidade que ouvia demônios clamando por sangue e eles passaram a ser sua família.
Como desgraça pouca é bobagem, numa de suas caçadas, conhece uma linda mulher a quem chama de V e que é tão perturbada como ele, ao se deparar com uma alma tão negra quanto a sua, ele se entrega a um romance, digamos, peculiar. Os relatos, então, passam a ser sobre sua vida ao lado de V, sua nova parceira no amor e no crime. Se a coisa já era feia, agora fica pior! Os horrores, a sede por sangue, o prazer em matar, tudo em dose dupla.
"Somos aves negras circulando pela noite.
Do alto observamos.
Do alto elegemos.
Somos aves negras caçando pela noite"
O cenário muda um pouco quando V engravida, perde a bebê e cisma que a alma de sua filha encarnou no corpo de uma menina de 10 anos que ela vê andando na rua com seu pai, tendo então que pegá-la de volta. A partir daqui, vemos um psicopata que de dia cuida da filha e de noite mata pessoas com a mulher. Um misto de vida comum e vida bandida, dois foragidos, com uma criança sequestrada, dizendo a ela que eles são os verdadeiros pais, até onde isso pode chegar?
É muito angustiante ver que coisas normais da vida, tem uma forma completamente diferente aos olhos de um psicopata. Aquelas vozes na cabeça dele, sempre pedindo mais mortes, até mesmo da mulher e da filha que ele ama e defende da própria loucura. A falta de empatia, remorso, ou qualquer sentimento que possa frear seu impulso de machucar alguém é de dar medo porque nada impede ele de matar. Nada o comove. Nada.
O fim, apesar de ser o que eu esperava, teve uma surpresa que me deixou um pouco chocada, não vou negar que também me deixou com um gostinho de quero mais. Super recomendo essa leitura para você que adora um thriller!
"Cicatrizes desse tipo não são curadas. Podem ficar adormecidas, mas sangram, mesmo que não lembremos delas o tempo todo."