spoiler visualizarAutora Dilma Barrozo 26/11/2020
A ALMA DA ÁFRICA
Você já leu “A Casa Da Água”? Foi com essa pergunta, feita pelo meu querido amigo Sérgio Senna Senna, que pude começar a reparar uma grande falha nos meus estudos de literatura brasileira. A partir dela travei contato com a trilogia Alma da África, de Antonio Olinto, grande africanista brasileiro, a quem só conhecia como poeta e crítico literário. Confesso que fiquei fascinada com o universo criado por Olinto, situado entre ficção e realidade histórica. Ao longo dos 3 livros acompanhamos a saga épica de três grandes personagens femininos, iniciada com o retorno de uma descendente de escravos e sua família à África, partindo de Minas Gerais, em busca de si mesma e de sua história. É a força de cada uma dessas mulheres o núcleo principal de A Casa Da Água, O Rei de Keto e O Trono de Vidro. Ressalvadas as particularidades de cada livro , todos nos revelam a convivência dos agudás, o mundo africano em toda sua riqueza e singularidade. Com Mariana, Abionam e Ilufemi visitamos décadas de história de diversos países africanos, suas festas, rituais, costumes, as horas de deslocamento a pé pelas estradas, a vida nos mercados, que sempre foram grandes centros de convivência, a devoção religiosa, o grande respeito aos orixás e aos antepassados, o sincretismo, a magia da dança, as questões políticas e econômicas, as características geográficas, o respeito à natureza. Tudo isso e muito mais se vivencia em Alma da África. Embora cada livro possa ser lido isoladamente e traga uma história independente, ler a trilogia nos mostra o fechamento de um ciclo que se inicia e praticamente se fecha no Piau, em MG. Cada livro é um trecho de solo africano, cada livro é um pouco de Brasil, cada livro é um trecho de caminho que vamos percorrendo com personagens femininas diferentes nos seus ideais, mas sempre fortes e determinadas na sua luta.