Natascha Kampusch

Natascha Kampusch Michael Leidig...




Resenhas - Natascha Kampusch


1 encontrados | exibindo 1 a 1


Arthur Rimbaud 16/03/2010

Livro sobre Natascha Kampusch descreve vida da "rapariga da cave"
Diário de Notícias
Sociedade
26 Fevereiro 2007

por
Sónia Morais Santos

Não. Ainda não é desta que fica satisfeito um certo apetite pelo grotesco que mora em cada um de nós. A Rapariga da Cave conta muitos detalhes sobre a vida de Natascha Kampusch - a rapariga que foi raptada aos 10 anos e que cresceu numa cave de onde só fugiu aos 18 - mas ainda não revela se ela foi ou não abusada sexualmente, ou se houve mesmo, como chegou a especular-se, um relacionamento sexual "consentido" entre sequestrador e sequestrada. Os indícios estão todos lá, mas ainda não são dados como certos.

Não admira. Durante dez anos, o que se passou no n.º 60 da Heinestrasse só duas pessoas sabem: Wolfgang Priklopil e Natascha Kampusch. O primeiro suicidou-se e a segunda parece determinada a manter secretos muitos episódios da sua peculiar vida.

A Rapariga da Cave, agora editado em Portugal pela Difel, impressiona. Em algumas passagens arrepia. Lê-se depressa, de um fôlego, com a curiosidade de quem espreita um acidente de viação. Porém, e felizmente, não se tropeça em pieguice. No final do livro, é muito natural que quem tem filhos sinta um desconforto e alguma tendência para a paranóia. E se fosse o meu filho? E se o meu vizinho do lado for um sequestrador de crianças? E se um dos meus filhos desaparece, na primeira distracção? E se?

O livro impressiona mas, na verdade, seria difícil que não o fizesse. A história de Natascha Kampusch é suficientemente condimentada para que qualquer livro prenda o leitor da primeira à última página. De qualquer modo, não seria justo limitá-lo ao relato de uma história única. A obra dos jornalistas Allan Hall e Michael Lidig é um notável trabalho de reportagem, com largas dezenas de testemunhos, desde agentes policiais a membros da família de ambos os envolvidos, psiquiatras, psicólogos, vizinhos, etc.

Os autores são exaustivos mas não aborrecem. Começam por descrever a infância difícil de Natascha. As discussões dos pais, a separação, as constantes saídas da mãe e consequentes períodos em que ficou sozinha, os amantes da mãe e a suspeita de ter sido vítima de abusos sexuais.

De resto, os jornalistas trazem a lume algumas fotografias a que a polícia teve acesso e que levantam uma suspeição sobre o que pode ter sido a infância de Kampusch: "Quase nua, com botas altas e apertadas, um chicote de montar e um minúsculo top que lhe chega apenas a meio do estômago, parece pouco à vontade enquanto olha para a esquerda, em direcção ao chão. Noutra fotografia, está nua na cama, embrulhada apenas numa estola de pele falsa."

Priklopil também não terá tido uma infância feliz. Segundo as investigações dos jornalistas Allan Hall e Michael Leidig, o pai teria algum desgosto por ter um filho "sensível e tímido", que fez chichi na cama até tarde, e só se interessava por fazer puzzles ou maltratar animais. Em adulto, todas as pessoas que os autores do livro entrevistaram referem o mesmo: Wolfgang Priklopil era alguém em quem não se reparava, "era invisível, apesar de bem parecido". Era o "senhor ninguém perfeito" para cometer um crime perfeito.

Mas o capítulo mais interessante é, sem dúvida, o da vida de Natascha num quarto com cerca de cinco metros quadrados, numa cave, onde uma porta de 15o quilos por detrás de um louceiro a isolava do mundo. Quem decidia se havia luz ou se estava escuro como breu era o sequestrador e até o ar que Kampusch respirava era controlado pelo seu raptor: "Quando estava escuro, à noite, ou quando Priklopil desligava a luz num acesso qualquer de má disposição, assemelhava-se à total provação dos sentidos." Foi a própria Natascha quem disse: "Não havia Primavera, Verão, Outono ou Inverno."

A relação entre os dois terá sidode uma complexidade difícil de compreender. Ou, para os especialistas, talvez não. Apesar de ter fugido, Natascha chorou quando soube da morte do homem que lhe roubou a infância. E há agora rumores de que quer ficar a viver na casa onde esteve sequestrada. "A rapariga da cave quer a sua masmorra de volta", afirmam os autores do livro.

Sobre um possível envolvimento sexual entre os dois, Natascha recusou-se sempre a falar. E a forma como decide o que dizer, quando dizer e como dizer aos media é supreendente. Kampusch surge aos olhos de todos como uma mulher fria. Segura. Arrogante. O psicólogo Eduardo Sá, que escreve o prefácio, explica: "A frieza é o congelador do desespero. Evita que a dor que sentimos nos faça desabar como um castelo de cartas". O livro A Rapariga da Cave desvenda muito sobre a história de Natascha Kampusch. Mas o labirinto dos seus 3096 dias de cativeiro continua - e continuará - escondida dentro da sobrevivente.

Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=653467
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR