O Leopardo

O Leopardo Tomasi di Lampedusa




Resenhas - O Leopardo


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Lis 12/12/2020

Gostei bastante
O livro tem digressões muitíssimo interessantes sobre a relação do homem com o tempo, que já valem a pena. Mas o que mais admirei foi que o protagonista é completamente apático e distante, contemplativo, e mesmo assim nos afeiçoamos a ele, damos razão e entendemos suas amarguras e melancolias. Ou seja, mesmo um protagonista enfadonho nos traz muitas reflexões e uma boa história, o que já é de louvar o autor.

Outro ponto interessante é que o romance mostra a alternância de classes no poder, o que não significa uma alternância de pessoas ou famílias. Como disse Tancredi, se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude. E ele, mesmo sendo um aristocrata, se une à revolução, à burguesia, a fim de sempre estar no foco dos acontecimentos e se manter no poder. Ou seja, é um universo de formas fixas, mudando a bandeira, a designação da classe social, mas não mudando em sua essência.

E por fim, o livro também deixa claro que muitas vezes é preciso se curvar à força do vento, invés de propor-lhe resistência e correr o risco de se quebrar. Personagens que não foram maleáveis ou não souberam aproveitar oportunidades tiveram finais mais amargos do que aqueles que jogaram o jogo, que se adaptaram às mudanças em curso e tiraram proveito disso.
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Dani 07/12/2020

Opinião
Maaaaaais ou menos.
Alguns trechos muito bem escritos.
Para quem pensa em fazer a leitura, não crie expectativas relacionadas à climax. Praticamente não há uma história, um enredo.
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Emanuel Xampy Fontinhas 09/10/2020

...
Esse é um daqueles livros que já não se fazem mais, com um vocabulário rebuscado e uma miríade de figuras de estilo que saltam aos sentidos. Muito bom de ler para quem gosta de literatura mais tradicional, talvez requeira uma contextualização da época e do lugar retratados, mas nada que tire o prazer de se ler essa sensível história sobre transição de eras.
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Silvana (@delivroemlivro) 02/10/2020

O último felino da espécie
"Coisas ruins, pedrinhas leves que precedem a avalanche. (...) as mil astúcias às quais o Leopardo devia ceder, ele, que por tantos anos havia afugentado as dificuldades com um gesto de pata."

Sai aristocracia, entra burguesia. E o animal, consciente do seu perecer iminente, agoniza. Mas essa despedida não tem ares de revolta: é melancólica, lírica e, sobretudo, lúcida!

"Pertenço a uma geração desgraçada, a meio caminho entre os velhos tempos e os novos, que se sente desconfortável nos dois."

1860-1910: 50 anos de uma Sicília em transformação: 275 páginas. A maior ilha do Mediterrâneo e que fica perto do "dedo" da "bota" da Itália é também personagem. Um personagem amaldiçoado: pelo clima, pela geografia, pela História e, especialmente, pelo caráter orgulhoso e irascível do povo siciliano. Essa é a visão desse Leopardo agonizante.

"(...) os sicilianos não vão querer melhorar nunca, pela simples razão de que se creem perfeitos; sua vaidade é maior que sua miséria. (...) nesse sentimento de superioridade que lampeja em cada olho siciliano, que nós mesmos chamamos de orgulho, e na realidade é cegueira. (...) Eles vieram para nos ensinar boas maneiras mas não vão conseguir, porque somos deuses."

A sociedade muda, o poder troca de mãos já a natureza humana... O que se perde e o que se ganha no processo, as transformações sociais revestidas de evolução, o que precisa morrer para que algo novo surja, as alianças que precisam ser firmadas para que algo do passado sobreviva no futuro. O Leopardo entre essas forças opostas. Esse ser imponente, culto, nobre, majestoso e agora... inútil! Há um novo rei na savana reivindicando o trono: é o dinheiro. E o o último felino da espécie, com sua visão aguçada, o recebe dessa maneira:

"Nós fomos os Leopardos, os Leões; os que vão nos substituir serão os chacais, as hienas; e todos eles, Leopardos, chacais, hienas, continuarão se acreditando o sal da terra."

E Tancredi, claramente um animal híbrido, profetiza: "Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude."

Um livro perfeitamente equilibrado, a leitura é acessível sem deixar de lado o apuro, a sofisticação da escrita. E destaco aqui algo difícil de se encontrar: o perfeito uso do subtendido, do não dito. O narrador também é interessante especialmente quando oferece acontecimentos que são saltos temporais à narrativa: "Acreditavam-se eternos: uma bomba fabricada em 1943 em Pittsburgh, Pensilvânia, devia provar-lhes o contrário."

Também é bom registrar que a trama será muito melhor apreciada por quem possui conhecimentos históricos sobre a Itália desse período. Confesso não ter sido meu caso mas, ainda assim, considero a jornada extremamente proveitosa.

Outro aspecto a ser considerado é que, apesar de não se tratar de um romance inacabado, é perceptível a falta de uma espécie de costura nos capítulos finais. Descobriu-se depois capítulos inacabados do autor que morreu em julho de 1957. O romance, após ser rejeitado por editoras, com o esforço de amigos e familiares de Lamepdusa, foi publicado em novembro de 1958. Se tornou o romance mais popular da Itália no pós-guerra e, em 1959 recebeu o Strega, prêmio literário italiano de maior prestígio.

Enfim, uma leitura melancólica mas sem excessos sentimentalistas, poético sem causar diabetes, pessimista mas sem provocar desespero: lúcido. Em suma, um perfeito equilíbrio em forma de livro: muito obrigada Giuseppe Tomasi di Lampedusa por esse único romance magistral!
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Glauber 09/09/2020

É preciso mudar para tudo continuar igual.
Um clássico da literatura italiana, este livro retrata o contexto em que a Itália estava se unificando enquanto nação, em uma transição do sistema monárquico para o sistema burguês.

Acompanhamos o ponto de vista de um Príncipe, em meio às decadências do seu modelo de vida.

Mas há uma frase emblemática na obra, que diz algo como: é preciso mudar para tudo continuar igual.

A mensagem é forte e torna a obra universal.

Valeu a leitura.
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Peterson Boll 11/07/2020

Joia da Literatura Mundial
Quiçá um dos maiores tratados literários já feitos acerca da passagem do tempo. Lampedusa utiliza-se de uma prosa poética, encantadoramente carregada de sabedoria nas suas entrelinhas, nos seus comentários. Suas descrições sobre os recintos, sobre os lugares onde a história se passa é de um rigor e imaginação fantásticos.

Sempre me foi vendido como a narração da decadência da aristocracia siciliana frente a unificação da Itália (alguns até já o nomearam como "E o Vento Levou" da Sicília), mas "O Leopardo vai muito além disso. Aliás, parece (parece) que seu estilo de permear a história com comentários espirituosos chegou a Saramago, mestre nisso.

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Ricardo 26/05/2020

Eis um caso de filme muito melhor que o livro....
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z..... 08/04/2020

Edição Nova Cultural, 2003
Romance italiano, de grande prestígio naquela nação, como retrato pragmático da decadência aristocrata e ascensão burguesa em fins do século 19.

Além do contexto social no recorte temporal, a obra tem inspirações na biografia e experiências de vida do autor, transmitindo bastante veracidade ao retrato histórico em evidência.

Dom Fabrizio, Príncipe da Sicília, da "Casa dos Leopardos", é cercado de caracterizações em que o leitor percebe que destoa do contexto. Sutis ou não, positivas ou não...

Na representatividade da nobreza, sua cultura diferenciada fica em paralelo ao meio sem essa caracterização (mesmo em ascensão, como a burguesia); a altura elevada é como se evocasse a elite dominante, que tem nele o último representante de classe opulenta de outros tempos; e a idade avançada, septuagenário, como se denotasse estilo ou classe antiga no contexto atual (que revela-se rejuvenescido por novos modelos e percepções da sociedade).

O romance vai por aí, no retrato de fim de uma era, com desbotamento da nobreza e projeção da burguesia.

A história em si não foi empolgante em minha leitura, tendo como fator instigante o texto de Lampedusa, diferenciado em vários momentos, com metáforas curiosas e bonitas sem afetação.

Veja, por exemplo, o primeiro parágrafo do Capítulo III, em idealização sobre esperança. E o Capítulo VII, como em "átomos do tempo que evadiam do espírito e para sempre o deixavam", num paralelo sobre a morte, como se narra sobre o príncipe, em devaneios e digressões poéticas ao longo do capítulo, onde "o fragor do mar aplacou-se de todo".
Na minha opinião, que é nada de um nada, o texto de Lampedusa transmite a esse romance beleza que a história em si não tem.
É o magnetismo da palavra e da história bem contada...

Dom Fabrízio faz jus ao reconhecimento como príncipe não só por título. É um nobre de fato e direito. Porém, mesmo em seu glamour carismático, o autor sutilmente atribui-lhe também aspectos e experiências que denotam um fim a isso, tipo uma desglamourização (se é que essa palavra existe...). Vemos em caçada falha como não fora em outros tempos; em jantar com inconveniência de uma mosca; a ida para badalado baile em carruagem com realidade não tão portentosa assim; o desajuste com a realidade em ascensão dos novos tempos; postura muitas vezes antiquada; e até mesmo em revelações da vida conjugal... constrangedoras...

Além do nobre em extinção, destaque para Angélica que, tal qual o príncipe para a nobreza, é metáfora para a burguesia em ascensão, tendo poder, mas aquém da fidalguia d'outros tempos... do príncipe siciliano... Assim como Tancredi, sobrinho de Fabrizio, que ilustra adaptação e ajustamento entre entre esses dois mundos. Coisa necessária diante de tudo o que o livro retratou, encerrada na frase mais conhecida do romance, logo no primeiro capítulo: "Se queremos que tudo fique como está é preciso que tudo mude".

Vou encerrar mencionando também personagem pouco lembrado desse livro, mas com algo significativo: Bendicó (se vira aí se não conheces). Vou te contar, não é exagero dizer que o leopardo foi transmutado nele no final, numa metáfora ao envelhecido, empoeirado e descartado diante dos novos tempos.

Ah, acredito que a obra tem momentos que pedem notas de rodapé, não encontradas nessa edição.

E mais uma leitura na quarentena....
Peterson Boll 11/07/2020minha estante
A metáfora de Bendicò no último parágrafo é um lembrete para cada um de nós




Gustavo.Borba 19/01/2020

Ocaso de um felino
#LivrosQueLi



O leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Ed. Companhia das Letras. Uma família aristocrática da Sicília pré-unificação tem como brasão o leopardo. Seu patriarca, dom Fabrizio Salina, o último dos aristocratas, se identifica com esse símbolo. As mudanças ocorridas pelo processo de unificação e a crescente influência da nascente burguesia afetam a todos, mas os modos aristocráticos de dom Fabrizio lhe possibilitam passar pelo processo, ainda que não sem sentir internamente seu ocaso enquanto classe e enquanto modo de vida. Tancredo, seu sobrinho órfão e então tomado como afilhado pelo ?leopardo?, e sua esposa, Angelica, representam esse processo de transformação. Angelica, filha de um bem sucedido novo burguês, representa a nova classe dominante, proprietária de terras, muitas das quais adquiridas de aristocratas, e que surge como uma oportunidade para que Tancredo, representante da aristocracia, mas disposto a se adequar ao novo estado de coisas, continue desfrutando dos privilégios de sua classe, agora transpostos à burguesia. Todo esse processo é visto aos olhos de Fabrizio, a quem o fim de uma era e o nascimento de uma nova é visto com indiferença, mas com pesar pela perda do que existiu. Um lento crepúsculo de uma era. Uma leitura com traços dos antigos romances construídos com cuidado.





#livros #ler #lendo #livro #euamolivros #euamoler #estantedelivros #leiamais #leitura #leituras #livrosemaislivros #lido #resenhadelivros #indicacaodelivros #lendolivro #lendoagora #resenhaliteraria #literatura
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Kaio 17/01/2020

Decadência
Um romance histórico sem muito apego aos acontecimentos. Quase uma "antibiografia", onde, ao invés dos feitos gloriosos do patriarca, é narrado a decadência de uma família aristocrática que não se susteve diante do movimento de unificação da Itália da segunda metade do século XIX e da ascensão da burguesia.

Diferente dos costumeiros romances históricos, a obra dispensa heróis e mocinhas e dá espaço a personagens concretos, quase reais, dialogando e digladeando com valores e orgulho.

Por fim, a linguagem utilizada é sensivel e poética. Embora seja bastante consoante um certo elitismo em sua construção.

Sem dúvida, um grande clássico!
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EduardoCDias 03/09/2019

História vazia...
Adoro romances históricos, mas esse não me conquistou... os personagens são profundos, mas achei a história vazia, apesar de estar inserida na unificação da Itália. Tive a sensação de rodar, rodar e chegar ao fim sem um real objetivo.
Joana.Carvalho 03/09/2019minha estante
:(




Maitê 21/02/2019

Achei que esse livro não tinha um começo, o primeiro capitulo é de uma rapidez que parece que a maratona já começou a algumas horas e você chegou tarde e tem que correr muito para tentar acompanhar. E eu fiquei sempre com a impressão que não conseguia.
Fiquei esperando deparar com uma narrativa mais tradicional. chegar a algum lugar onde eu pudesse acompanhar o desenvolvimento, mas novamente, só continuava a correr.
Até chegar ao último capítulo, e depois de décadas, chegar lá finalmente.
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Klotz 04/12/2018

O leopardo - Tomasi de Lampedusa - Círculo do livro 218

Quando nos recomendam a leitura de um livro listado entre os 100 melhores de todos os tempos, somos tentados a largar tudo para começar logo, apesar da prateleira cheia de livros pinçados, adquiridos e não lidos.
O leopardo, que no original é Il Gattopardo, foi indicado e aprovado no Clube de Leitura que em seis anos de convívio me levou a ler inúmeros clássicos que eu jamais leria ¬– e aplaudiria – se não fosse a indicação abalizada.
Por estar esgotado, comprei o meu exemplar num sebo virtual. A edição chegou com letras miúdas, sem entrelinhas, com a capa prejudicada, as folhas amareladas, cheirinho de mofo e alguns rabiscos típicos de criança não alfabetizada. Foi um começo desencorajador à leitura e a afeição do objeto.
Na apresentação tomei conhecimento que o autor, príncipe de origens nobres, de cultura vastíssima pensou a história do seu avô durante 25 anos e a escreveu entre 1955 e 1956. Algo parecido como se o herdeiro Orleans e Bragança contasse a história da mudança de regime vivenciada pelo antepassado.
O romance foi rejeitado pela maior editora italiana da época por ter sido desenvolvido nos moldes da escrita tradicional – romântico, descritivo e reflexivo – e não de acordo com a vanguarda de 1950. Lampedusa faleceu antes da publicação e obviamente antes do reconhecimento.
A narrativa se inicia em maio de 1860 com um frase em latim “Nunc et in hora mortis nostrae. Amen.” – agora e na hora da nossa morte. Amém. – é parte de uma oração, mas para mim é verso da música Ave Maria. A escolha simbólica é perfeita por ser a tradicionalmente tocada nas igrejas às seis horas da tarde, no crepúsculo, encerramento do dia como, no caso, é o crepúsculo de um reinado.
O crepúsculo de um reinado é justamente o tema da história. Trata do final do reinado de Fabrício Corbera, príncipe de Salina, apontando o fim da nobreza na unificação de todos os reinos, ducados, principados num único reinado.
A decadência da família Salina é apontada já no primeiro capítulo quando fala de Dom Corbera: “Ele era, numa família que, pelos séculos afora, não aprendera sequer a fazer a soma das despesas e a subtração das dívidas, o primeiro (e último) a possuir uma forte e real inclinação para as matemáticas.” A nobreza de Dom Corbera está em decadência, sente-se isolado e impotente na manutenção do poder, mas pensador que é, encontra uma solução para uma queda menos abrupta.
Mais do que a decadência de Salina, o autor descreve um parente próximo “à saída da propriedade dos Salina, avistava-se à esquerda, a villa semiarruinada dos Falconieri, e que pertencia a Tancredi, seu sobrinho e pupilo. Um pai esbanjador, marido da irmã do príncipe, dissipara todo o patrimônio para morrer em seguida. Fora uma daquelas ruínas totais em que se acaba por mandar fundir a prata dos galões dos librés. (libré é o fardamento formalíssimo dos criados servidores como metres, mordomos, garçons e guardas).
A mulher e filhos do príncipe são alienados para os acontecimentos em geral. Incapazes de perceber, de se mobilizar, mudar rotina ou tomar atitude. Ocupam-se com rezas e mais rezas.
O príncipe enfadado resolve ir à cidade para se desanuviar. E leva o padre consigo como álibi.
Quando entra em Palermo pela porta Maqueda, procurei imagens do portal na Internet. Logo encontrei fotos datadas de 02 de junho de 1860 com barricadas e canhões mostrando o clima de revolução eminente. Ao contrário do ótimo filme de Luchino Visconti, o livro não é explícito com cenas de guerra. A imagem revolucionária permitiu-me sentir o clima que a família do príncipe fazia de conta inexistir.
Depois da aventura na cidade o padre queria que o príncipe se confessasse. Dom Fabrício argumentou que era desnecessário e segredou que a esposa era por demais pudica. Tanto que “Tive sete filhos dela, sete, e nunca lhe vi o umbigo.”
Os personagens aos poucos ganham definições e cores. O sobrinho era pobre, mas galante e esperto. Logo percebeu que precisava se juntar ao time dos revolucionários. E saiu-se com uma frase marcante: “Se quisermos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude.”.
A frase emblemática extraída de obra de Maquiavel, aponta para a erudição do autor e sugere que a forma de governar muda pouco, trocam-se os mandantes. “porque tudo fica na mesma, apenas com uma insensível troca de classes.”.
Tomasi tem um humor inteligente onde às vezes apresenta sofismas como: “Fiéis aos encontros, os cometas haviam-se habituado a apresentar-se pontualmente perante os que os que os observavam.” Ou ao olhar as estrelas “Lá estava Vênus, envolta no seu turbante de vapores outonais. Essa era sempre fiel, esperava por ele nas suas saídas matutinas, em Donnafugata, antes da caçadas, agora depois do baile.”.
Outro personagem destacado é Dom Calogero Sedàra. Nascido camponês, fez fortuna e vai pela primeira vez ao palácio do príncipe. “Agora sensível como estava aos presságios e símbolos, via uma autêntica revolução naquela gravata branca e nas duas abas que subiam as escadas de sua casa. Não só ele, o príncipe, não era já o maior proprietário de Donnafugata, como era obrigado a receber em traje de tarde um convidado que se apresentava em traje de cerimônia.” – “O fraque de Dom Calogero era uma catástrofe.”. Mas a sua filha, Angélica, é exuberante.
Os dois, Angélica e Tancredi, por interesse do príncipe e do novo rico, acabam por fazer o casal romântico unindo nobreza e fortuna para gestar o poder emergente, apesar de várias contestações como:
“— Isso é uma sujeira, Excelência! Um sobrinho vosso não deveria casar com a filha daqueles que são vossos piores inimigos e que sempre vos têm puxado pelas pernas. Que procurasse seduzi-la, como eu julgava, era um ato de conquista: mas assim é uma rendição sem condições. É o fim dos Falconeri e também dos Salina.”
O leopardo, título do livro, ora com bigodes compridos, ora com garras afiadas ou simplesmente cansado, é o protagonista no brasão da família.
Eu ainda gostaria de destacar a presença de Bendicó, o cão da família que com um arco participa do início feliz da história em 1860 e faz o desfecho, empalhado, em 1910.
Apesar de ser um romance arrastado, não deixa uma única ponta sem fechamento. É sensacional.
Um livro, para ser considerado clássico, atravessa gerações sem perder seu valor. Este tem prosa muito bem desenvolvida, mistura ficção e realidade e, principalmente, nos leva à reflexão com o tema atemporal da mudança.
Você não precisa entrar num clube de leitura e esperar a recomendação do livro. Comece já.
Se eu não consegui convencê-lo da leitura, então ao menos, veja o filme do mesmo nome. Os dois, livro e filme se complementam e impulsionam a magnitude da história. É estrelado por Burt Lancaster, Claudia Cardinale e Alain Delon e ganhou a Palma de Ouro em 1963.
Peterson Boll 11/07/2020minha estante
Demorei anos para lê-lo e agora, leitura já acabada, posso falar com alegria que realmente "O Leopardo" merece realmente todo o peso que a crítica literária o dá. A meu ver, é uma das melhores narrações/dissertações já feitas sobre a inexorabilidade do tempo.




MF (Blog Terminei de Ler) 16/04/2018

Obra-prima da literatura italiana se destaca pela análise profunda de seus personagens diante da imprevisibilidade da vida
Depois de muitos meses, terminei a leitura de "O Leopardo", único romance escrito pelo italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Era pra eu ter terminado a leitura há mais tempo mas, a existência de certos hiatos na minha vida, cheios de tristeza que não valem a pena aqui detalhar, acabaram por atrasar o término do livro. De certa forma isso foi bom pois, como um excelente vinho, pude degustar aos poucos essa obra-prima.

Como dito, Lampedusa escreveu apenas um livro acabado. Acho incrível quando um escritor se torna imortal com apenas uma obra! Aqui no Brasil, por exemplo, temos o caso do Augusto dos Anjos, autor de "Eu", livro incrível que tive a oportunidade de ler anos atrás e que fazia parte de meu acervo... até o dia em que emprestei para uma ex, o que deixou o paradeiro do livro totalmente desconhecido.

Enfim, "O Leopardo" conta a história de Don Fabrizio, o Príncipe de Salina, cuja família ostenta em seu brasão o felino do título, uma personificação metafórica do próprio personagem principal. Os Salinas pertencem à classe da nobreza, em decadência financeira e de status, devido ao levante do movimento republicano italiano. Fabrizio de Salina, chefe do clã, muito culto e amante da matemática e da astronomia, logo percebe que os dias da monarquia estão acabando, assistindo com melancolia as mudanças trazidas pelo novo regime.

Embora seja centralizado no Príncipe Fabrizio, Lampedusa apresenta outros personagens que, na escrita do autor, tornam-se interessantes e complexos como, por exemplo, Tancredi Falconeri, sobrinho favorito do Príncipe e que, ironicamente, é soldado na luta pela república. Concetta de Salina, filha do Príncipe, é apaixonada por Tancredi, mas ela se sente incapaz de demonstrar esse afeto, influenciada por uma rigidez moral ultrapassada. Por sua vez, Tancredi é comprometido com a bela e ambiciosa Angelica Sedàra, filha de Don Calogero Sèdara, um plebeu de traços rudes, ávido por um título nobre e cheio de dinheiro, coisa que os Salinas já não possuem tanto. A influência da Igreja, durante a mudança do regime, é representada na figura do Padre Pirrone, amigo do Príncipe e preocupado com os novos rumos.

"O Leopardo" traz como mensagem principal a necessidade de se adaptar às mudanças trazidas pela vida, entender quem manda e como se posicionar diante disso, mesmo quando não se quer. Isso fica claro na frase mais conhecida da obra, um aparente paradoxo, dita por Tancredi ao Príncipe: "Se quisermos que tudo fique como está, é preciso que tudo mude". É necessário também se modificar, abandonando velhas ideias, quando necessário e, é claro, ao meu ver, não deixar de expressar aquilo que você acredita e sente, ainda que a vida não lhe ofereça, num primeiro momento, o conforto, a alegria e a esperança.

Recomendo a crítica literária abaixo. Porém, ela traz revelações sobre o enredo, o que pode talvez estragar o prazer da primeira leitura do livro.

https://www.revistabula.com/552-algo-deve-mudar-para-que-tudo-continue-como-esta/

site: https://mftermineideler.wordpress.com/2014/04/30/o-leopardo-giuseppe-tomasi-di-lampedusa/
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Leila de Carvalho e Gonçalves 02/11/2017

O Príncipe
"Nós fomos os Gattopardos e os Leões; os que vão nos substituir serão pequenos chacais, hienas; e todos, Gattopardos, chacais e ovelhas continuaremos a crer que somos o sal da terra."

Publicada postumamente em 1958, "O Gattopardo" ou "O Leopardo" é a obra-prima de Tomasi di Lampedusa. Seu estrondoso sucesso foi uma surpresa, a medida que divergindo do neo-realismo vigente, trata-se de um romance cuja temática e estilo remonta ao século XIX.

Apresentando um narrador onisciente, sua história gira em torno da decadência de uma família da aristocracia siciliana, os Salinas, acossados pelo enriquecimento da burguesia e pela conflituosa Unificação Italiana.

O protagonista é Dom Fabrizio, um homem de meia-idade, culto e refinado cujas reflexões apontam para uma complexa dimensão psicológica. Tentando proteger seus bens da bancarrota, ele aprova o casamento de seu sobrinho e protegido, Tancredi Falconeri, com a bela Angelica, filha de Calogero Sedara, um grosseirão de origem humilde com um indefectível tino comercial.

Aliás, é de Tancredi a frase mais célebre do romance. Pouco antes de partir, para se unir as tropas de Garibaldi, em Palermo, ele comenta com o tio: "Se queremos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude". Em síntese, sem saída, a nobreza decide defender a queda dos Bourbons e a anexação do Reino das Duas Sicílias à Casa de Sabóia diante do risco de uma Itália Republicana que seria um desastre para seus privilégios.

O romance deu origem a um filme, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, no ano de 1963. Dirigido por Luchino Visconti, um conde, boa parte da ação exibe o castelo de sua família. Com Burt Lancaster, Alain Delon e Claudia Cardinale nos papéis principais, revela-se uma irretocável adaptação, a medida que o roteiro optou por diálogos, para exibir as ideias do melancólico patriarca.

Também merece atenção a história que envolve o livro. Durante toda vida, Tomasi de Lampedusa pretendeu escrever "O Gattopardo" e, quando iniciou o projeto, levou apenas um ano para conclui-lo. Pouco depois, foi diagnosticado com câncer de pulmão e, quando faleceu, não fazia ideia da importância que o romance teria. Todas essas curiosidades são apresentadas nessa edição de bolso, que dentre outros extras, possui dois textos bastante esclarecedores: o primeiro, da tradutora Marina Colasanti, e o segundo, de Gioacchino Lanzi Tomasi, filho e herdeiro do escritor.

Finalmente, a edição não está de acordo com a nova Reforma Ortográfica. Seria bem-vinda uma revisão assim como o lançamento de uma versão em capa dura ou brochura que realmente espelhasse a qualidade da obra.
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