Resenhas - Valsando Com a Gata

Claire Scorzi 08/04/2009

Mais do mesmo - com estilo
Já conheço Pam Houston desde "Meu fraco são cowboys". Já naquele livro de contos ela era comparada a Hemingway. Seus ambientes assemelham-se - caçadas, viagens de barco, fauna selvagem, e também o retrato das relações sempre difíceis entre homens e mulheres. Claro que o tom é outro: a secura de Hemingway me pareceu de início ausente, mas não é bem assim; a secura não se encontra nas frases, mas na lucidez com que Houston mostra sua heroína-narradora, Lucy, enveredando em relacionamentos fadados ao fracasso. Nisso, não há novidades e o desfile é sempre esse: um novo amor que se revela um pulha - bebe demais, é mentiroso, não assume compromissos, não gosta de sexo (!)... Há de tudo, a protagonista sempre tendo seu coração partido.
Essa repetição poderia fazer da leitura de "Valsando com a gata" algo monótono, mas não é o caso: Houston tem suficiente verve para sustentar sua história nos fazendo gostar de sua heroína e torcer por ela e sobreviver com ela. Há a profissão de fotógrafa de Lucy, suas amizades, seu humor; ela não se lamenta.
No fim de "Valsando com a gata", meu cinismo estilo 'nenhum-homem-presta' se vê confirmado (é claro), mas minha última certeza também: as mulheres sobrevivem. E existem amigas no começo, no meio e no fim de cada jornada de Lucy, e de todas nós.

Gisa 31/08/2015

Muito (muito) mais do que uma comédia romântica
A primeira coisa que eu preciso dizer é: Quem fez esta sinopse era muito machista. Sério gente. Vocês repararam quantas vezes é falado em relacionamentos, homens e afins apenas nesta sinopse? E tudo bem se o livro realmente fosse focado neste lado. Mas esta é uma história que fala muito mais sobre descobertas e problemas familiares do que relacionamentos amorosos. Lucy é muito mais do que uma mulher que quer encontrar um homem. Aliás, nem sei se ela realmente queria isso. Lucy é uma mulher cheia de problemas, mas ainda assim forte. Ele tem traumas, passado, presente e futuro. Tem uma profissão. E tudo o que a sinopse diz é que vamos encontrar uma mocinha atrapalhada e azarada em busca do par perfeito. Me incomodou? Me incomodou muito. E vou reclamar sim. Machistas não passarão.


Agora que desabafei, vamos lá.

Valsando com a gata é dividido em vários contos - passagens - da vida da Lucy. Através dele, podemos conhecer uma mulher independente e segura; mas que mesmo assim, carrega os traumas que uma família desequilibrada provoca.

Lucy é fotógrafa e ama descer rios. Tem várias amigas e amigos. Já teve todo tipo de relacionamento ruim. Ruim mesmo. Onde ela acabava aceitando as coisas erradas, justamente por toda a infância e adolescência perturbada.

"Você deve entender. E se você não entende, é por que você teve sorte. "

O livro acaba por fazer várias críticas sociais. Os pais que exigem demais dos filhos, a exigência que existe para que os homens sejam OS pegadores, a exigência que temos com o próprio corpo e isso é apenas o começo.

Ele tem um lado engraçado, mas não digo que é exatamente uma comédia. Ele realmente tem umas tiradas engraçadas e inteligentes.

"Você deve passar a vida ao lado da pessoa que pode transformar sua vida num inferno. "

Mas reduzir esta obra apenas a uma comédia é muito injusto.

"- Você não tem interesse nenhum em se proteger, Lucy?
- Está falando de camisinhas? - indago.
- Não, estou falando do seu coração. "

O título da obra faz referência a um dos contos - talvez o mais complicado de todos - mas na minha opinião ele chama atenção. As páginas são amareladas e cada "conto" é um capítulo, por isso não são muito curtos. Mas a leitura acaba fluindo muito bem, pois queremos saber como termina cada episódio na vida de Lucy.

Por fim, eu indico sim o livro. Indico a todos aqueles que entendem que uma mulher sem homem, é muito mais do que uma solteirona azarada. Indico a todos aqueles que sabem que a vida é mais do que encontrar o par perfeito. E que a vida é muito legal quando a gente arrisca.

site: http://profissao-escritor.blogspot.com.br/2015/08/valsando-com-gata-pam-houston.html#comment-form

Clara 25/09/2016

Valsando com a vida...
A sinopse do livro me lembrou um pouco,o livro/filme Comer,rezar,amar,sobre Lucy durante toda a sua jornada seguir em busca de seu equilíbrio.Equilíbrio.Nunca gostei dessa palavra e acredito que ela também não se aplique ao que Lucy queria viver.Para minha sorte,Lucy,pelo menos no livro,também não pensou assim.O livro passeia por vários episódios da vida de Lucy,uns tantos trágicos,outros tantos constrangedores,outros felizes e outros decepcionantes.Confesso que no decorrer de minha leitura,jurava que ela iria encontrar a "verdadeira felicidade" e iria voltar com Marcus para o rancho,apesar de detestar essa ideia,não queria um final feliz e clichê para Lucy,até porque não é sempre assim que as coisas terminam no plano real,mas também não queria que ela tivesse morrido,porque aí a história não ia fazer sentido.Ela precisava pensar e repensar em tudo que ela viveu e tirar suas próprias conclusões.E foi exatamente isso que aconteceu.Pra minha alegria.Ao contrário,da personagem de Comer,rezar,amar,Lucy não precisou encontrar seu par romântico para se sentir completa,equilibrada ou qualquer coisa bonitinha e aparentemente correta que resuma todas as suas inúmeras decisões erradas.Lucy foi além do que eu esperava e me deixou perguntando o que teria acontecido após ela descer o morro correndo,para onde ela iria ou se ficaria ali para sempre com Ellie,a cachorra.Minhas conclusões após a leitura:Nada foi em vão.Nem suas escolhas,nem seus caminhos,nem seus medos,nem suas paixões e suas confissões.Lucy não precisava caminhar em direção a um lugar,um destino.Ela só precisa continuar caminhando,se apaixonando,conhecendo pessoas adoráveis,mergulhando em rios cujas correntezas,nada são convidativas,continuar plantando,fotografando,sonhando e sem nenhuma certeza se aquilo vai ou não realmente dar certo.Uma das últimas falas de Lucy no livro,ilustraria melhor minhas convicções a cerca de sua trajetória."É fácil acreditar que estar sozinho é a alternativa dos fortes,mas o rio me ensinou há muito que é um sinal ainda maior de força permitir-se ser frágil."

Thai 29/03/2024

Homem, rio e autodescoberta
Classifiquei o título da resenha assim porque é dessa forma que eu enxergo os diversos capítulos desse livro. Apesar de vários contos em momentos diferentes da vida de Lucy, todos têm em comum a ligação estreita da vida da protagonista com a água dos rios, com a busca por homens e paixões, mas, acima de tudo, a autodescoberta que é lenda e gradual, mas muito interessante de acompanhar.

Esse livro tem uma avaliação bem baixa aqui no Skoob e eu não sei o porquê. Foi uma leitura agradável, com diversos momentos e engraçados e uma protagonista complexa e leve ao mesmo tempo. Pra mim, vale as 5 estrelinhas!!