Mariana 12/04/2023
Tema necessário
"As Coisas Como Elas São" traz para reflexão um tema necessário: a transexualidade. Foi o primeiro livro que li sobre isso, e não que minha gama de leitura seja ampla, mas o fato de nunca ter lido nada assim, de alguma forma, aponta para mim que isso é pouco discutido, pouco trabalhado. O livro, portanto, tem relevância. Ainda mais por tratar da transexualidade como algo que é como é, que pode se manifestar desde criança, desde os primórdios da construção identitária de um sujeito.
A criança transgênero, aqui, é Claude, ou Poppy, uma menina em um corpo de menino, que aos poucos e bem ao final, consegue não se caracterizar nem em um gênero, nem outro, mas no meio deles, o que é algo muito importante de ser diferenciado.
A história, no entanto, se constrói de forma muito idealizada e utópica, na minha opinião. Pais, irmãos e avó compreensivos, que aceitam Poppy incondicionalmente. É claro que, por Poppy não se reconhecer como Claude desde muito pequena, tendo a achar que a questão vai sendo mais naturalizada dentro do âmbito familiar. Mas essa não é a grande realidade dos casos. Poppy sofre preconceitos sociais, mas ainda assim, uma única vez de forma violenta. Os demais amigos, ao descobrirem sobre seu corpo, também o aceitam. Novamente, mais um cenário que não corresponde a grande realidade dos casos.
Ainda assim, seu processo de autoaceitação é sofrido, é complexo, o que mostra, por um lado, que mesmo com todo o apoio possível em casa, aceitar a si mesmo como transgênero e viver essa identidade socialmente é muito difícil. Imaginem, então, sem apoio no âmbito familiar. Por isso, considero que a história é pouco representativa, não corresponde a realidade de extremo sofrimento da maioria.
Por fim, ressalto que não me identifiquei com a forma de escrita da autora. Muitos detalhes, pouco relevantes, na minha opinião, e uma confusão na passagem do tempo. Dificilmente sabemos quanto tempo se passou e qual a linha cronológica exata. Ah, os diálogos por vezes me confundiam, e acho que a narração em terceira pessoa colaborou pra isso.
Recomendo pelo tema, mas acho que ele pode ser mais problematizado.