A Ficção na Pós-Ditadura

A Ficção na Pós-Ditadura Milena Mulatti Magri




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Toni 12/11/2019

Contam-se nos dedos os estudos publicados em formato de livro sobre narrativas que abordam o período de repressão iniciado com o golpe de 1964. E vários são os fatores que contribuíram para a crítica ter se ocupado de maneira tão insuficiente das relações entre literatura e ditadura: por ex., a presença de ideologias autoritárias nas universidades, a adesão da elite intelectual ao sistema de poder e a quase hegemônica presença de metodologias de análise literária que desconsideram o contexto histórico. Tendo em vista a manutenção de privilégios que acompanha o estabelecimento de cânones e o empenho pela homogeneização dos conflitos humanos presente no discurso universalista da crítica, a inevitável aproximação entre política e literatura sempre foi, e continua sendo, um campo minado para quem pesquisa literatura.
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Este livro da Milena Magri chega, portanto, para engrossar o caldo de uma discussão que há muito precisa ser restabelecida no ambiente acadêmico, nas rodas de leitura informais, nas estantes de livrarias, no dia a dia deste povo sem memória. Por meio das obras de Caio Fernando Abreu (Onde andará Dulce Veiga?), Milton Hatoum (Dois irmãos) e Bernardo Carvalho (Os bêbados e os sonâmbulos), Magri procura entender como esses romances apresentam uma leitura da experiência política da ditadura a partir da fragmentação, da falha, do discurso alquebrado e traumatizado. Usando um pouquinho dos conceitos de alegoria e do chiffonnier* de Benjamin, a pesquisadora percebe, na tensão entre os narradores e o autoritarismo brasileiro, uma dimensão testemunhal da violência sistêmica que nos persegue até hoje. Apesar de não concordar com a “leitura alegórica” no capítulo final, é com grande prazer que leio textos críticos em que a obra literária respira livre de constrangimentos teóricos.
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* O chiffonnier é o sucateiro ou trapeiro, alguém que sobrevive daquilo que foi descartado/ rejeitado. Para Benjamin, seria uma figura crítica da sociedade de consumo, emblemática do esforço de recuperação do passado e da memória.
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#duramemória
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