Mariana - @escreve.mariana 18/05/2020A vilania fora do eixo clássico [IG: @epifaniasliterarias_]Na antologia de contos "Vilãs", organizada pela autora brasileira Clara Madrigano, somos apresentados às histórias de mulheres que se encontram na linha tênue entre o papel de boa moça, que lhe é esperado e imposto socialmente, e o de vilã, muitas vezes criado somente para rivalizar com outra mulher.
No entanto, alguns contos (e esses foram meus preferidos) não retratam essa rivalidade feminina e saem do eixo das releituras clássicas, como A branca de neve e A bela adormecida. Um deles foi "Bendita seja a criação, maldita é a criatura", de Geovanna Ferreira, cuja protagonista, Surya, é um anjo e possui o dever de olhar pelos seres humanos, porém, o que deseja para a humanidade se mostra distinto dos planos de seus superiores.
"Tão certo como ela tinha asas, era que precisava parar e deixar de lutar pelo inevitável. Bastava deixar de guardar, deixar que eles fossem homens, e eles se encarregariam do resto, de se destruírem. Aquele era o ciclo natural das coisas. Aquele era o maior ato de amor ao Pai que ela podia fazer. Deixar humanos reinarem em seu próprio caos".
Não se restringindo a nos fazer refletir sobre a dualidade entre o bem e o mal e a natureza humana, que insiste em recorrer à guerra para solucionar seus problemas, esse conto também perpassa reflexões a respeito de religião, machismo e estereótipos de gênero. O conto seguinte, "Mal de ojo", de Soraya Coelho, igualmente foge do lugar comum, fazendo uma crítica ácida e mordaz à desigualdade social, ao sistema de justiça e à masculinidade tóxica, com ares fantásticos que muito se assemelham à nossa realidade.
Além desses, me marcaram, ainda, os contos que abordam emancipação e empoderamento feminino, ancestralidade e força da natureza feminina, como "Marcada", de Nara Odelle; "Os sóis de Maria", de Laísa Couto e "Ao ouvir os sussurros da morte, ela respondeu", de Ana Cristina Rodrigues.
Diversas foram as inovações em relação às temáticas e aos questionamentos desenvolvidos, bem como às releituras, que me surpreenderam justamente por saírem da esfera clássica, já tão difundida. Recomendo bastante essa antologia, para quem busca leituras com representatividade, empoderamento e quebra de padrões.