Rute31 19/04/2024
Inesquecível
Passei um ano sem usar o Skoob, e amanhã atualizo as leituras de 2023 e as de 2024 até agora, mas queria escrever logo sobre Capitães da Areia porque embora ele seja do tipo de livro inesquecível, também é daqueles que você quer dizer a todo mundo que leia logo.
A prosa de Jorge Amado dispensa comentários. Li Dona Flor e Seus Dois Maridos há uns 10 anos e na época fiquei atraída pela escrita do baiano, em Capitães da Areia essa atração só aumentou.
Acompanhamos os Capitães da Areia, crianças que vivem num trapiche, que saqueiam casas, que desviam da polícia, que machucam, violentam, ferem. Que gargalham. Que são como irmãos, porque ali, naquela Bahia que podia ser hostil, eles são donos da noite, dos becos, das praças.
Acompanhamos o chefe, Pedro Bala, inteligente e ágil; o religioso Pirulito e seu êxtase do chamado sacerdotal; o ressentido e pouco amado Sem Pernas; o bonito e malandro Gato; o leitor voraz Professor; o sábio embora nem sempre reconhecido por isso Joao Grande; a bela e destemida Dora. Acompanhamos a entrada de uns e outros no bando, os pequenos trabalhos, quando são presos, os amores, a violência, o sofrimento, os prazeres, a culpa.
E é quase como se a gente também caminhasse pelo trapiche, como se a brisa da tarde de uma Bahia em que nunca estive me acariciasse, como se o marulho e o cheiro salgado das ondas estivesse aqui na porta.
O mais difícil: ver o crescimento dos meninos, que não seriam sempre meninos (terão sido realmente meninos um dia?), os caminhos individuais, mas até isso foi bonito. Amado não se conforma com a ideia de que o homem, corrompido pelo sociedade, não tem jeito. Mas também não dá uma pílula moral em que todos se "regeneram". O que ele apresenta é algo que parece a ordem natural das coisas. Talvez seja.
Terminei esse livro já com vontade de reler.