jota 27/10/2014Arroz e peixe...A história do pequeno Isaku, protagonista de Naufrágios, se passa numa aldeia medieval japonesa, numa época imprecisa - importante não esquecer que, diferentemente da Europa, o feudalismo japonês durou até por volta de 1871. Nessa aldeia de pescadores a vida é marcada pela extrema pobreza e pela intensa luta pela sobrevivência, traduzida em árduo trabalho e mesmo servidão.
Crianças começam a trabalhar desde pequenas, meninos e meninas. Mulheres, além dos afazeres domésticos e dos cuidados com os filhos, também cuidam de plantações e de hortas. Os homens fortes deixam seus lares e partem para outras terras onde vendem sua força de trabalho para ricos proprietários, passando a viver num regime de servidão durante tantos anos quantos estipulam seus contratos.
Quer dizer, são poucas as alegrias para os habitantes da aldeia. Uma delas é comer um bom prato de arroz acompanhado de peixe, o que nem sempre é possível, a não ser algumas poucas vezes por ano. Outra, é quando ocorre algum naufrágio nos recifes que circundam a costa e eles podem pilhar algo que possa ser comido, geralmente fardos de arroz.
Os pescadores não provocam naufrágios, mas acendem fogueiras nas praias que tanto servem para produzir sal quanto para confundir os navegantes, que fatalmente terminam seus dias afogados ou mortos por eles. Os personagens agem sem remorsos, são maus, ou apenas lutam pela sobrevivência enquanto reverenciam seus deuses, ofertando-lhes arroz e velas votivas e seguindo fielmente as ordens do chefe da aldeia?
A cabeça do pequeno Isaku e a nossa também faz perguntas. As respostas poderão vir não exatamente nos destroços de um naufrágio, mas num pequeno barco à deriva que numa gélida manhã de janeiro surge na costa com sua carga mortal.
Bem, há muita coisa curiosa que Akira Yoshimura nos conta nas páginas de Naufrágios, embora muitas das situações mostradas pareçam um tanto repetitivas, especialmente as que tratam da penúria e dos sofrimentos físicos e espirituais por que passam os personagens.
De modo geral a narrativa me pareceu pouco literária e bastante realista, quase um registro sociológico do cotidiano e dos tradicionais costumes dessa infeliz aldeia. Não que isso torne o livro menor, desinteressante, mas foi o que senti. Daria uma nota 3,7 para tudo, mas isso não é possível aqui.
Lido entre 19 e 27/10/2014.