Mateus 17/01/2021
Aquele clássico impressionista e impressionante
Não sou do tipo de leitor que faz metas literárias, mas em 2021 lancei o desafio: ler obras brasileiras clássicas que sempre ouvi falar, mas nunca tive oportunidade (ou ânimo) de conferir. Por nenhum motivo específico, escolhi “O Ateneu”, de Raul Pompéia, como o primeiro livro da lista. Como todos já devem imaginar, trata-se de uma leitura bastante difícil, mas que foi uma grata surpresa pela grande qualidade da obra.
A premissa do livro é bastante simples: um garoto, Sérgio, é enviado por sua família para estudar em um famoso internato do Rio de Janeiro, o Ateneu do título. Se a princípio a vida no internato parecia estimulante, com o passar dos dias Sérgio descobre um “microcosmo” exatamente como o mundo lá fora, com regras rígidas, professores hipócritas e colegas cruéis. Em meio a esses elementos, o personagem deixa a infância e ingressa na idade adulta, sofrendo com todas as angústias típicas da fase.
“O Ateneu” é considerado o único romance impressionista brasileiro, tendo assim grande importância para a literatura nacional. As obras impressionistas têm como principal característica trazer “impressões” sobre o mundo, com uma linguagem vibrante que descreve subjetivamente pessoas e objetos.
É justamente o que temos aqui: uma obra repleta de impressões de Sérgio de sua vida no Ateneu. A título de exemplo, trouxe essa simples descrição de uma viagem do garoto ao Corcovado: “Avistávamos por hiatos de perspectiva a baía, o oceano vastamente desdobrado em chamas, extenso cataclismo de lava”. Como o foco aqui são as impressões, o livro não traz um grande desenvolvimento de sua história. Há início, meio e fim, mas pode incomodar pela falta de elementos básicos da literatura tradicional, como clímax.
Acompanhar a escrita de Raul Pompéia não é nada fácil. Mesmo após ler dezenas de clássicos, tive certa dificuldade em alguns momentos de “O Ateneu”, precisando recorrer ao dicionário em muitas páginas. Mas ao se acostumar com essa escrita tão característica, você acaba se apaixonando pela beleza e pela poesia das palavras de Pompéia. Sobretudo por entender que a obra é a visão de Sérgio sobre sua juventude, representando uma “crônica das saudades” – saudades do passado, da infância e da ingenuidade, que não voltam jamais.