Jaqueline 27/12/2010A editora Agir vem se superando no lançamento de livros incrivelmente poéticos. O primeiro foi “Calafrio“, da autora americana Maggie Stiefvater, e agora temos “Halo“, uma das histórias mais doces e singelas que li neste ano. De autoria da jovem australiana Alexandra Adornetto, de apenas 18 anos de idade, “Halo” é mais um dos muitos livros sobre anjos que vêm dominando as livrarias brasileiras. No entanto, ao contrário da maioria de seus comparsas de tema, esta história é muito mais focada no amor, no bem e na descoberta do que é ser humano do que no planejamento tático de uma batalha entre hordas celestes ou humanos versus anjos.
Com a intenção de promover a paz e a união entre as pessoas, três anjos são enviados à cidade de Vênus Cove. Gabriel, arcanjo conhecido como “o Herói de Deus“, é um antigo guerreiro do Senhor. Poderoso, ele é um dos anjos justiceiros que estiveram presentes na queda de Sodoma e Gomorra. Ivy, uma serafim abençoada com poderes de cura, já esteve diante da presença de Deus e, assim como Gabriel, foi utilizada em outras missões divinas, estando acostumada com os sentimentos e emoções que o convívio com humanos despertam. O vértice desta família é a jovem Bethany, anja cuja função era acolher, amparar e orientar a alma das crianças que chegavam ao paraíso. Inexperiente, ela é enviada à Terra pela primeira vez ao lado de dois anjos poderosos na tentativa de evitar cometer erros comuns, como se envolver intimamente com humanos. E não é exatamente isso o que acontece?
Com a aparência física de uma menina de 17 anos, Beth passa a frequentar a escola da cidade. É lá que ela conhece Molly, menina extrovertida e saidinha que lhe ensinará coisas banais como usar gloss e curtir festas. Escondendo de todos a sua verdadeira identidade, ela passa por uma menina tranquila e caseira, desacostumada com a modernidade. Vivenciando experiências humanas com o mais puro deleite, ela encanta até mesmo o leitor mais durão. O primeiro contato que Beth trava com a vodca é memorável! Situações banais ganham novos pontos de vista e coisas naturalizadas tornam-se estranhas ao leitor pelos olhos de Beth – já pensou em alguém que não possui uma data do aniversário?
O livro é totalmente inspirado no primeiro livro da série “Crepúsculo“, isso é inegável. Os três anjos precisam manter suas identidades em segredo, ocultando sua verdadeira natureza sobrenatural na forma de uma família cujos pais são embaixadores e estão fora do país. Gabriel, o mais velho, se disfarça como um jovem professor de música e causa frisson entre as meninas – inclusive em Molly, a Jessica da história. Seu jeito sério e inatingível o torna a criatura mais atraente de qualquer lugar, na opinião da menina. Enquanto Ivy assume o papel de “mãezona” da família, cuidando da casa e fazendo trabalhos voluntários na igreja e no asilo da cidade, Bethany é encaminhada para a mesma escola onde Gabriel trabalha com a intenção de se acostumar com o convívio entre humanos, sendo constantemente protegida pelos “irmãos” mais velhos. Apesar das instruções rigorosas de Gabriel, Beth faz amizades e passa a ficar cada vez mais curiosa sobre um dos meninos mais influentes do colégio, Xavier Woods. O garoto, que guarda uma dor muito grande em seu passado, é tudo o que uma mãe pode pedir como genro. O amor que surge entre ele e Beth, apesar de todas as diferenças, é uma das coisas mais bonitinhas que li. Modelo de conduta, ele é amoroso, educado e inteligente. Sem esperar, ele se vê completamente cativado por Bethany. É assim que nossa protagonista descobre um turbilhão de novas emoções e sentimentos, como o amor, o desejo, a ansiedade e a amargura. As coisas se complicam ainda mais quando um novo aluno chega de Londres: Jake (tinha que ser um Jake!) Thorn é confiante, galanteador e faz sucesso com seu jeito misterioso.
Não espere muitas cenas de ação neste livro. Apesar de algum mistério em suas páginas finais, trata-se de um romance daqueles bem docinhos, para ler e suspirar: é praticamente impossível não se apaixonar por “Halo” e seus personagens! A proeza de criar uma personagens principais tão meigos sem cair no lugar-comum da chatice já garantiria uma tremenda salva de palmas para a jovem autora, que atualmente está escrevendo o segundo volume da trilogia que “Halo ” inaugura. Contudo, Alexandra vai além, cativando pessoas de todas as idades com uma história singela e bem diferente do que estamos acostumados a ler por aí.
>> Resenha originalmente postada em www.up-brasil.com