Carlos Nunes 30/11/2020
Naturalismo nacional
Esse é um livro bastante conhecido, até por ser leitura indicada nas escolas. O CORTIÇO é uma obra focada numa habitação coletiva, muito comum no Rio de Janeiro do século XIX, retratando o cotidiano dos seus moradores, suas lutas diárias pela sobrevivência e a ascensão social de João Romão, o proprietário, disposto a tudo para enriquecer e subir na vida.
João Romão é um português pobre mas muito determinado, que monta uma taverna junto com a escrava Bertoleza, companheira de trabalho e amante, e à medida que o dinheiro vai entrando, vai construindo o cortiço. Quando enriquece, compra a pedreira atrás do cortiço. Assim, de uma forma ou de outra, ele vai explorando todos os outros personagens.
O cortiço é habitado pelas classes consideradas mais baixas e marginais: operários, imigrantes recém-chegados, lavadeiras, prostitutas. Seus moradores representam os comportamentos tidos como promíscuos, preguiçosos e viciosos, atribuídos aos pobres, negros e mestiços, como violência, homossexualidade, prostituição e traição conjugal.
Ao lado do cortiço, existe o sobrado do Miranda. Também um português, que enriqueceu pelo casamento. É o ambiente típico da burguesia em ascensão, com uma vida sossegada e superficial, o tempo dedicado à cultura e ao lazer, representando o estilo de vida e as preocupações das classes mais altas.
E enquanto enquanto acompanhamos as vidas dessas personagens, João Romão vai se refinando, passa a se vestir melhor, a frequentar lugares da moda, acaba construindo um sobrado ainda maior que o do Miranda e passa a acalentar o sonho de se casar com Zulmira, a filha do vizinho. Mas a escrava Bertoleza é um empecilho e ele precisa se livrar dela de alguma forma - e fará isso de uma forma bastante cruel.
É curioso notar que o cortiço parece acompanhar o dono nessa ascensão social, fazendo com que os moradores mais pobres se mudem para uma outra habitação na vizinhança, deixando claro que essa diferença de classes sempre existirá - é o determinismo característico da escola naturalista.
A importância de O CORTIÇO é justamente porque ele retrata com tanta fidelidade essa sociedade carioca, espelhando o espírito da época. Mas ele não é unanimidade. Mesmo entendendo sua importância histórica, alguns estudiosos argumentam que, literariamente, O CORTIÇO não é um bom livro, justamente porque o autor optou por fazer um romance de tese, focando excessivamente nas descrições e nos argumentos sustentadores das ideias do naturalismo, em detrimento da história e do desenvolvimento das personagens. Mas não deixa de ser um livro muito interessante, de leitura agradável, uma obra que merece ser conhecida por todos, pela importância que tem em nossa literatura.
Mais detalhes no vídeo abaixo.
site: https://youtu.be/wWjOZQ0PJNU