jota 04/11/2014Sábado sem fim...Sábado se passa num único dia, um sábado de 2003, 15 de fevereiro, menos de dois anos depois de 11 de setembro em Nova Iorque. Uma multidão de londrinos protesta contra a entrada da Inglaterra na guerra do Iraque enquanto um homem se desloca pela cidade para jogar squash, ao mesmo tempo em que pensa no prazeroso jantar que vai oferecer à família mais tarde.
Mas a ação de Sábado vai esquentar mesmo (e nem tanto assim) somente na página 102 (edição de 2006, Companhia das Letras), depois de tomarmos contato com uma série de procedimentos em cirurgias cerebrais, já que o personagem central é um renomado neurocirurgião, Henry Perowne. É quando ele se vê envolvido num banal acidente de trânsito numa rua da cidade, a caminho de seu jogo.
Pois a maior parte do livro é sobre Henry Perowne ele mesmo, sua mulher Rosalind e os filhos Theo e Daisy. Também é, mas um pouco menos, sobre John, o pai de Rosalind, Lily, a mãe de Henry e Baxter, o dono do outro veículo envolvido no acidente.
Ainda que haja muitas menções a salas de cirurgia, pessooal médico e pacientes, jihadistas, Iraque, islamismo, Tony Blair e Saddam Hussein, Sábado gira em torno da família de Henry Perowne e sua profissão médica. É sobre pessoas com seus talentos e problemas, pessoas que parece que conhecemos, que poderiam ser nossos parentes ou vizinhos - caso morássemos no mesmo elegante bairro londrino em que a família tem sua casa, logicamente.
Nos agradecimentos finais ficamos sabendo que Ian McEwan passou cerca de dois anos acompanhando o trabalho de um neurocirurgião londrino para poder escrever Sábado convincentemente. Portanto, há trechos que parecem extraídos de algum manual de sua especialidade médica.
Mas isso não torna o livro aborrecido; será aborrecido apenas para os leitores que preferem ação a reflexão (pouco da primeira, muitíssimo da segunda). Enorme parte do livro Henry passa pensando em sua vida, desde quando era pequeno até os dias de hoje (2003; o livro foi lançado na Inglaterra em 2005). E ele até mesmo pensa no futuro próximo, quando terá mais de cinquenta anos e poderá ser avô dos filhos de Daisy ou Theo.
Sou fã de McEwan e sempre me lembro de que apreciei intensamente Reparação e Na Praia e também gostei de Amsterdam, Solar e Amor Sem Fim. Quer dizer, já são seis livros dele lidos. E ainda tenho na fila, Serena. Que espero, seja tão ou mais interessante que este, sobre o qual o New York Times escreveu: "Um romance deslumbrante." Só tenho de concordar com seu crítico de literatura.
Lido entre 30/10 e 04/11/2014.