Leticia_gg 24/12/2017
DAS BOLHAS AOS VERSOS
Existem livros que são como buracos negros literários. Uma vez imerso neles, não há passagem de tempo ou leis físicas que se apliquem. Se dois corpos não ocupam o mesmo espaço, a literatura permite que dois espaços ocupem o mesmo corpo, quiçá a mesma mente: a do leitor. Existem livros que, não importa de que época você olhe, são atuais, porque não pertencem a uma só idade. Assim é O Poeta e o Cavaleiro.
Findomundo é uma pequena cidade pacífica e independente, na qual tudo é votado e aprovado pelo povo. Sendo um antro de concórdia, nada perturbava a paz da cidadezinha. Até que, certo fim de tarde, ouve-se um estrondo no alto do morro Corcovado e, junto ao som, uma enorme labareda de fogo é cuspida para os céus. É então que todos os findomundenses experienciam um sentimento até aquele momento desconhecido para eles: Pânico. Em meio ao caos, um cavaleiro de armadura e palavras imponentes invade o castelo de Findomundo, trazendo uma terrível notícia: o estrondo era, na verdade, um dragão. Tudo que se segue é guiado pelo medo dos habitantes. Todos parecem confiar cegamente no cavaleiro das ofensas infindáveis, todos parecem prontos a obedecer às suas ordens. Todos... Menos Simão, o Poeta.
O tempo é a Idade Média e o espaço chama-se Findomundo; mas, ainda que esteja mesmo nos confins do globo, quase tudo na pequena cidade remete-nos à nossa realidade. Eleições na Idade Média e Corcovado em Findomundo são apenas dois dos indicativos de que O Poeta e o Cavaleiro, na verdade, é não só um livro, mas uma constante metáfora. Findomundo é, ao mesmo tempo, uma cidade medieval, o Brasil e muitos outros lugares do globo terrestre. Talvez, quando lida por uma criança, a cidadezinha seja o protótipo de perfeição. Se ela crescer mais um pouco, talvez enxergue no cavaleiro desconhecido seu pior pesadelo. Na vida adulta, lutar contra os cavaleiros da realidade talvez seja sua bandeira.
Para que qualquer um dos “talvezes” torne-se real, é preciso, primeiro, que essa criança leia. É preciso que conheça a cidadezinha para que passe a habitá-la, ainda que apenas em sua mente. Um dia, quando sua mente infantil for capaz de desmetaforizar Findomundo e enxergar como, a um tempo, a cidade é dois (ou inúmeros) espaços, teremos uma nova consciência crítica. Alguém, que como Simão, pense e faça pensar.
Mas que não tarde. O mundo urge de novos Poetas.
(A RESENHA COMPLETA ENCONTRA-SE NO SITE)
site: https://grupocanetatinteiro.com.br/resenha-07-das-bolhas-aos-versos/