spoiler visualizarErich 13/04/2024
O nome do livro é referência ao livro que o personagem narrador João Valério, guarda-livros de Teixeira & Irmão, está escrevendo no seu tempo livre. As reflexões sobre o processo de escrita são bem interessantes, e me pergunto se foram colocadas ali representando dificuldades que o próprio Graciliano sentia no princípio, quando começava a produzir suas obras.
Acompanhamos uma pequena sociedade da cidade, pessoas do círculo diário de convívio do João Valério. Os capítulos curtos favorecem a leitura e vamos conhecendo rapidamente os membros dessa pequena sociedade. Ler este livro dá uma sensação de que paramos um tempo numa cidade pequena e ficamos a observar o ir e vir das pessoas, os boatos que aparecem, a evoluç��o do dia a dia. Todos os personagens são comuns, não temos nada grandioso ocorrendo, em nenhum sentido, e mesmo assim é uma obra muito boa.
Vejo o João Valério como um solteirão meio perdido, que se deixa um pouco ser levado pelo vento. Logo de inicio vemos ele imaginando uma vida futura com diferentes mulheres... Parece um carinha estranho que antes do primeiro encontro já está escolhendo o sabor do bolo de casamento e o nome dos filhos... Isso me fez vê-lo logo no início como um sonhador desconectado da realidade e sem chances reais de agir.
Com o avanço da obra vemos que ele tinha sim chances de conseguir alguma coisa. Mas ele simplesmente desiste de uma das oportunidades... E com respeito à outra vemos as ilusões dele sendo aos poucos perdidas... De fato como um sonhador que coloca uma pessoa no pedestal e que, ao acordar, percebe que os atributos quais imaginou de fato foram só imaginação mesmo.
Ao fim do livro, o personagem nos traz uma reflexão sobre "ser um caeté". Não concordo exatamente com a reflexão dele, mas vale muito. Principalmente os dois últimos parágrafos
"Descrente? Engano. [...] Ateu! Não é verdade [...]" (não transcrevo o restante)