tha_rbrandao 15/04/2024
Se pudesse, você voltaria atrás?
03 | the book lovers club - abril
Somos feitos de memórias tal como estrelas feitas de poeira, uma luz do passado reverberando em um presente que não existe, mas que qualifica sua existência. - Esse foi o pensamento que tive logo que comecei a entender esse livro.
Novamente, graças ao clubinho eu estou me aventurando com gêneros que até então eu nunca cheguei perto; sci-fi é um deles. Tive medo de não conseguir acompanhar o raciocínio lógico, porque confesso que definitivamente eu não sou uma pessoa de exatas, e falar de física para mim é o mesmo que me explicar a ciência por trás da magia de um feitiço, mas Crouch parece ter o dom de falar de assuntos complexos de uma maneira acessível. Foi uma enorme surpresa me pegar entendendo todos os conceitos de espaço-tempo abordados, o que claramente atribuo à escrita envolvente e muito cinematográfica desse livro. Em muitas partes eu consegui visualizar tudo tão bem que parecia que eu estava vendo um filme ao invés de um livro.
A parte da investigação policial eu achei um pouco chata, os dramas do Barry e da sua família não me pegaram muito. Até mesmo o personagem ficou meio sem sal sem açúcar para mim durante muito tempo, começando a me afeiçoar a ele somente aos 45 do segundo tempo. Na verdade, acredito que não me envolvi emocionalmente com ninguém em especial, e o que mais me tocou foram as reflexões que o livro provocou. Eu me senti triste não por eles em si, mas por coisas pessoais que a história deles me fizeram refletir. Muitas vezes tentei visualizar em minha mente, da maneira mais detalhada possível, lembranças antigas da minha vida e foi chocante perceber como as memórias se diluíram com o tempo, se tornam embasadas, abstratas e distantes?
?[?] e lhe ocorre que talvez haja um motivo para nossas lembranças serem armazenadas com um ar nebuloso e desfocado. Talvez a abstração que as reveste sirva como um anestésico, um amortecedor que nos protege da agonia do tempo e de tudo que ele rouba e apaga de nossa vida.?
E assim como Barry diz em determinado momento, faz nos perguntarmos se a vida não é uma eterna despedida daqueles que amamos, enquanto que nos iludimos com a sensação de controle sobre nossas vidas e a ideia de realidade concreta, ao passo que na verdade, vivemos pelo passado, só tendo uma breve miragem do futuro. E sem essas lembranças nas quais nos agarramos tanto, quem somos? O que resta?
Algo que gostei bastante também é como a gravidade da situação vai, gradativamente, escalonando ao nível global. É algo difícil de se fazer (dar a real sensação de perigo mundial), e muito desesperador de se ler. A cada instante eu pensava: não pode piorar mais. Daí vinha alguma coisa e provava o contrário, que sim, dá pra piorar e MUITO.
Houve momentos em que me irritei com as escolhas de alguns, mas tudo bem, faz parte da experiência. Achei a resolução um pouco confusa, mas nossa, a repetição que vinha acontecendo, onde a Helena tentava acertar as coisas, já estava me deixando agoniada então foi um alívio eles terem conseguido resolver os problemas, e não posso deixar de pensar que eu jamais teria tanta determinação igual a Helena teve! Eu simplesmente iria chutar o pau da barraca e aceitar que tudo vai explodir na minha cara mesmo.
Não acho que seja um livro perfeito (eu raramente acho), mas esse aqui me deixou tão nervosa e alarmada com as consequências que eu gostei muito, e vou reler com certeza!