Alane.Sthefany 23/02/2022
Recursão ? Blake Crouch
No livro, conhecemos Barry Sutton, um policial e investigador que perdeu a filha ainda adolescente e logo depois viu o seu casamento desmoronar; e Helena Smith, uma neurocientista que dedica toda a sua vida ao desenvolvimento de uma tecnologia para a cura do Alzheimer. Quando um dos homens mais ricos do mundo decide financiar o projeto de Helena, ela acredita que sua invenção irá salvar as pessoas que sofrem da doença ? inclusive a sua própria mãe. Mas o que acontece só poderia ser definido como caos.
O livro é contado por duas perspectivas, a de Barry e a da Helena.
Barry é um policial da cidade de Nova York, que ainda vive preso na terrível e trágica lembrança da morte de sua filha. O início se dá com ele sendo encarregado de uma emergência, para tentar salvar/impedir a Ann Voss Peters de uma tentativa de suicídio, operação responsável por ele se deparar com uma mulher que sofre com a Síndrome da Falsa Memória (SFM), uma doença misteriosa que vem atacando ultimamente as pessoas da cidade e que implanta na mente das pessoas que são acometidas por ela, lembranças de uma vida que elas nunca viveram.
Esse livro é incrível, não consigo expressar em palavras como eu me senti lendo-o. Perfeito !!!
Te deixa ansioso pelo que virá acontecer, como tudo terminará.
Amei ???
É aquele tipo de leitura que faz você fritar os neurônios com a suas teorias mirabolantes das quais o leitor faz no decorrer da história, pensando no que está acontecendo e no que acontecerá ao passo que vai lendo.
Depois dele, pretendo ler Matéria Escura, livro do mesmo autor. Só leiam !!!
Aproveitem os que adoram uma boa Ficção Científica. ??????
Super recomendo ??
?? Spoiler ??
.
. Trechos preferidos ????
.
Olha, eu já passei por isso. Já quis dar um fim a tudo. E aqui, na sua frente, posso dizer que hoje fico feliz por não ter feito isso. Por ter tido a força de enfrentar aquilo tudo. Esse momento difícil não é a história completa da sua vida, é apenas um capítulo.
[...]
Em breve mais um ano terá
acabado, e depois vai ser mais um avançando depressa, o tempo cada vez
mais veloz. A vida não é nada daquilo que ele esperava quando jovem,
vivendo sob a ilusão de que tinha o controle das coisas. Não podemos
controlar nada. Só aguentar o tranco.
[...]
É o momento mais solitário da madrugada, aquele que lhe é tão íntimo:
quando a cidade dorme, mas você não, e todos os remorsos da sua vida
assolam sua mente com uma intensidade insuportável.
[...]
Quando a era filha era pequena, tinha certeza de que havia um monstro no
baú ao pé de sua cama. Durante o dia, isso nem lhe passava pela cabeça, mas
bastava o sol se pôr e o pai sair do quarto depois de colocá-la para dormir
que ela o chamava de volta, toda vez. Ele voltava correndo, ajoelhava-se ao
lado da cama dela e lembrava à filha que tudo parece mais assustador à
noite. Que é coisa da nossa cabeça. Uma peça que a escuridão prega na
gente.
Agora lhe parece estranho que, décadas depois, com sua vida trilhando
um caminho tão distinto do que ele traçou para si, Barry se veja sozinho no
sofá de uma amiga, tentando aplacar os próprios medos com a mesma lógica
que usava com a mesma lógica que usava com a filha tanto tempo atrás.
Tudo vai parecer melhor pela manhã.
A esperança vai retornar com o raiar do dia.
O desespero é coisa da minha cabeça, uma peça que a escuridão prega.
[...]
? O que temos de mais precioso que as lembranças? ? pergunta ele. ?
Elas nos definem, formam nossa identidade.
[...]
Quero encontrar um meio de armazenar lembranças de
cérebros em processo de declínio, que já não podem mais acessá-las. Uma
cápsula do tempo para nossas memórias mais importantes.
[...]
Durante o colégio, e também na faculdade, foi encorajada
vezes sem-fim a encontrar sua paixão; a razão para se levantar da cama, para
continuar respirando. Em sua experiência, poucos são os que encontram
essa raison d?être.
O que os professores nunca lhe disseram foi sobre o lado ruim de
encontrar um propósito. A parte em que ele nos consome. Em que se torna
o pivô do fim de relacionamentos e da sua felicidade.
[...]
O tempo é uma ilusão construída pela memória humana. Não
existe passado, presente ou futuro. Tudo está acontecendo agora.
[...]
O ?agora? não passa de uma ilusão, um
efeito aleatório do modo como nosso cérebro processa a realidade.
[...]
(...) nossa percepção do tempo é tão falha
que não passa de uma ilusão. Todos os momentos são reais em igual
medida e todos estão acontecendo agora, mas nossa consciência, devido
à sua natureza, só nos dá acesso a um de cada vez. Pense na vida como
um livro. Cada página é um momento distinto, mas só conseguimos
apreender um momento, uma página de cada vez. Nossa percepção
limitada impede que tenhamos acesso a todos os outros. Impedia, até
agora.
[...]
Quando uma pessoa morre, ela apenas parece estar morta.
Mas continua bem viva no passado (?) Todos os momentos
? passado, presente e futuro ? sempre existiram, sempre
vão existir (?) É apenas ilusória a impressão que temos
aqui na Terra de que um momento se segue a outro, como
se fossem contas em um cordão, e, uma vez acabado o
momento, está para sempre acabado.
? KURT VONNEGUT, MATADOURO-CINCO
[...]
Você quer recomeçar sem mim?
? Não. Quero respirar o mesmo ar que você cada minuto de cada dia
da minha vida, não importa quantas linhas do tempo eu viva. Foi por
isso que eu o procurei. Mas essa cruz é minha, e sou eu quem deve
carregá-la.
[...]
Sua perspectiva muda
depois de incontáveis vidas.
[...]
É hora de admitir
nosso fracasso e deixar que o mundo se destrua, já que parece tão empenhado a fazer isso.
[...]
Uma verdade parece estar emergindo da
cacofonia de teorias e filosofias: ninguém tem a menor ideia do que
constitui a realidade. Santo Agostinho exprimiu perfeitamente isso, ainda
no século IV: ?O que é o tempo, então? Se ninguém me perguntar, eu sei;
mas, se explicar a alguém que me pergunte, não sei.?
[...]
Às vezes ele tem a sensação de
que algo já aconteceu e que está apenas vivendo lâminas incrementais,
momento a momento, sua consciência como a agulha nas ranhuras de
um disco já gravado: início, meio e fim.
Como se nossas escolhas ? nosso destino ? estivessem definidos desde nosso primeiro fôlego.
[...]
Barry sabe que, tecnicamente, quando olha para
determinado objeto, está olhando para o passado. Mesmo ao olhar para a
própria mão, a luz leva um nanossegundo (um bilionésimo de segundo)
para levar aquela imagem aos olhos.
[...]
De pé com o pai uma manhã no acesso para carros da casa deles em
Portland, os pássaros em silêncio, tudo quieto, o ar frio como a noite. A
expressão do pai enquanto assiste ao eclipse total é mais fascinante que o
eclipse em si. Quantas vezes testemunhamos nossos pais maravilhados?
[...]
A luz entrando por uma janela, e as sombras das folhas dançando na
parede acima do berço. É a lembrança que vinha procurando a vida inteira, e a força da gravidade da nostalgia
atrai sua consciência, porque isso não é apenas a lembrança
quintessencial de lar, é o momento mais perfeito e seguro ?antes de a
vida conter qualquer dor real.
Antes de fracassar.
Antes de perder pessoas que amava.
Antes de sentir o medo de que seus melhores dias já houvessem
passado.
Ele sente que poderia deixar sua consciência repousar nesta
lembrança como um velho numa cama quente e macia.
Viver este momento perfeito para sempre.
[...]
É isso o que você quer? Mergulhar numa espécie de natureza-morta da
memória porque se decepcionou com a vida?
Tantas vidas ele passou num estado de remorso perpétuo, voltando
obsessiva e destrutivamente a tempos melhores, a momentos que
desejava poder mudar? Durante a maior parte dessas vidas seu olhar se
manteve fixo no retrovisor.
Até Helena.
O pensamento vem quase como uma oração: Não quero mais olhar
para trás. Estou pronto para aceitar que a dor faz parte da existência.
Chega de tentar fugir, seja por nostalgia ou por uma cadeira da memória.
São a mesma merda.
Viver com um macete não é viver. Nossa existência não é algo a ser
arquitetado ou otimizado para evitar a dor.
É nisso que consiste ser humano: a beleza e a dor, pois uma não tem
significado sem a outra.
[...]
A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas
só pode ser vivida olhando-se para a frente.
? SØREN KIERKEGAARD
[...]
? Preciso lhe dizer uma coisa, Julia.
(...)
? Eu passei muito tempo com raiva de você.
? Eu sei ? diz ela.
? Achei que você tivesse me deixado por causa de Meghan.
? Talvez tenha sido. Não sei. Eu não conseguia continuar respirando
o mesmo ar que você naqueles dias sombrios.
? Eu acho que se nós dois pudéssemos voltar no tempo, mesmo se
pudéssemos de alguma forma impedir que ela morresse, você ainda teria
seguido seu caminho, e eu, o meu. Acho que nossa história não era para
ser para sempre. Talvez a perda de Meghan tenha abreviado nosso tempo
juntos, mas, mesmo se ela estivesse viva, ainda assim teríamos nos
divorciado.
? Você acha?
? Sim, e sinto muito por ter me apegado à raiva. Sinto muito por só
ver isso agora. Tivemos tantos momentos perfeitos, e por muito tempo
não consegui dar o devido valor a isso. Só conseguia olhar para trás com
arrependimento. O que eu queria lhe dizer é que eu não mudaria nada.
Fico feliz que você tenha entrado na minha vida. Fico feliz pelo tempo
que tivemos juntos. Fico feliz por Meghan, e porque ela veio de nós dois.
Ela não poderia ter vindo de outras pessoas. Eu não mudaria um único
segundo da nossa história.
Julia seca uma lágrima.
? Todos esses anos, eu pensei que você quisesse nunca ter me
conhecido. Achei que me culpasse por destruir sua vida.
? Eu estava de luto ? diz ele.
Ela aperta a mão dele.
? Sinto muito que não sejamos a pessoa certa um para o outro, Barry.
Você tem razão nisso, e sinto muito por todo o resto.
[...]
Barry faz seu pedido, e então se vê sentado
com sua cerveja, perguntando-se algo de disparar o coração: o que se diz
à mulher mais corajosa que já conheceu, com quem viveu meia dúzia de
vidas extraordinárias, com quem salvou o mundo, que salvou você de todos os modos concebíveis, mas que não faz ideia de sua existência?
.
.
.
Esse final, queria muito saber o que ele disse e as respostas das perguntas anteriores que ele fez para si mesmo antes de se virar para ela ???