Leonardo.H.Lopes 10/03/2024“Morangos Mofados” mofou eu entusiasmo com CaioSempre é mais agradável escrever sobre as coisas que gosto, mas de vez em quando encaro escrever sobre aquilo que não me agrada, e aqui está um exemplo disso: não gostei de "Morangos Mofados".
Comprei o exemplar da coletânea de contos de Caio Fernando Abreu já faz uns anos, quando soube que se tratava de um livro com vários textos que refletiam a homossexualidade, angústia, desassossego e inconstâncias humanas das mais profundas, temas que me interessam. Demorei muito para encarar a leitura, muito devido à oscilação de minhas vontades literárias. Neste ano, o coloquei na lista de livros com certo entusiasmo que, com a leitura, mofou.
Realmente, os contos retratam as facetas da angústia e inconstância humanas. Me incomodou o retrato de gays de forma estereotipada em muitas passagens: perdidos, bêbados, drogados, pervertidos sexuais e marginais; entretanto, entendo que, de certa forma, é um espelho da violência que acontece com quem, como eu, é homossexual e que, em outros períodos, era mais latente.
Mas nem de longe a coletânea deixa de ser boa por causa de seus temas, o problema está no tratamento literário dado aos temas. “Lolita”, por exemplo, possui como eixo central um tema que enoja, pesadíssimo, mas o tratamento dado pelo grande escritor Vladimir Nabokov faz com que esse livro seja imenso do ponto de vista literário, uma obra prima. Já as histórias de Morangos Mofados são contadas de um modo chato e seu autor, definitivamente, não domina a técnica do fluxo de consciência, empregado inúmeras vezes, deixando os pensamentos dos personagens soltos e, muitas vezes, sem nenhum tipo de concatenação, causando confusão e deixando a leitura extremamente enfadonha.
Passei de um conto a outro de modo automático, apenas ansiando por terminar o livro. Não dá vontade de prosseguir a leitura. O conto que realmente se destaca, único que gostei genuinamente, é “Aqueles dois” que, ao narrar o processo de apaixonamento entre dois homens, consegue ser claro em sua sutileza e objetividade, sem precisar recorrer à subjetividade confusa do fluxo de pensamentos. Esse conto me lembrou muito o conto “Uma Amizade Sincera”, de Clarice Lispector. Contudo, assim como uma andorinha voando sozinha não faz verão, apenas um conto bom não é suficiente para sustentar uma coleção de contos.