Bia 09/05/2024
Morangos & Mofados
Não basta ler, é necessário sentir.
Morangos Mofados é a obra mais famosa de Caio Fernando Abreu, e foi meu primeiro contato com o autor. O livro contém 18 contos, de assuntos diversos, mas todos explorando as emoções, o psicológico, o âmago do ser humano, e o ato do sentir.
Não há como categorizar esse livro como fácil ou de difícil leitura, tudo depende do quão sentimentalista e poético o leitor é. Há contos de fácil compreensão, assim como há outros que é necessário ter uma percepção completamente poética para compreender o que o autor quer dizer com o conto. Como eu disse no início, não basta ler para compreender, é necessário sentir o que está sendo apresentado. Eu, que particularmente não tenho muito domínio de poesia e sentimentalismo, levei tempo para processar alguns contos, e outros, tenho que confessar que nem sequer entendi (Ex: Os Companheiros; Eu, Tu, Ele; Pêra, Uva ou Maçã?).
O livro é dividido em duas partes: morangos e mofados, além de um último conto entitulado Morangos Mofados. A primeira parte são os mofados, que, como se pode presumir, são contos de caráter mais melancólicos, tristes e trágicos, como o mofo, que surge em meio a podridão. Meus contos preferidos dessa parte foram: Os Sobreviventes, que aborda a falta de esperança e perspectiva de futuro; e Além do Ponto, que mostra como é estar numa situação em que ocultamos para o outro sobre quem realmente somos, na tentativa de manter uma relação com determinada pessoa ou grupo.
A segunda parte são os morangos. Vale lembrar que o morango não é uma fruta completamente doce, há sempre um toque azedo nele, e assim são os contos dessa parte, apesar de serem contos mais "felizes", há sempre um ponto negativo ou algo de desagradável. Meus favoritos foram: Natureza Viva, que mostra a apreensão e o medo antecedente a se declarar para alguém; e Aqueles Dois, dois homens que se apaixonam de forma natural, pura, e genuína, sem sequer perceberem.
Todos os contos, por serem dubiamente líricos, geram diversas interpretações de cada um, a visão que eu tive de um conto, pode ser completamente diferente da sua. E é isso que torna a leitura extraordinária, a precisão e imprecisão ao mesmo tempo.
Caio Fernando Abreu foi grandioso e progressista ao escrever esse livro durante a ditadura militar. Ele era abertamente homossexual, e não se comediu em escrever sobre esse tema, assim como também sobre drogas e lascívias. Ele mostra a vida como ela realmente é, sentimentos como verdadeiramente são, sem censuras e inibições. Livro maravilhoso, que merece e deve ser lido!