Morangos mofados

Morangos mofados Caio Fernando Abreu




Resenhas - Morangos Mofados


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Arsenio Meira 03/07/2013

MORANGOS MOFADOS : CONTO E POESIA

Dividida em três partes, Morangos Mofados é, ao que me consta, a obra mais conhecida de Caio Fernando Abreu.

A primeira parte, intitulada O Mofo, narra a queda de valores, dos amores, a solidão, a fragilidade humana, a embriaguez, a rota solitária das drogas, o desespero, o desamor, a dor na forma mais fria e crua. A tessitura literária é precisa, quase cirúrgica; Caio vai nos apresentando uma série de personagens anônimos, que ao final se personifica em uma única pessoa: o autor? Ou, quem sabe, até mesmo qualquer um de nós.

O gosto acre da derrota, cheirando a mofo, a vômito, a vodca barata, cigarros e cinzeiros abarrotados. Uma melodia melancólica ao fundo. Chet Baker? Ou Billie Holiday? São tangíveis a escuridão e os desencontros. O gosto da solidão esculpida em delírios. A alma grita, encravada em labirintos tortuosos e escuros de forma magistral.

A sensação é idêntica à saída de uma montanha-russa.

Os Morangos. Aqui, uma brisa inesperadamente serena invade o som e os passos dos personagens. Como se a existência de um final feliz fosse possível e breve, ou como se a vida fosse menos pesada. O doce levemente ácido do morango fundindo na língua, mostrando um belo dia de sol após uma tempestade. Mas o doce dá espaço para a acidez, transformando pedaços de magias em mágoas e solidão.

Enquanto o dente fere o vermelho brilhoso do morango, na boca permanece o gosto azedo do preconceito, do medo, dos sonhos perdidos, das utopias transformadas em contas bancárias. O enjôo natural dos abusos. Dos delírios causados pelo excesso de tudo.

Histórias envolventes. Escrever para não sucumbir. Resistir. hippies sem destinos, loucos, comunistas, yupes desenfreados, compulsivos, sargentos, preconceitos, estupidez, falta de amor. Dos sonhos de uma geração apodrecendo na latrina comum. Das vidas apodrecendo em latrinas fétidas comuns. A paz tão perto e tão distante que os rápidos movimentos de nossos olhos não conseguem captar. Tampouco poderiam.

Morangos Mofados. A terceira parte. Leitura acompanhada pela lembrança da velha canção dos Beatles: Let me take you down/ cause Im going to Strawberry Fields/ Nothing is real/ and nothing to get hungabout/ Strawberry Fields forever.

Para ler e reler sempre que a saudade ou a dor falar mais alto. Os morangos mofados, como estrangeiro em sua terra natal, ou girassóis no inverno enfeitando os pastos da Rússia, ou uma Guerra Santa O cheiro e o gosto do mofo ultrapassam toda a simbologia poética do morango.

Caio construiu um universo paralelo, um refúgio, um abrigo, uma morada longe, mas dentro, do caos urbano. Uma espécie de esconderijo para se abrigar da chuva tóxica, ou dos desatinos do coração. Solitude. Solidão. Enquanto imagens explodem diante de nossos olhos cansados, ao fundo, o som dos Beatles vai levemente aumentando...

As palavras pinçadas por Caio nos estendem caminhos absortos. O livro nas mãos e o pensamento longe. Para alguns, perto. Ou em lugar algum. É justo que pensem, e cada um pensa o que quer, e cada um é diferente, e no entanto, somos todos irmanados pela mesma luz inaugural.

Há quem prefira ir embora com tudo, há quem seja transeunte e há quem compreenda.
Rafa P. 14/07/2014minha estante
Olá Arsenio
Bela resenha como sempre !
Eu nunca li nada de Caio de Abreu, e estou querendo me aventurar em sua narrativa. Vc indica este livro para para uma iniciante como eu? Ou sugere outro ?


Arsenio Meira 14/07/2014minha estante
Oi Rafa! Obrigado pela generosidade do seu comentário. Olha: o Caio é fenomenal. É triste, sombrio, poético, aqui e ali um humor como que para fugir da mesmice, enfim, Caio Fernando Abreu é um universo único. Indico-lhe este lindo livro de contos dele, que foi o livro que lhe deu esteio e reconhecimento literários, mas para uma alma atormentada e iluminada como a do Caio, não havia limite. Prosa que era poesia. À flor da pele. Vá em frente com os Morangos; você - torço e penso - vai gostar demais. Depois, já um pouco mais familiarizada com ele, embarque num livro chamado Triângulo das Águas, reunião de três novelas ou contos mais longos, belíssimo.


Gabriel1994 07/08/2017minha estante
Resenha perfeita.


Rebs 15/06/2021minha estante
Sua resenha foi uma poesia! Espero que o livro senha tão bom quanto sua escrita sobre o livro, me deixou com muita vontade de ler ?


Geovanne 02/07/2022minha estante
Amei sua resenha sobre o livro! Muito sensível.




Vania :) 29/04/2010

Identificação pessoal
Gostei, mas pareceu uma literatura pessoal demais... parecia que o cara tava sempre falando dele mesmo; mesmo assim, achei algumas reflexões fantásticas e até anotei e twittei sobre. hehe. Por exemplo essa frase:



"Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora o que faço?"



Me identifico MUITO, já tentei praticamente tudo que ele cita mesmo, hahaha, nada funcionou. A angústia inerente à condição humana permanece. E se é inerente... ok, conviverei com ela. Vem cá angústia, fofa, vou tentar te acalmar com esse café preto e esse livro.
Fred 24/11/2010minha estante
Coincidência (será?). Eu também twittei parte deste trecho. Eu amo os contos desse livro.


Tucha 28/02/2011minha estante
Adorei teu comentário hilário sobre a "ANGÚSTIA" uhahauahuhahaihaha
bjuss, vou te seguir!!! Ok!?




@_leandropaixao 03/08/2022

Complexo porém bonito!
É indiscutível o quanto Caio Fernando de Abreu escreve bem, uma escrita bastante robusta e refinada, mesmo não sendo um tipo de leitura que me apetece por se tratar de contos, eu gostei bastante.
É incrível como ele aborda temas como preconceito, abusos e maus-tratos nas entrelinhas. Precisei lê-lo com uma explicação de apoio de um vídeo do YouTube do Prof. Marcelo Nunes, como disse, pra mim é uma escrita mais complexa, essas explicações foram formidáveis para me ajudar a entender e discernir sobre os contos, fica a dica.
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k.mazzi 18/07/2023

Não é meu tipo de conto ou poesia. Com esforço, peguei uma crítica aqui e ali, mas no geral, uma leitura desagradável, na construção das cenas e personagens, a ponto de não me dar vontade de prestar atenção. Tive que ler forçando e até lendo "por cima" pra avançar e terminar logo.
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Luciano 06/01/2021

"Terça-feira gorda", "Sargento Garcia" e "Aqueles dois"
Tive dificuldades de me importar com boa parte das personagens (talvez pelo contexto de pequenos burgueses, não sei). Mas os poucos contos e personagens que me tocaram fizeram isso de uma maneira avassaladora. Só eles já valeram a leitura. A escrita também me agradou bastante. Cirúrgica!
Edmar Lima (@literalgia) 06/01/2021minha estante
Aqueles Dois é o meu preferido!


Luciano 06/01/2021minha estante
Fantástico!




Nathan 11/01/2010

Morangos Mofados
Esse livro é fantástico, porém aos novatos não é de muito agrado. Morangos Mofados reúne vários contos e todos contendo muitas metáforas. O livro é dividido em três partes: O MOFO, OS MORANGOS e MORANGOS MOFADOS. O MOFO: tras tudo aquilo que há de ruim, as personagens para se libertarem usam artifícios, ou até mesmo não conseguem o tal objetivo. OS MORANGOS: há uma libertação das personagens, o preconceito não é superado, porém há atitudes, posicionamentos por partem das personagens. MORANGOS MOFADOS: é um conto-título e é narrado em 3ª pessoa; mostra um homem cansado que sofre de tristeza, depois de se deparar com a náusea e o vômito ele observa a realidade que se impõe e vê com muita surpresa que há novos caminhos a seguir. Afinal de conta, os morangos são eternos. Caio Fernado Abreu é um homossexual e viveu no período da ditadura militar, esse livro tratará muito sobre tal assunto, sendo bem vigênte o preconceito de uma sociedade e a dificuldade de haver um entendimento, tanto é que o 1º conto se chama DIÁLOGO, porém é totalmente sem nexo. Não havia diálogo na sociedade em que vivia, mas será que vigora até hoje? Certamente que sim. O livro foi publicado depois da ditadura, ficando muitas vezes incompreendimento de uma sociedade, de jovens que não passaram pelo atual momento. Mas cabe a um olhar crítico e sem preconceitos de todos para entender a visão fantástica desse autor.
Alana 22/11/2011minha estante
para eu que sou novata, qual livro dele você indicaria?


Nathan 22/11/2011minha estante
Dele eu só li esse livro - Morangos Mofados - e gostei muito. Leia ele. Abraços.


Sandra Smith 31/01/2012minha estante
Alana, leia Para Sempre teu, da Carla Dipp. O máximo.


Ohana 30/04/2012minha estante
Este livro mudou completamente a minha forma de leitura, quando eu comecei ler morangos mofados achei meio sem anexo mais com o tempo fui percebendo as metáforas e fui tirando as minhas conclusões.
Uma delas é sobre o título deste livro MORANGOS MOFADOS, refleti e demorei um certo tempo para perceber que os MORANGOS são as pessoas e o MOFO
são as dores e angustias que elas sentem.







Débora P Pereir 20/01/2011

De longe, o meu escritor brasileiro preferido.
"- Você tem um cigarro?
- Estou tentando parar de fumar.
- Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
- Você tem uma coisa nas mãos agora.
- Eu?
- Eu."
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Evy 15/05/2012

Doce e Amargo
"No entanto (até no-entanto dizia agora) estava ali e era assim que se via. Era dentro disso que precisava mover-se sob o risco de. Não sobreviver, por exemplo - e queria? Enumerava frases como é-assim-que-as-coisas-são ou que-se-há-de-fazer-que-se-há-de-fazer ou apenas éofinal-que-importa. E a cada dia ampliava-se na boca aquele gosto de morangos mofando, verde doentio guardado no fundo escuro de alguma gaveta".

Porque é esse o sentimento que esse livro me trouxe. Junto com o gosto de morangos mofados na boca e aquela dor no alto do estômago do desconforto de ter que se mover do lugar comum, porque Caio F. é como Clarice, nos faz mergulhar fundo por dentro e é impossível ficar imóvel e irredutível às reflexões que suas palavras trazem.

Morangos Mofados tem essa coisa do doce e do amargo. Contos que de tão profundos e reais deixam um perfume no ar, um meio sorriso no rosto e aquela sensação de não saber se foi bom ou ruim, pra logo depois entender que foi maravilhoso. Sou muito fã de Caio, apesar de confessar que não é todo conto/carta que ele escreveu que me agrada, mas mesmo estes sempre trazem uma citação perfeita, um algo pra se guardar na memória.

Destaco deste livro, os contos "Pela passagem de uma grande dor", "Luz e Sombra", "Transformações", "Natureza Viva" e "Morangos Mofados" do qual tirei a citação que inicia essa resenha. Pobre resenha aliás, como todas as que tento escrever sobre os livros de Caio e Clarice. Ambos estão muito acima de minhas vãs palavras. Mas fica aí a minha impressão sobre essa leitura.

Recomendadíssima!
Léia Viana 15/05/2012minha estante
Caio e Clarice são escritores que conseguem nos tirar do lugar comum, conseguem nos perturbar, e revolucionar os nossos sentimentos.
É impossível lê-los e ficr indiferente.




Gabs. A 28/12/2021

Poesia com gosto de whisky, cigarros e um disco de Blues.
Caio Fernando Abreu, fazendo graça com as palavras, nos entrega uma experiência muito gratificante ao descrever as complexidades neuróticas cotidianas - tão familiares a todos nós, tão profundas de coração e corpo, com seus personagens quase sempre tão anônimos, um texto cru e bastante visceral.


Um livro para ser lido bem devagarinho, pra dar tempo de apreciar e talvez até se reencontrar em cada cantinho das histórias.
Joao 28/12/2021minha estante
Adorei a tua resenha. Tenho muita vontade de ler esse livro pois eu conheço pouco do autor.


Gabs. A 28/12/2021minha estante
João, fica aqui a minha super indicação, tenho certeza que não irá se arrepender ?




Catarina296 08/11/2023

Soco no estômago
A escrita visceral de Caio F. Abreu me encanta. É como se cada palavra usada pelo autor tocasse sua alma com a ponta de uma agulha, incomoda e você não sabe de onde vem o incômodo.
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samuca 24/08/2022

Um acontecimento
Primeiro contato com Caiu Fernando Abreu e de primeira já fui arrebatamento. A escrita dele vem das entranhas, profundo, profano. Um despejo de emoções.

O livro de contos, cada um com a sua grandiosidade e seus personagens e suas vidas, seus amores, medos e dores. Como uma crise existencial, uma busca por resposta, um despir de si para suportar a vida se em algumas das histórias estão completamente devastadas.

Esse livro é como uma convite para adentrar nessas intimidades, mergulhar nas vidas ao longo da leitura.
Me vi em vidas que fui convidado a viver, experimentar do mel e do fel da
( r )existência humana.

Um livro que não passa despercebido, deixa rasto na mente.
DANILÃO1505 26/08/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!




Maraysa 26/06/2010

Sobre o Amor, nas suas mais diversas formas
Morangos Mofados é um livro que me fez chorar. A descrição do Caio foi perfeita, os sentimentos transmitidos me trouxeram uma melancolia que eu nem sabia que existia em mim. Gosto da maneira como ele alfineta os preconceituosos, de como ele consegue ser tão original nas suas construções. São contos/crônicas que ficarão guardados na memória para jamais serem esquecidos. Lindo mesmo.
Júlia 18/06/2011minha estante
Concordo com a tua visão, amor é o assunto que ele trata com maestria em morangos mofados.




Ângela Bittencourt Cardoso 10/08/2020

Strawberry fields forever
A maneira como Caio faz críticas em seus contos é admirável. Esse livro se divide em três partes: o mofo (que aborda o uso de drogas como um modo de fuga, a solidão, amores perdidos), os morangos (com o excesso, as paixões, o preconceito) e, por fim, morangos mofados (A epígrafe tem versos de Strawberry fields forever e a história é sobre a personagem que cisma que tem uma doença, mas apenas o que sente é um gosto de morangos mofados que persiste na boca). Eu já havia lido outro livro dele, mas esse me agradou ainda mais. Para felicidade do leitor, a obra termina com uma carta dele explicando como faz suas criações.
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Eduardo 16/10/2022

Um nó no peito
Quão difícil, doloroso e libertador é entender e ser o que se é quando se está num mundo que não foi feito para você? Essa pergunta eu acho crucial para tentarmos entender a escrita caótica e visceral de Caio Fernando Abreu em Morangos Mofados.

Na obra, há 18 contos divididos em duas partes: o mofo e morangos. Senti neles um autor que busca por pra fora toda angústia que sente. A dor, o medo, a solidão, a violência e o prazer são marcas presentes em todos os contos. Cada um ditando o seu próprio estilo. E eles possuem um tom quase biográfico, pois o autor era homossexual e escreveu as histórias durante a ditadura militar. Período marcado pela repressão a todas as manifestações contrárias ao governo, incluindo a de não pertencer ao estilo heteronormativo.

Caio faz inúmeras referências tanto literárias quanto musicais (para cada conto recomenda-se uma música). Fã de Clarice Lispector, a sua escrita é complexa e densa. Percebe-se que tudo deve ser contado a ter a última gota e de uma vez só, sem nada de deixar resto dentro de si ou para depois. Um gozo profundo e sem mais arrependimentos.
Entre romances frustrados, desejos não realizados, violência simbólica e física a homossexuais, vemos uma visão de um autor que escreveu tudo que sentia para não implodir.

Ler os contos talvez não seja uma tarefa das mais fáceis, talvez tenha de se reler outras vezes para compreender melhor, pode até ser que o autor desejou ser assim, mas a experiência ao se fazer é sensorial e única. Coloque na sua lista, caso não tenha lido ainda.
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